Estamos Banifados
Os bancos não podem falir. Embora possam falir milhares de empresas, de famílias.
Os nossos governos são todos portadores do vírus da desculpa. Não há criatura que tome posse como primeiro-ministro que não garanta que todo o mal que se descobre na vida pública foi culpa do anterior governo. Só pode ser um vírus que anda por S. Bento. Agora, rebentou mais um escândalo bancário.
O Banif estoirou. Ou melhor, foi vendido. E aqui percebe-se que mais do que a culpa do anterior governo, que a tem, a surpresa perante as mesmas culpas, ou desculpas, o processo de resolução do caso Banif é exatamente igual para todos os governos. Foi com o PS de Teixeira dos Santos, no caso BPN, foi com a coligação de direita de Maria Luís Albuquerque, no caso BES, e, finalmente, agora com o PS recauchutado, de Mário Centeno, no caso que nos esmifra mais três mil milhões de euros. Aqui são todos iguais.
Os bancos não podem falir. Embora possam falir milhares de empresas, milhares de famílias, multiplicando o desemprego e a fome. Os pobres devem ficar mais pobres para que meia dúzia de facínoras salvem a pele de derrocadas de milhares de milhões de euros. Tudo se sujeita ao mando da troika e dos mercados. Corta-se na saúde, na educação, esmifram-se os professores, os funcionários públicos, os famintos dos recibos verdes, os sobreviventes do salário mínimo, mas a Banca, não! Um banco que cai, para esta geração de governantes, é um ataque à Pátria. Tudo se fará para salvar um banco, tudo se fará para que seja a multidão a pagar a fatura.
E é bem grande, por sinal. De tal modo, que arruinou a minha coluna da semana passada, neste lugar, quando falava da política de bodo aos pobres que este governo tinha anunciado. Com o estoiro do Banif, lá se foram os pequenos aumentos e aí está mais uma imensa dívida para pagar.
Cerca de 300 euros por cada português para salvar um banco que foi vendido a outro de tal forma que só resta explicar como se estivéssemos num manicómio. É mais ou menos assim: o Santander pagará 150 milhões pelo Banif, desde que o Estado injete perto de três mil milhões.
Dito de maneira mais simples, eu comprarei ao leitor uma chávena por cinco euros, mas, para que a compre, terá de colocar dentro dela uma nota de cem euros. E assim salva a chávena. E assim se salva o sistema, dizem eles! Igual nas culpas, nas ações, esta rapaziada foi inventada há mais de um século, pelo poeta Guerra Junqueiro: Tão vazios, tão iguais, como as duas metades do mesmo zero!
* Professor universitário
IN "CORREIO DA MANHÃ"
27/12/15
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