HOJE NO
"OBSERVADOR"
Autoridades palestinianas exigem
pedido de desculpa a Guterres
O secretário-geral da ONU provocou um incidente diplomático ao dizer que na origem do Monte do Templo esteve um templo judeu, o que é rigorosamente verdade, pois era aí que se erguia Templo de Salomão
António Guterres está no centro de um grave incidente diplomático que
fez as autoridades palestinianas virem a público exigir um pedido de
desculpas ao secretário-geral das Nações Unidas. E isto porque Guterres
fez uma declaração considerada muito polémica pelos palestinianos, ao
considerar que o Monte do Templo ou Nobre Santuário — um dos locais
religiosos mais disputados em Jerusalém — tem na sua origem um templo
judeu. E assim é: aí se ergueu o Templo de Salomão e é aí que se situa o
Muro das Lamentações, o segundo local religioso mais reverenciado pelos
judeus pois trata-se de uma parede que é único vestígio que resta do
antigo Templo de Herodes, erguido no mesmo local do primitivo Templo de
Salomão, que foi destruído pelos babilónios.
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Para o ministro para os Assuntos de Jerusalém, da Autoridade Palestiniana, Guterres “negligenciou as resoluções da UNESCO,
que dizem claramente que a Mesquita Al-Aqsa é uma herança islâmica”.
Citado pela agência noticiosa chinesa, Xinhua, Adnan al-Husseini disse
mesmo que as declarações de Guterres representam “uma violação para todas as regras humanas, diplomáticas e legais e uma violação da sua posição como secretário-geral” da ONU. A Autoridade Palestiniana exige, assim, que Guterres peça desculpa pelo que disse.
E um conselheiro do presidente da Palestina Mahamoud Abbas veio acrescentar, através de um comunicado escrito, que as declarações de Guterres são um “golpe para a credibilidade da Nações Unidas como uma organização global que devia manter-se ao lado dos povos ocupados e contra o poder da ocupação”.
Parece que o novo secretário-geral das Nações Unidas tem falta de confiança e não compreende a sua posição”, diz ainda Majdalani, conselheiro de Abbas.
As declarações a que se referem estes altos
representantes da Autoridade Palestiniana foram feitas em dois momentos
diferentes. As primeiras, durante uma cerimónia em memória das vítimas
do Holocausto, na sexta-feira passada nas Nações Unidas, em que António
Guterres (pode ver no vídeo em baixo ao minuto 2:20 ou ler no discurso
integral disponível no site das Nações Unidas) diz que “o Império Romano não só destruiu o templo em Jerusalém como fez judeus párias em muitos sentidos”.
A referência às origens do templo foram agravadas, aos olhos palestinianos, posteriormente, quando Guterres deu uma entrevista à rádio pública de Israel,
e disse ser “claro que o Templo, que foi destruído pelos Romanos, era
um templo judeu”. E ainda acrescentou que “ninguém pode negar o fato de
Jerusalém ser, hoje em dia, uma cidade sagrada para três religiões”. O
secretário-geral das Nações Unidas referia-se ao judaísmo, ao
cristianismo e ao islamismo.
O Monte do Templo ou Nobre Santuário
é um local considerado sagrado por judeus e muçulmanos. Os primeiros
reclamam ter acontecido naquele local o episódio relatado na Bíblia,
conhecido por sacrifício de Isaac, e o local onde
Salomão ergueu o seu templo. Os segundos situam ali uma das mais antigas
mesquitas do mundo, bem como o momento da ascensão de Maomé
ao paraíso e consideram-no o 3º lugar mais sagrado do islamismo. Ao
referir apenas a sua história judaica, ainda que numa cerimónia
específica em memória do Holocausto, Guterres tocou no nervo de um conflito secular.
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Em outubro passado o conselho executivo da UNESCO
(a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a
Cultura) aprovou uma resolução altamente controversa que foi descrita
pela imprensa internacional como um corte dos laços judeus com o Monte do Templo, referindo-se sempre ao local pela terminologia em árabe (mesquita Al-Aqsa e Al-Haram Al-Sharif). O texto falava numa “Palestina ocupada”
e defendia a salvaguarda da “herança cultural palestiniana e o caráter
distintivo de Jerusalém Oriental”, isto para de alguma forma condenarem as restrições que as autoridades israelitas estavam a impor no acesso às mesquitas por parte de muçulmanos.
Apenas
seis países (EUA, Reino Unido, Holanda, Lituânia, Alemanha e Estônia)
votaram contra a resolução, que foi aprovada com 24 votos favoráveis e
mais quatro abstenções. Essa resolução foi muito mal recebida por
Israel, que era referido no textos como o “poder ocupante”, e o ministro
da Educação israelita, Naftali Bennett, chegou mesmo a acusar a UNESCO,
numa carta dirigida à sua diretora-geral Irina Bokova, de dar “apoio ao
terrorismo islâmico”.
O caso levou à suspensão da cooperação de Israel
com a instituição. O então secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon teve
mesmo de vir publicamente deitar água na fervura, bem como Bokova, e
ambos no sentido de considerar a importância do local sagrados para as
três religiões monoteístas, judeus, cristãos e muçulmanos.
* Guerra ou questiúncula com pedigree têm sempre origem no ópio dos povos, as religiões.
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