25/02/2017

CRISTINA AZEVEDO

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Picante Malcriado

É o nome da empresa que Joana e mais três amigos criaram em Vila Real. Produz e comercializa picantes naturais que registam sinais de franca aceitação por parte de distribuidores e chefs nacionais. Foi já distinguida com dois prémios enquanto "projeto inovador". 

Como "Uma chapada na cara" - o efeito anunciado dos picantes à mesa - o discurso desta jovem empresária acordou a assembleia que em Vila Real, esta segunda-feira se reuniu para discutir o problema do interior genericamente apelidado de "despovoamento".

Joana disse tudo com a voz fresca de quem ainda tem a certeza de que podemos fazer coisas boas e novas, apesar do interior e dos políticos:
1. Os governantes escusam de pedir investimento de fora enquanto não conhecerem o que está à porta a querer entrar.
2. As empresas, estejam aonde estiverem, têm de comunicar. Ora em Vila Real, segundo Joana, por cada mil euros uma empresa investe 65 cêntimos, no Porto 1,75 e em Lisboa 4 euros. Ou seja, não há milagres.
3. Por último quem tem centralmente ou regionalmente a responsabilidade de promover o território, ajudando assim a projetar o que de bom lá se faz, tem de ter consciência do que realmente é esse território. E deu como exemplo o genérico que promovia aquele "Prós e contras": "Idosos e gado não são tudo o que há por cá. Quando é que se lembram que também há gente nova e que a par da agricultura tradicional por aqui se faz agroindústria moderna e rentável?".

Do lado dos participantes convidados, só lhe encontrei igual no moderador, que imprimiu um excelente ritmo ao programa, e no presidente da Câmara da Guarda.

Álvaro Amaro tentou desencadear uma discussão em cima de questões concretas. Propôs numerus clausus que discriminassem positivamente as escolas superiores do interior, uma política fiscal verdadeiramente ousada, ou seja, 0% de IRC durante um período para quem se quisesse instalar de novo nestas zonas "de baixa densidade e alto potencial", como gosta de lhes chamar e ainda uma análise cuidada da implantação da administração do estado no território.

Esta lucidez de quem, do lado público, percebe a urgência em atacar o problema e, sobretudo, em encontrar a ponta do novelo por onde começar é imperiosa sob pena de o peso ser demasiado para todos os jovens empresários que tentam fazer o seu trabalho fora do Porto e de Lisboa.
Nem à força de malaguetas!

*ANALISTA FINANCEIRA

IN "JORNAL DE NOTÍCIAS"
23/02/17

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