CAO ou caos?
A pergunta para
um milhão de euros
Um pouco por todo o país proliferam a uma velocidade galopante os
Centros de Atividades Ocupacionais (CAO) para pessoas com deficiência ou
incapacidades. Enquadrados nas respostas tipificadas, imperam no
conforto de mais facilmente poderem ser apoiados pelo Estado.
Nos normativos legais da Segurança Social, podemos ler que este tipo
de respostas deve garantir o respeito pelos direitos das pessoas com
deficiências e incapacidades e viabilizar a sua integração social e
profissional. Para tal devem ser criadas soluções de complementaridade
ou de alternativa à situação familiar, que contribuam efetivamente para a
sua autonomia, valorização pessoal e desenvolvimento das suas
capacidades e potenciais. Desta forma, considera-se que a qualidade e a
segurança das respostas seja um passo fundamental para a promoção de uma
sociedade justa, desenvolvida e inclusiva.
Coloco, na certeza de que me cairá o mundo em cima, a questão de um milhão de euros: Será mesmo assim que funcionam?
Porque pelo que vejo e oiço das famílias (de todo o País), não me
parece que alguns CAOs disponibilizem serviços promotores de integração e
inclusão social dos seus frequentadores. Nem tão pouco se percebem das
suas práticas que atividades promotoras de inclusão social (e em alguns
casos mais graves, nem o próprio respeito pelos direitos de querem os
frequenta) são essas.
Quero pensar que são uma minoria, mas não deixam de me preocupar, por
viverem ostracizados em si mesmos, com modelos de atuação bafientos,
desfocados da realidade das famílias e dos interesses das populações que
servem.
Do outro lado da balança, outros existem que apostam na inovação social. Serão estes alliens no terceiro sector? Poderão as IPSSs apresentar respostas renovadas e inclusivas para as populações que delas necessitam?
Do que conheço, as organizações a funcionar nestes moldes, atípicos
por sinal, não se enquadram muito dentro de um CAO, vivem sim num
“caos”, porque ao funcionarem outside of the box dificilmente se enquadram nas respostas tipificadas.
Estas organizações vivem num caos organizado, resiliente, encurtado e
desgastado de tanta luta para dignificar as pessoas que delas
necessitam, criando redes e recursos na comunidade, abrindo a porta aos
verdadeiros problemas destas pessoas e famílias e com elas vão traçando
soluções.
O caos está lá. O CAO, não. Nem dinheiro fácil, pois não é suado,
lutado espremido e sangrado! Permitam-me que dê como exemplo a
Associação Leque (havendo outras instituições igualmente atípicas) onde,
como dizia Nietzsche, é preciso ter dentro o caos para gerar uma
estrela. E ali existem várias!
E assim se vive no interior norte, no tal sítio onde a ruralidade
impera, mas com leques com lufadas de ar fresco no Terceiro Setor, a
gerar valor e qualidade de vida!
Vivam os “caos” como o nosso!
Kiss, kiss. Bang, bang!
* Presidente da Associação Leque
IN "DELAS"
24/03/16
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