13/09/2016

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HOJE NO
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Goldman Sachs. 
O banco que manda no mundo 
e o banqueiro que faz o trabalho de Deus

Considerado o maior banco de investimento do mundo, é acusado de ser um dos responsáveis pela crise do subprime nos EUA e pela crise das dívidas soberanas na Europa


Poder, influência e também muitas polémicas à mistura: este parece ser o ADN do Goldman Sachs, um dos gigantes de Wall Street, sendo considerado o maior banco de investimento do mundo. E há mesmo quem diga que “não são os governos que mandam no mundo, é o Goldman Sachs”, como foi o caso do conhecido corretor bolsista Alessio Rastani. Outros acusam-no de ser um dos responsáveis pela crise do subprime no mercado norte-americano e pela crise das dívidas soberanas na Europa.
 
Mas os números falam por si. Só no ano passado lucrou 5,6 mil milhões de dólares (cerca de cinco mil milhões de euros), ou seja, um valor mais alto do que o produto interno bruto (PIB) de alguns países de África. Estes resultados contribuíram para aumentar o bónus salarial de Lloyd Blankfein, o CEO do grupo, para quase 30 milhões de dólares (27 milhões de euros). Ainda assim, apresentou um decréscimo no negócio devido ao pagamento de multas depois de um acordo com as autoridades norte-americanas, num litígio que se arrastava desde o eclodir da crise imobiliária no país, em 2008.
O banco foi posto em causa pela venda, entre 2005 e 2007, de uma carteira de empréstimos financeiros para aquisição de habitação que provocaram perdas aos compradores e contribuíram para a crise do subprime.

Já no segundo semestre deste ano, o lucro do Goldman Sachs aumentou 74% para 1,82 mil milhões de dólares (1,6 mil milhões de euros), face a igual trimestre do ano anterior. A subida do resultado líquido entre abril e junho ficou a dever-se ao aumento das receitas de corretagem de ativos com retorno fixo e à queda dos custos judiciais, justificou o banco de investimentos norte-americano.
A provisão para fazer face a eventuais litígios judiciais, no montante de 1,45 mil milhões de dólares, deixou de ser contabilizada nas contas do segundo trimestre, uma vez que é considerada um encargo extraordinário.

Apesar das acusações de que é alvo, o CEO do grupo, Lloyd Blankfein, continua a defender o papel dos grandes bancos. “Somos muito importantes. Ajudamos as empresas a crescer, ajudando-as a obter capital. Estas empresas crescem e criam riqueza. Isto, por sua vez, permite que as pessoas tenham empregos, que criam mais crescimento e mais riqueza. Temos um propósito social”, disse, na mesma entrevista em que assumiu que os banqueiros apenas fazem o “trabalho de Deus”.

Crise europeia 
Além do envolvimento na crise financeira global de há quase dez anos, o Goldman teve um papel determinante no começo da crise da Zona Euro a partir de 2010.

O envolvimento foi explicado pelo próprio ex-secretário de Estado do Trabalho americano Robert Reich, num artigo da “Nation”: “Em 2001, a Grécia buscava maneiras de mascarar os seus crescentes problemas financeiros. 
 
O Tratado de Maastricht exigia que todos os membros da zona do euro mostrassem melhorias nas suas contas públicas, mas a Grécia ia na direção oposta. Então, o Goldman Sachs veio em seu socorro, oferecendo um empréstimo secreto de 2,8 biliões de euros, disfarçado de swap cambial não contabilizado - uma operação complicada em que a dívida da Grécia em moeda estrangeira foi convertida em obrigações em moeda local, utilizando uma taxa de câmbio fictícia. Como resultado, cerca de 2% da dívida da Grécia desapareceram magicamente das contas nacionais.”

A ocultação de dívida com produtos financeiros complexos do Goldman continuou até 2009 e, quando se descobriu o buraco monumental nas contas gregas, os mercados entraram em queda livre.
Em 2010, o “New York Times” denunciava estas práticas com um artigo em que referia que este tipo de instrumentos financeiros desenvolvidos por bancos como o Goldman ou o JPMorgan permitiram a governos europeus (caso da Grécia, mas também de Itália) ocultar empréstimos adicionais que faziam. Estas mesmas práticas tinham levado à crise do subprime nos Estados Unidos.

Atualmente, este tipo de operações já não são permitidas, mas o Goldman Sachs continua a fazer uma boa parte dos seus negócios com os Estados e as respetivas dívidas. Só neste ano, o banco já comprou mais de mil milhões de euros em dívida pública portuguesa.

O presidente do BCE não escapou a esta polémica. Tal como muitos outros dirigentes europeus, Mario Draghi passou pelo Goldman Sachs e o envolvimento no caso de ocultação grega foi questionado no Parlamento Europeu. Draghi negou e nunca foram indicadas provas de que havia feito algo errado. “Não tive nada a ver com estes negócios, nem antes, nem depois”, disse quando questionado pelos eurodeputados.

“O Goldman Sachs e os outros bancos gigantes de Wall Street são extremamente hábeis para vender operações complexas, exagerando os seus lucros e minimizando os custos e riscos. É assim que abocanham taxas gigantescas. Quando um cliente tem problemas - seja ele um investidor americano, uma cidade dos EUA ou a Grécia -, o Goldman esquiva-se e esconde-se por trás de formalidades legais e dos interesses dos acionistas”, escreve Reich.

* O paraíso onde Durão Barroso poisou.

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