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"DIÁRIO DE NOTÍCIAS"
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Tradições militares colidem
com o poder político
Ex-alunos do Colégio Militar elogiam ex-chefe do Exército e direção da escola, que assumiu exclusão de alunos homossexuais
A
demissão do comandante do Exército parece traduzir o diferente
entendimento que poder político e altas patentes militares têm sobre a
Constituição, a lei e o quadro de valores da sociedade onde se inserem.
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Na
base da decisão, embora não assumida pelo general Carlos Jerónimo na
mensagem aos subordinados a que o DN teve ontem acesso, terá estado a
forma como o Chefe do Estado - ao aceitar a demissão horas depois do
pedido - e o governo, por um lado, e o Exército, por outro, geriram o
assumir da exclusão de alunos homossexuais pelo subdiretor do Colégio
Militar (CM) em declarações ao Observador.
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Segundo
fontes ouvidas pelo DN, sob anonimato por não estarem autorizadas a
falar, houve contactos informais prévios entre os gabinetes do ministro
Azeredo Lopes e do então chefe do Estado--Maior do Exército (CEME) sobre
a interpretação do ocorrido e quanto ao que fazer para corrigir a
situação.
. Perante a ausência de respostas concretas, Azeredo Lopes enviou na terça-feira um ofício em que pedia formalmente esclarecimentos e medidas para evitar a discriminação no CM por questões de orientação sexual dos alunos - a qual é constitucional e legalmente proibida.
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. Perante a ausência de respostas concretas, Azeredo Lopes enviou na terça-feira um ofício em que pedia formalmente esclarecimentos e medidas para evitar a discriminação no CM por questões de orientação sexual dos alunos - a qual é constitucional e legalmente proibida.
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No
dia seguinte, quando o DN noticiou o pedido da tutela, o Exército
respondeu ao ministro - que qualificara o caso como "absolutamente
inaceitável" - num tom entendido como contemporizador e sem dizer que
medidas concretas iriam ser tomadas para evitar aquelas situações de
discriminação.
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O Exército escusou-se a dizer qual o esclarecimento dado à tutela e não respondeu ao DN quando questionado sobre se houve ou existirão mudanças na direção do CM.
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O Exército escusou-se a dizer qual o esclarecimento dado à tutela e não respondeu ao DN quando questionado sobre se houve ou existirão mudanças na direção do CM.
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O ministério
limitou-se a dizer que o esclarecimento do Exército "está a ser
analisado e só poderá ser divulgado após essa apreciação e decisão sobre
matéria em apreço", sendo "difícil prever um prazo" após a demissão do
ex-CEME - o terceiro a fazê-lo nas últimas três décadas, depois de
Loureiro dos Santos (1993) e Silva Viegas (2003).
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Reações e antecedentes
O
ex-CEME, na mensagem aos subordinados no dia da demissão (invocando
"motivos pessoais"), escreveu: "Os homens e mulheres que servem Portugal
no Exército continuam a ser formados e a acreditar nos valores que
distinguem a profissão militar", pelo que o seu chefe máximo "deve
assumir, como é sua obrigação, a defesa intransigente desses valores e
dos deveres que lhes estão associados".
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Do
lado político contrapõe-se com o haver "tradições para tudo", como as
da mutilação genital ou dos costumes vigentes no Estado Islâmico, alvo
de crescente condenação pública nas democracias ocidentais onde Portugal
se insere.
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No plano das reações, a
Associação dos Antigos Alunos do CM louvou a direção do colégio, cuja
ação "é digna de nota e não será maculada pelo esdrúxulo aproveitamento
de uma certa comunicação social, que [...] parece esquecer que, face à
especificidade do ambiente formativo, se exige especial atenção na
gestão do tema dos afetos".
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A nível político, a cautela e a crítica de PS, PSD, CDS, PCP e BE às declarações do subdiretor do CM foram a nota dominante.
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A
Associação de Oficiais das Forças Armadas qualificou as declarações do
tenente-coronel António Grilo como "uma infelicidade (...) estranha e
incompreensível" quando os militares são "guardiões da Constituição".
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Note-se
que, no fim dos anos 1990 e em 2013, ocorreram dois casos que ajudam a
contextualizar o desta semana: o da demissão do ex-ministro Veiga Simão e
a extinção do Instituto de Odivelas.
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No
primeiro caso, a divulgação dos nomes de vários espiões constantes da
lista entregue pelo gabinete do ministro ao Parlamento levou à demissão
do governante. Porém, o general que era seu chefe de gabinete (e que
enviou o documento) acabou a ser promovido a três estrelas - levando o
presidente da República Jorge Sampaio e o primeiro-ministro António
Guterres a recusarem pronunciar-se sobre a proposta em pleno Conselho
Superior de Defesa Nacional.
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Em 2013,
em pleno processo de integração de meninas no CM, o coronel que então
dirigia o Instituto de Odivelas disse estar impedido de inscrever novas
alunas devido à decisão política de extinguir a escola - e garantiu que
ela "continuará a perdurar no tempo [...] e no mosteiro que D. Dinis
mandou erigir e acolher o seu túmulo".
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O
Exército resolveu o caso, de aparente crítica à opção política do
ex-ministro Aguiar-Branco em encerrar o IO, nomeando o diretor para
adido militar em Madrid - colocação que o governo apenas fez adiar por
algumas semanas.
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Ontem, um ex-chefe do
Exército, o general Pinto Ramalho, disse à Renascença que o assunto que
levou à demissão de Carlos Jerónimo deveria ter sido resolvido "no
íntimo e na discrição dos gabinetes" - o que, na prática, evitaria que o
Exército assumisse pública e oficialmente que entendimento tem sobre
casos de discriminação de homossexuais nas suas unidades.
* Constitucionalmente o poder militar está subordinado ao poder político, se o actual governo contemporizar com a homofobia do subdirector do CM, restará como "corno manso" das Forças Armadas.
Quanto às tradições e história militares convém lembrar que na antiguidade os generais romanos tinham um séquito de mancebos para sodomizar.
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