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ESTA SEMANA NO
"EXPRESSO/EXAME"
"EXPRESSO/EXAME"
Hospitais privados dão milhões
À boleia das seguradoras proliferam de norte a sul do país e atraem cada vez mais clientes. Pagam melhores salários a médicos e gestores. Durante anos, enquanto Portugal debatia a sustentabilidade do SNS, os privados driblaram a crise com lucros de milhões
A administração hospitalar tem há largos
anos um desafio que não raras vezes faz faísca: entre as exigências dos
acionistas e as necessidades das equipas de colaboradores nem sempre é
fácil conseguir o ponto de equilíbrio. Um equilíbrio especialmente
delicado, atendendo a que à frente da equação está a necessidade de
tratar doentes e salvar vidas. "Só um masoquista continua a trabalhar em
ambiente público", confessa Marta Temido. A administradora hospitalar
continua, ainda assim, fiel ao Estado. Mas muitos colegas vêm migrando
para os hospitais privados, que durante a recessão económica provaram
ter uma saúde de ferro
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As histórias
contadas por Marta Temido, presidente da Associação Portuguesa de
Administradores Hospitalares (APAH), são bem conhecidas de todos quantos
trabalham em hospitais públicos: muitas vezes faltam materiais aos
enfermeiros e abundam os processos burocráticos que dificultam a
prestação de um serviço imaculado aos utentes do Serviço Nacional de
Saúde (SNS). "É verdade que em ambiente público a máquina é muito mais
pesada. E é mais lenta a responder aos estímulos do ambiente externo",
aponta a presidente da APAH.
Marta
Temido sublinha que "um gestor público de saúde é terrivelmente mal
pago, sobretudo com a responsabilidade jurídica que tem". Também
administradora do Hospital Arcebispo João Crisóstomo, de Cantanhede,
Marta Temido admite que o sector privado continua a ser uma referência.
"Culturalmente, toda a Administração Pública tende a olhar para o sector
privado como um local de recolha de práticas inovadoras e de conquista
de melhores resultados", avalia.
É
também no feminino que fala uma das vozes mais sonantes do sector
privado. Isabel Vaz, a executiva que permaneceu na liderança da Luz
Saúde após o colapso do Grupo Espírito Santo (GES), considera que "os
desafios de gestão são comuns no sector público e no privado", passando
principalmente pela adoção de novas tecnologias e pela melhoria da
relação com o doente.
Embora haja
questões transversais aos hospitais públicos e privados, que incluem o
desafio do financiamento (quem deve, afinal, pagar a saúde dos
portugueses?), do ponto de vista salarial o Estado permanece, regra
geral, menos atrativo. Segundo Marta Temido, "a migração de médicos e
enfermeiros também se reflete ao nível da gestão". Mas melhores salários
no privado vêm acompanhados de um quotidiano exigente. "Os níveis de
stress são enormes", reconhece a presidente da APAH. Ainda assim,
segundo os relatos que a administradora hospitalar vai ouvindo, no
privado "as pessoas estão satisfeitas".
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Artur
Osório, presidente da Associação Portuguesa de Hospitalização Privada
(APHP), entende que a relação das empresas de saúde com os seus
colaboradores é saudável. "Os médicos para nós são parceiros. Os bons
resultados que eles obtêm os hospitais também têm. E eles são
recompensados do ponto de vista financeiro. É raro haver conflitos com
os médicos", descreve Artur Osório.
Sobre
os gestores hospitalares públicos, o presidente da APHP partilha uma
leitura acutilante. "Os gestores do sector público fazem milagres. A
forma como está organizado o sistema não permite que se faça uma gestão
adequada e eficiente. Alguns gestores acabam por ser autênticos chefes
de repartição do Ministério [da Saúde]. Hoje os administradores dos
hospitais públicos não têm autonomia para decidir nada.", conclui.
José
Carlos Magalhães, presidente do Grupo Lusíadas Saúde, corrobora essa
visão. "Os operadores privados são mais eficientes do que o Estado, mas
isso não é culpa dos gestores públicos. Conheço gestores hospitalares
públicos bons e gestores hospitalares privados maus. O problema é que o
modelo público é muito burocrático, há que abrir concursos para tudo."
