O intervalo de Portas
Há homens assim que têm paciência para
construir o seu futuro. Meticulosamente. E mesmo entre tempestades e
sobressaltos, sabem para onde e ao que vão. Paulo Portas é um desses. Na
verdade sempre quis ser político, mesmo quando foi jornalista. Lançou O
Independente, em 1988, onde fez mais política do que muitos políticos
no ativo.
Nos bastidores do CDS-PP foi
sombra de Manuel Monteiro. Passou de aliado a rival em 1998 porque quis
sair da sombra para o palco. No partido "dos capitalistas", desceu ao
proletariado. Gastou solas a convencer o povo de que se batia pelos mais
desprotegidos. Foi assim que construiu a imagem do Paulinho das feiras.
Carismático, o mais de todos os líderes centristas, fez crescer a
bancada do CDS-PP até 21 deputados em 2009 e 24 em 2011.
Conseguiu
ser ministro em mais do que um governo - um até lhe valeu uma das
tempestades, o de Santana Lopes, que o afastaram do palco durante dois
anos. Fez uma birra séria, na crise do irrevogável, mas saiu dela como
vice-primeiro-ministro e repetiu a proeza, que só não foi duradoura
porque o líder do PS se atravessou no caminho. Paulo Portas sabe ainda
para onde vai e o que quer.
Escolheu o momento que mais lhe convém para partir. Não o faz por mero altruísmo, para dar lugar "às novas gerações". Se assim fosse não se teria comprometido com Passos Coelho a ficar mais quatro anos se o governo de coligação resistisse à investida da esquerda. Se assim tivesse acontecido, lá regressaria o amigo do peito dos contribuintes e dos reformados. Só que esse papel, que o tornaria candidato a mais um Óscar na política, escapou-lhe das mãos e o protagonista principal agora é outro.
Escolheu o momento que mais lhe convém para partir. Não o faz por mero altruísmo, para dar lugar "às novas gerações". Se assim fosse não se teria comprometido com Passos Coelho a ficar mais quatro anos se o governo de coligação resistisse à investida da esquerda. Se assim tivesse acontecido, lá regressaria o amigo do peito dos contribuintes e dos reformados. Só que esse papel, que o tornaria candidato a mais um Óscar na política, escapou-lhe das mãos e o protagonista principal agora é outro.
Portas
percebeu que o barco de António Costa vai balançar, algumas vezes até
ao enjoo, mas continuará a navegar. Marcelo tem sido transparente nesse
sentido. Eleito presidente, se o for, os ventos de Belém vão ajudar à
travessia. O ainda líder do CDS-PP sabe que se o governo socialista,
"usurpador" como o classificou, conseguir chegar ao final da legislatura
ganha asas para cumprir outra logo a seguir e, talvez mesmo, sem a
ajuda da esquerda radical. Tempo demasiado longo, de desgaste, sem honra
nem glória, para quem bebe da política e sabe a rota que traçou. Portas
resguarda-se e ganha espaço para, daqui a dez anos, voltar ao papel
principal como candidato à Presidência da República.
A
luta pela liderança desenrola-se dentro de momentos no CDS-PP. Nuno
Melo ou Assunção Cristas? Seja qual for terá uma vida difícil na
oposição e a sua performance será sempre comparada à do líder cessante.
Mas também no PSD a decisão de Portas tem consequências. Passos Coelho
sai fragilizado no combate contra Costa. A alternativa de governo à
direita sólida e firme esfuma-se e terá de ser reconstruída.
IN "DIÁRIO DE NOTÍCIAS"
31/12/15
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