HOJE NO
"DIÁRIO ECONÓMICO"
Desde 2012 que não havia
tantos débitos directos rejeitados
A rejeição de débitos directos por insuficiência de provisão já somam quase 780 milhões de euros só nos primeiros quatro meses do ano. É o valor mais alto desde o início de 2012, em pleno processo de corte de rendimentos das famílias portuguesas.
Se por um lado o aumento do emprego e a reposição de rendimentos do
trabalho contribuem para o aumento do consumo privado em detrimento da
poupança, por outro, parecem fazer pouco por quem tem dificuldades em
pagar as suas dívidas.
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Só em Abril, os bancos rejeitaram 211 milhões de euros em débitos
directos por falta de dinheiro na conta, um valor que está em máximos de
quase dois anos. A tendência tem sido de agravamento desde Dezembro de
2015. Desde então as rejeições dispararam 42%.
A degradação da capacidade das famílias cumprirem pagamentos não se
nota apenas nas rejeições de débitos directos. Também o incumprimento no
crédito à habitação, por norma o último que as famílias deixam de
pagar, está em máximos históricos. De acordo com os dados do Banco de
Portugal o valor de crédito vencido cifrava-se em 3,1 mil milhões de
euros no final de 2015, o montante mais alto de sempre.
Os números do Gabinete de Apoio ao Sobreendividado da Deco confirmam a
tendência de agravamento da situação financeiro das famílias mais
fragilizadas. Só nos primeiros três meses do ano chegaram à Deco 7.434
pedidos de ajuda, mais do que em todo o ano de 2008. E se nesse ano foi
possível dar apoio a mais de 2.000 famílias, agora apenas 623 casos
reuniam condições para serem ajudados, ou seja, para ainda conseguirem
pagar as suas dívidas. A precarização do trabalho e o desemprego
continuam a ser as principais causas das dificuldades sentidas pelas
famílias portuguesas, onde se junta agora o aumento de casos de
penhoras, nomeadamente por dívidas fiscais, que já representam 14% dos
casos de sobreendividamento que chegam à Deco.
A situação financeira das famílias portuguesas parece agora evoluir
em direcções opostas: por um lado o agravamento das situações mais
precárias, por outro o aumento do consumo privado a par da diminuição da
taxa de poupança em função do rendimento disponível que caiu, em
Dezembro, para 4,2%, o valor mais baixo desde que existem séries
históricas, ou seja, desde 1999. Uma realidade para a qual contribui
ainda a nova postura de concessão de crédito por parte da banca, que só
em Março emprestou 840 milhões de euros para a compra de casa e para o
consumo, o valor mais alto desde Março de 2011, em vésperas do pedido de
resgate internacional do país.
* O consumo transformado em consumismo dá-se mal.
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