16/04/2017

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ESTA SEMANA NO 
"DINHEIRO VIVO"

Ecoslops. 
Transformar resíduos em lucro,
 de Portugal para o mundo

A empresa portuguesa, que opera no porto de Sines, é a única no mundo que recicla os resíduos produzidos pelos navios.

Todos os anos, a atividade das transportadoras marítimas produz 100 milhões de toneladas de resíduos petrolíferos – os slops. A recolha destes resíduos nos portos é obrigatória por lei e há várias empresas encarregues de o fazer. O tratamento a que os slops são habitualmente submetidos pode ser explicado de forma simples. 
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A água é separada do óleo, tratada e devolvida ao mar. O que resta é vendido, a um preço baixo, a empresas com elevado consumo energético, como as cimenteiras ou as siderurgias, para incineração. 

É aqui que a Ecoslops se distingue: é a única empresa do mundo que recicla os resíduos oleosos e os transforma em novos produtos. Opera no porto de Sines. O Dinheiro Vivo visitou a minirrefinaria da Ecoslops para perceber como se transformam e rentabilizam os resíduos produzidos pelos navios, uma ideia que nasceu em França, mas que ganhou vida em Portugal, pela mão de portugueses.

Quando um navio atraca no Terminal de Granéis Líquidos do porto de Sines, os slops seguem por condutas até à minirrefinaria. Os que são recolhidos nos restantes terminais têm o mesmo destino, mas seguem por camião. 
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Além destes, a Ecoslops importa resíduos. Das 65 mil toneladas de slops que a empresa tratou desde em 2015, quando iniciou a atividade, 60% foram importados, explicou Pedro Simões, diretor-geral da Ecoslops Portugal. E como se reciclam os resíduos? 
Numa primeira fase, são desidratados. “A água é depois tratada e devolvida ao oceano através de uma estação de tratamento de águas residuais integrada na nossa unidade industrial”, contou Pedro Simões. 
Depois, a matéria-prima recuperada é processada na torre de destilação em vácuo, com vários níveis e diferentes temperaturas, num processo que permite obter quatro produtos que podem ser utilizados em diferentes indústrias: betume, fuelóleo, gasóleo pesado e um combustível ligeiro semelhante a gasolina, utilizado internamente como fonte de energia para o processo produtivo. 

Os combustíveis e o betume produzidos pela Ecoslops, que têm o estatuto de produto e não de resíduo reciclado, são depois vendidos a preços mais elevados do que seriam sem a transformação e permitem à Ecoslops triplicar a margem de lucro, quando comparada com a das outras empresas de tratamento. 

Entre os seus clientes contam-se empresas como a Soprema, que compra a totalidade do betume produzido, EDP, Galp e a ETSA. A produção reduzida não permite competir com as grandes petroquímicas, pelo que o objetivo estratégico da Ecoslops passa por “desenvolver contratos de fornecimento de médio a longo prazo com parceiros fiáveis”. 

O conceito que deu origem à minirrefinaria foi desenvolvido pelo francês Michel Pingeot. “A empresa-mãe é francesa, mas a mão-de-obra a operar no porto de Sines é portuguesa”, explicou Pedro Simões. 
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A Ecoslops fixou-se em Sines porque a administração do porto foi a que se mostrou mais recetiva a acolher o projeto e a criar as condições necessárias. Hoje, a Ecoslops emprega entre 40 e 50 funcionários, todos portugueses da zona de Sines. Há especialistas em petroquímicos, técnicos de laboratório e técnicos de segurança. 

A mão-de-obra é altamente qualificada e vem das áreas da engenharia de processo, engenharia do ambiente e segurança, mecatrónica e gestão. O volume de faturação da empresa ultrapassou os quatro milhões de euros em 2016 e, para este ano, o objetivo é atingir os sete milhões. “Tudo leva a crer que esse valor está ao nosso alcance”, afiançou Pedro Simões, apoiando-se no “esforço de consolidação do mercado”, assente na “competitiva relação qualidade-preço dos combustíveis da Ecoslops e à superior qualidade do betume que fabricamos”. 

A Ecoslops detém os direitos da tecnologia implementada no porto de Sines e a intenção “é replicá-la em outros portos marítimos no mundo”. Este trabalho já está, aliás, em curso. Foi assinado um memorando de entendimento com a francesa Total para estabelecer uma unidade de tratamento em Marselha. Este é o projeto mais avançado e deverá representar um investimento de 12 milhões de euros. 

* Isto é empreendedorismo a valer.

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