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"PÚBLICO"
Nova técnica de edição genética pode
. permitir tratar forma de distrofia muscular
. permitir tratar forma de distrofia muscular
Três estudos independentes sugerem que a nova técnica de edição
genética Crispr-Cas9 poderá permitir tratar a distrofia muscular de
Duchenne, uma forma rara de distrofia muscular humana. Os trabalhos
foram publicados na edição de sexta-feira da revista Science.
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A
técnica Crispr-Cas9 recorre a um mecanismo do sistema imunitário das
bactérias e que, ao ser artificialmente introduzido nas células de
mamíferos, incluindo nas células humanas, permite cortar o ADN em locais
pré-escolhidos.
A distrofia muscular de Duchenne (DMD) é uma
doença hereditária que atinge um rapaz em cerca de cada 3500. É
provocada por mutações num gene situado no cromossoma X (que determina o
sexo feminino), e as mulheres portadoras do defeito não desenvolvem a
doença porque possuem um segundo cromossoma X para compensar. Portanto,
apenas os homens, que são XY, adoecem (tal como no caso da hemofilia).
Os
doentes, cujas células não fabricam uma proteína chamada distrofina,
sofrem uma degenerescência muscular progressiva que acaba por os
confinar a uma cadeira de rodas por volta dos 10 anos e condena-os a uma
morte prematura, em geral antes dos 30 anos, devido muitas vezes a
insuficiência cardíaca.
O que os autores dos estudos agora
publicados fizeram foi demonstrar que, em ratinhos que sofrem de DMD, é
possível restituir parcialmente a produção de distrofina introduzindo
nas células afectadas um “corrector ortográfico” Crispr-Cas9, cujo alvo é
o defeito genético em causa, a bordo de vírus tornados inócuos que
funcionam como veículo de entrada nas células.
Essencialmente, o
que a “tesoura molecular” Crispr-Cas9 – que os cientistas injectaram
directamente em músculos afectados dos animais – conseguiu fazer foi
identificar e remover a parte danificada do gene que codifica a
distrofina. Isso permitiu que as células musculares tratadas passassem a
fabricar uma quantidade de distrofina, que embora fosse bastante
inferior a uma produção normal, era suficiente para restaurar
parcialmente a função muscular dos animais doentes, explica a Science em comunicado.
A Crispr-Cas9 tem suscitado preocupação na
comunidade científica, tanto do ponto de vista ético como da sua
segurança, no que respeita à sua aplicação a gâmetas e embriões humanos
(o que os cientistas designam como a manipulação da "linha germinal"),
porque isso poderia permitir a geração de bebés “à medida”. Mas os
resultados agora publicados nada têm a ver com a manipulação da linha
germinal – apenas pretendem corrigir defeitos nas células ditas
somáticas (do corpo), correcções que não serão transmitidas à
descendência do doente.
“A utilização da Crispr-Cas9 para corrigir
mutações genéticas nos tecidos afectados de doentes não está em debate.
E estes resultados mostram um percurso possível para lá chegar”, diz
Charles Gersbach, o líder de um dos estudos, citado no comunicado da Universidade Duke, onde trabalha.
A
sua equipa conseguiu introduzir o “corrector” genético nas patas de
ratinhos adultos – e também o injectou (a bordo de um vírus, como já
referido) no sangue dos animais – constatando, nesta segunda fase, que
isso permitia melhorar o estado dos músculos em todo o corpo, incluindo
no coração. Em todos os casos, o “corrector” encontrou e cortou a parte
defeituosa do gene da distrofina e, a seguir, a maquinaria natural de
reparação do ADN das células encarregou-se de juntar de novo as pontas
soltas de ADN. Resultado: as células ficaram com um gene mais curto, mas
apesar de tudo funcional.
“Ainda temos muito trabalho pela frente
para traduzir isto numa terapêutica humana e demonstrar a sua
segurança, mas as nossas primeiras experiências são muito
entusiasmantes”, diz Gersbach.
Num outro estudo,
Chengzu Long, do Centro Médico da Universidade do Texas Sudoeste (EUA) e
colegas utilizaram um vírus do mesmo tipo, mas diferente, para fazer o
mesmo tipo de experiências – e mostraram ainda que era possível obter
resultados promissores injectando o sistema em diversos músculos de
ratinhos com DMD poucos dias após a nascença.
Por último, em ainda
mais uma variante experimental, uma equipa da Universidade de Harvard
(EUA), que inclui o conhecido geneticista George Church, obteve resultados muito semelhantes aos dos outros dois estudos.
As
próximas etapas deverão consistir, segundo Gersbach, em optimizar o
sistema de introdução viral do complexo Crispr-Cas9 nas células, em
testar esta potencial terapia genética em animais com formas mais graves
de distrofia muscular de Duchenne e em avaliar a sua eficácia e
segurança em animais de maior porte, com vista a iniciar, quando for
possível, ensaios clínicos em seres humanos.
* A luta pela qualidade de vida.
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