Já mentiu hoje?
Esta semana vi um documentário sobre a desonestidade e a mentira -- (Dis)Honesty: The Truth About Lies.
No arranque veem-se vários mentirosos –
palavra rude, mas adequada – a explicar, numa simples ideia, o que os
levou a mentir.
Um convenceu-se que não estava a prejudicar ninguém, outro alegou estar
firmemente convicto de estar a fazer o melhor pelas suas filhas, outro
fê-lo porque toda a gente à sua volta o fazia, outro, ainda, acreditava
que não estava a cometer nenhuma ilegalidade.
Falavam de mentiras graves, que ameaçaram
casamentos e levaram pessoas para a cadeia. Antes, claro, nenhum deles
pensou vir a ser apanhado.
Dan Ariely, um professor de economia comportamental da Universidade de
Duke, onde fundou o Centro de Retrospetiva Avançada, ele e a sua equipa
dedicam-se a testar e analisar as nossas decisões, a estudar a
racionalidade e a irracionalidade.
Ou seja, tentam compreender o comportamento humano.
O mundo da
insondável economia comportamental, que, ao contrário da economia dita
normal, não assume que somos todos decisores perfeitos, nem que antes de
decidir comparamos, sem limitações, as opções existentes. D
e forma muito direta, o que este professor tem concluído é que, em
geral, somos míopes, maus, irracionais e desonestos.
De facto,
assistimos, todos os dias, a embustes, da política ao desporto, passando
pela alta finança. Mas não é preciso chegar a tanto. Pense um pouco,
quantas mentiras já disse desde o início do ano?
Esta sexta-feira, ficámos a saber pela Conta Geral do Estado, que o
Estado deixou de receber, no ano passado, 136,5 milhões de euros em
impostos, neste caso, por prescrição das dívidas fiscais. É óbvio que a
clara maioria destes milhões acabou por esvair-se porque ainda existe
muita gente que não paga os seus impostos, e com a complacência do
vizinho.
Pagar o arranjo do carro “por fora” para fugir ao IVA é uma mentira
pequena, orquestrar uma fraude numa empresa é uma mentira gigante.
Felizmente, segundo as conclusões de Ariely, existem no Mundo poucos
destes últimos, mas um universo imenso dos primeiros, os “pequenos
batoteiros”. São estes, na sua opinião, um grave problema com grande
impacto económico, os profissionais da pequena mentira , porque são
muitos.
Veja-se: só em 2015 e apenas em relação às dívidas prescritas – as que
não são cobradas em oito anos -, o impacto foi de 136,5 milhões de
euros. O IVA foi o mais castigado, mas o mesmo sucedeu com o IRS, com o
IRC, e sucederá com o seguro automóvel e com uma infindável lista de
pequenos eventos da vida que puxam à mentira.
Agora, veja-se ao espelho. O que vê? Uma pessoa honesta e maravilhosa,
como gostaria que os outros a vissem? Ou, na verdade, faz parte do clube
dos pequenos batoteiros, vistos por tantos com uma irritante
condescendência, que cedem aos benefícios da pequena desonestidade e que
fazem que a vida seja ainda cada vez mais pequenina.
02/07/16
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