HOJE NO
"DIÁRIO DE NOTÍCIAS"
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40% das escolas de áreas carenciadas têm mais sucesso do que a média nacional
Em dez anos,
os alunos nas escolas TEIP quase quadruplicaram, mas resultados
melhoraram muito ao nível do abandono e das retenções
Perto
de 40% dos alunos integrados em territórios educativos de intervenção
prioritária (TEIP), onde estão algumas das escolas mais desfavorecidas
do país, já registam taxas de retenção e desistência abaixo das médias
nacionais. Numa década, de acordo com dados pedidos pelo DN ao
Ministério da Educação, o número de alunos abrangidos por estes
agrupamentos (que já são 137) quase quadruplicou, de 46 401 (2007-2008)
para 177 232 no presente ano letivo. Sinais positivos discutidos num
seminário internacional que terminou ontem em Lisboa, mas em que se
escondem também algumas assimetrias, quer entre regiões do país quer nos
ciclos de escolaridade.
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Criado em 1996
como experiência pedagógica no governo de António Guterres, o programa
TEIP nasceu numa lógica de discriminação positiva, tentando, através de
reforços dos meios (nomeadamente técnicos e humanos) e da autonomia
criar condições de sucesso para crianças oriundas de meios
socioeconómicos mais desfavorecidos. Durante cerca de uma década o
programa pouco evoluiu, registando 35 agrupamentos envolvidos até
2007-2008. Mas a partir de 2009-10, entre as passagens de Maria de
Lurdes Rodrigues e Isabel Alçada pelo Ministério da Educação, deu um
salto significativo, para os 105 agrupamentos. Em 2012-13 estabilizou em
137, número que se mantém até agora.
A
evolução dos resultados dos TEIP é significativa, tendo em conta que os
agrupamentos selecionados para integrar o programa tinham registos de
insucesso e abandono muito superiores às médias nacionais e 48% dos
alunos que os integram são carenciados e beneficiam de apoios da ação
social escolar (ASE), por comparação com a média nacional de 36,98%. Em
2015-16, de acordo com os dados da Direção-Geral da Educação, enviados
ao DN, 42, 7% das escolas TEIP (56) tiveram taxas de retenção e
desistência abaixo do valor nacional no 1.º ciclo. No 2.º ciclo, a
percentagem foi de 40,5% (53), no 3.º ciclo de 38,7% (53), no básico
regular - o secundário fora das áreas de científico-humanísticas - de
38% (52) e no secundário de científico-humanísticas de 32,7% (16).
Números que - apesar de revelarem que os níveis de sucesso tendem a
decair à medida que os percursos escolares se vão tornando mais
exigentes - indicam que em termos gerais cerca de 40% destes alunos
alcançam níveis melhores do que as médias do país. Também um sinal
animador, apesar de algumas flutuações, nomeadamente em 2014, é a
evolução destes indicadores dentro do universo das TEIP. Em 2015-16, a
grande maioria das escolas TEIP conseguiram baixar a retenção e o
abandono em relação ao ano letivo anterior. A percentagem das que o
conseguiram foi de 81,8% no básico regular, 77,1% no 2.º ciclo, 73,3% no
1.º ciclo e 65% no 3.º ciclo. Apenas no secundário das áreas
científico-humanísticas (49%) as prestações foram mais fracas do que no
ano anterior.
Menos positivas são as
disparidades entre regiões. As escolas TEIP do Norte e do Centro do país
têm desempenhos médios claramente melhores do que as do resto do país.
De resto, em vários ciclos de escolaridade conseguem mesmo superar as
médias nacionais. Por oposição, Lisboa e Vale do Tejo, Alentejo e
Algarve continuam bastante distantes quer das médias nacionais quer das
restantes escolas TEIP. Dados que, apesar de em entrevista ao DN o
secretário de Estado João Costa dizer que têm sobretudo que ver com
questões de "liderança" das escolas, demonstram um país a duas
velocidades no que respeita ao sucesso destas iniciativas.
Ex-ministros divididos
O
DN falou com dois ex-ministros da Educação sobre o TEIP e as análises
não foram totalmente coincidentes. Para Isabel Alçada, que esteve ligada
à expansão de 2009-10, não há dúvidas de que o programa "tem feito
diferença" na luta pelo sucesso escolar. "Os agrupamentos TEIP têm
possibilidade de trabalhar com muito mais autonomia, têm mais recursos e
sobretudo cria-se uma cultura interna em que o corpo docente está a
reforçar a visão de que todos contam. Todas as crianças que ali estão
têm de ser acompanhadas para irem mais longe, para levarem ao máximo as
suas potencialidades." A ex-ministra lembra que além do sucesso
educativo há estudos que apontam para melhorias "significativas em
termos disciplinares, o que também é importante para os alunos e para as
próprias escolas".
David Justino,
ex-ministro e atual presidente do Conselho Nacional de Educação, é mais
cauteloso na análise dos progressos registados: "A medição de sucesso
dos TEIP é ainda objeto de alguma confusão, porque na verdade há escolas
que têm conseguido ter resultados melhores mas há escolas que, sendo
TEIP já há muitos anos, não conseguem sair de lá", diz ao DN. Para
Justino, "o problema é saber até que ponto este diferencial potencia ou
não o sucesso escolar, ou se apenas confina a determinadas áreas o
insucesso".
Para o presidente do CNE, o
problema não está em garantir apoios para as escolas mas na
categorização destas, que considera poder ter efeitos negativos. Isabel
Alçada não subscreve a ideia de que algumas TEIP sejam vítimas da
própria imagem, atribuindo as diferenças de resultados às realidades
concretas dos agrupamentos abrangidos.
* Portugal precisa cada vez mais de crianças mais instruídas e de pais mais educados e interessados nos filhos.
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