Editorial do b.i:
O problema é dos taxistas
ou de todos nós?
“As leis são como as meninas virgens, são para ser violadas”, ouviu-se da boca de Jorge Máximo, um dos taxistas que participou na manifestação desta semana. Não sei se quem disse isto estava embriagado, drogado, alterado de alguma forma. Mas sei, ou acredito, que nenhuma substância leva alguém a dizer aquilo que não pensa.
O que faz, isso sim, é retirar o filtro e permitir que venha ao de
cima o mais obscuro dos pensamentos. E também acredito que não há
indignação nenhuma que torne aceitável determinado tipo de declarações. É
certo que, dias mais tarde, o mesmo Jorge Máximo veio pedir desculpa e
esclarecer que aquilo que queria dizer era precisamente o contrário. Ou
seja, que “as leis são como as meninas virgens, não devem ser violadas”.
Acredite-se ou não nas desculpas, a primeira frase, essa, já não se
podia apagar. E faz-me pensar se o que está por detrás de declarações
deste género não é, na verdade, uma forma de estar e de pensar que
infelizmente continua a prevalecer. Formas de estar e de pensar que, nos
últimos anos, ganharam tempo de antena e palco através das redes
sociais e da abertura dos meios de comunicação aos fóruns populares.
Agora, qualquer cobarde e/ou inconsciente parece sentir-se autorizado
a dizer a anormalidade que lhe ocorrer, no momento em que ela lhe
ocorre. Sem filtro. E isto permitiu-nos ter um retrato assustadoramente
real da nossa sociedade. Não, as pessoas não têm momentos de loucura
passageira quando dizem barbaridades como a que Jorge Máximo disse.
Ou outras, como as que ouvi e li há cerca de um ano, quando fui
apelidada de “prostituta ressabiada” por ironizar acerca do uso de
babygrows por mulheres adultas, ou, mais recentemente, quando fui
acusada de trabalhar no Elefante Branco na sequência de um texto sobre
Ronaldo e a seleção nacional de futebol. Isto não são momentos de
loucura. São, isso sim, momentos reveladores, em que percebemos o que
muita gente ainda pensa. Curiosamente, estes pensamentos parecem só ter
um sentido.
IN "SOL"
17/10/16
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