Portugal deve ser
um portento no
fabrico de telemóveis
Aliás, devemos ser um portento, ponto
Não me choca nada que façam marcas portuguesas, mas é preciso mentir?
Ultimamente
têm surgido uma série de marcas de telemóveis que tentam apresentar-se
com mais ou menos subtileza como sendo de tecnologia 100% portuguesa.
Para quem não sabe, é assim: qualquer um com uns milhares de euros no bolso vai à China e pode dizer, quero um modelo com a câmara X com o processador Y com aquela caixa ali, e por aí fora. Há modelos feitos aos quais basta colocar a marca, que se vendem em todo o mundo, e podem ser muito bons telefones. Desde que tenha dinheiro, e os engenheiros chineses já saibam como fazer, tudo é possível.
Não me choca nada que façam marcas portuguesas, mas é preciso mentir? Para dizermos que tínhamos um telefone com tecnologia portuguesa teríamos que inventar circuitos nossos, chips nossos, talvez processadores nossos, ecrãs nossos, ou pelo menos boa parte destas coisas.
No meio disto alguém me propos fazer uma reportagem com uma suposta inovação portuguesa que existe há vários anos, especialmente em aeroportos de todo o mundo para que esteja bem à vista. É o esquema de dar wi-fi gratuita em troca dos dados dos “clientes”. Eu não tenho nada contra venderem aqui ideias que já existem, agora não me façam passar por mais ingénuo do que sou.
Lembram-se do Magalhães, pois o aproveitamento político foi de tal ordem que o que era perfeitamente legítimo passou a parecer uma coisa estranha. Foi de facto a Intel que inventou a máquina, os processadores e o conceito, e a máquina era montada em Portugal numa empresa portuguesa, mas tanto quiseram exagerar, tanto quiseram fazer dele o computador português para a educação que ainda hoje uns pensam que foi inventado em Portugal e outros consideram que era uma fraude, sem o ser.
Era uma máquina honesta, montada em Portugal, que ao que parece ainda foi exportada e que na minha opinião mesmo por cá merecia melhor destino. Vi muitas crianças, em casa e em cafés a usar os famosos Magalhães e era a única máquina a que tinham acesso livre, fundamental na educação actual.
E a famosa Via Verde, nunca esquecerei o dia em que alguêm perante investigadores nacionais que tinham feito uma nova versão da coisa me disse que agora sim, eu podia dar a notícia de que a Via Verde era portuguesa. E eu perguntei e então o que fazemos à primeira? “Desnacionalizamos”? É que políticos, empresários, jornalistas andaram, e em muitos casos ainda andam a dizer que a Via Verde foi inventada em Portugal. E muitos acreditam no que dizem, e estão de boa fé. Andámos anos a pagar direitos à empresa norueguesa que inventou o sistema. A verdade mal escondida é que de facto Portugal foi o primeiro país a instalar um sistema destes à escala nacional, mas não o inventámos.
Claro que inventamos, claro que desenvolvemos, somos pelo menos tão inteligentes como os outros. Pode ser para outros textos, mas exemplos não faltam da excelência da investigação nacional.
Pena é este hábito de tentar vender gato por lebre. Infelizmente tenho que admitir que muitas vezes estes desvios da verdade são repetidos pela imprensa sem necessidade nenhuma, na maior parte dos casos basta fazer as perguntas e os autores não se atrevem sequer a cair na mentira descarada. O que só lhes fica bem.
Para quem não sabe, é assim: qualquer um com uns milhares de euros no bolso vai à China e pode dizer, quero um modelo com a câmara X com o processador Y com aquela caixa ali, e por aí fora. Há modelos feitos aos quais basta colocar a marca, que se vendem em todo o mundo, e podem ser muito bons telefones. Desde que tenha dinheiro, e os engenheiros chineses já saibam como fazer, tudo é possível.
Não me choca nada que façam marcas portuguesas, mas é preciso mentir? Para dizermos que tínhamos um telefone com tecnologia portuguesa teríamos que inventar circuitos nossos, chips nossos, talvez processadores nossos, ecrãs nossos, ou pelo menos boa parte destas coisas.
No meio disto alguém me propos fazer uma reportagem com uma suposta inovação portuguesa que existe há vários anos, especialmente em aeroportos de todo o mundo para que esteja bem à vista. É o esquema de dar wi-fi gratuita em troca dos dados dos “clientes”. Eu não tenho nada contra venderem aqui ideias que já existem, agora não me façam passar por mais ingénuo do que sou.
Lembram-se do Magalhães, pois o aproveitamento político foi de tal ordem que o que era perfeitamente legítimo passou a parecer uma coisa estranha. Foi de facto a Intel que inventou a máquina, os processadores e o conceito, e a máquina era montada em Portugal numa empresa portuguesa, mas tanto quiseram exagerar, tanto quiseram fazer dele o computador português para a educação que ainda hoje uns pensam que foi inventado em Portugal e outros consideram que era uma fraude, sem o ser.
Era uma máquina honesta, montada em Portugal, que ao que parece ainda foi exportada e que na minha opinião mesmo por cá merecia melhor destino. Vi muitas crianças, em casa e em cafés a usar os famosos Magalhães e era a única máquina a que tinham acesso livre, fundamental na educação actual.
E a famosa Via Verde, nunca esquecerei o dia em que alguêm perante investigadores nacionais que tinham feito uma nova versão da coisa me disse que agora sim, eu podia dar a notícia de que a Via Verde era portuguesa. E eu perguntei e então o que fazemos à primeira? “Desnacionalizamos”? É que políticos, empresários, jornalistas andaram, e em muitos casos ainda andam a dizer que a Via Verde foi inventada em Portugal. E muitos acreditam no que dizem, e estão de boa fé. Andámos anos a pagar direitos à empresa norueguesa que inventou o sistema. A verdade mal escondida é que de facto Portugal foi o primeiro país a instalar um sistema destes à escala nacional, mas não o inventámos.
Claro que inventamos, claro que desenvolvemos, somos pelo menos tão inteligentes como os outros. Pode ser para outros textos, mas exemplos não faltam da excelência da investigação nacional.
Pena é este hábito de tentar vender gato por lebre. Infelizmente tenho que admitir que muitas vezes estes desvios da verdade são repetidos pela imprensa sem necessidade nenhuma, na maior parte dos casos basta fazer as perguntas e os autores não se atrevem sequer a cair na mentira descarada. O que só lhes fica bem.
* Jornalista e editor de Novas Tecnologias na SIC
IN "VISÃO"
17/04/16
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