O "ELDORADO" PRIVADO
O ambiente de gestão diferenciado é o contexto em que, nos últimos anos, se tem processado uma tendência de crescimento cada vez mais sólida dos hospitais privados. Embora a saúde privada não tenha taxas de crescimento explosivas de ano para ano, a verdade é que o sector tem tido um crescimento contínuo, resistindo relativamente bem à crise económica que se abateu sobre Portugal nos últimos anos.
O ambiente de gestão diferenciado é o contexto em que, nos últimos anos, se tem processado uma tendência de crescimento cada vez mais sólida dos hospitais privados. Embora a saúde privada não tenha taxas de crescimento explosivas de ano para ano, a verdade é que o sector tem tido um crescimento contínuo, resistindo relativamente bem à crise económica que se abateu sobre Portugal nos últimos anos.
Para
a presidente da Luz Saúde, "o sector da saúde privada provou ser muito
resiliente à crise", o que é, aliás, ilustrado pelo crescimento da
procura nos hospitais e clínicas dos maiores grupos. "Estando nós agora
em ciclo de retoma, é evidente que as perspetivas são muito boas", diz à
EXAME uma Isabel Vaz claramente otimista. "A saúde é o grande sector do
século XXI", acrescenta.
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Segundo a
APHP, os hospitais privados alcançaram em 2014 uma faturação de 1750
milhões de euros. De acordo com Artur Osório, "o crescimento das
receitas anda à volta de 6% na generalidade das empresas privadas; mas
há grupos a crescer mais". Olhemos apenas para os dois maiores. No ano
passado, os proveitos da José de Mello Saúde avançaram 8%, para 532
milhões de euros, enquanto as receitas da Luz Saúde subiram 7%, para 402
milhões. Números interessantes num país cuja economia cresceu menos de
1% no ano passado.
Os dados já
publicados pelas duas empresas relativamente ao primeiro semestre de
2015 mostram que o negócio continua de vento em popa. Até junho, os
rendimentos operacionais da José de Mello Saúde cresceram 9%, em termos
homólogos, para 277 milhões de euros. Na Luz Saúde a faturação engordou
quase 6%, para 213 milhõesde euros.
Do
ponto de vista operacional, a saúde privada evidencia também
indicadores de contínuo crescimento. E não se trata apenas de ver os
hospitais privados já existentes a captar consultas, cirurgias e
internamentos que antes eram feitos nas unidades públicas. Ao contrário
do que sucede no Estado, por iniciativa dos agentes privados todos os
anos há expansão de capacidade. "O investimento de raiz está a
acontecer", assinala Artur Osório.
Uma
retrospetiva resumida dos últimos anos comprova-o. Em 2010, a José de
Mello Saúde abre o Hospital CUF Porto, a maior unidade privada da Região
Norte. Em 2011, a Trofa Saúde inaugura o Hospital de Dia da Maia. Em
2012, a Espírito Santo Saúde expande o Hospital do Mar, na área da
Grande Lisboa. Em 2014, o Grupo Mello abre novas clínicas em Mafra, São
Domingos de Rana e Benfica e o Grupo Lusíadas instala-se em Almada. Já
em 2015 a Trofa Saúde abre o Hospital Privado de Gaia e a Lusíadas Saúde
inaugura uma clínica também em Gaia.
Os
indicadores de produção, que espelham o desempenho operacional das
unidades privadas, são significativos, sobretudo se analisados por
comparação com o que eram ainda antes da crise. No ano passado os quatro
maiores grupos de saúde contabilizaram mais de cinco milhões de
consultas. É ainda um volume minoritário face a 44milhões de consultas
que a Administração Central do Sistema de Saúde (ACSS) registou no SNS.
Mas as consultas no privado estão em franco crescimento: na líder José
de Mello Saúde os 1,8 milhões de consultas dadas em 2014 mais do que
duplicaram a atividade que a empresa tinha cinco anos antes (em 2009, a
José de Mello Saúde teve 741 mil consultas).
Não
é só pelas consultas que os portugueses estão a optar pelos privados.
Também os episódios de urgência têm observado crescimentos relevantes.
No ano passado, por exemplo, o Grupo Luz Saúde registou uma subida de
11% face ao ano anterior no número de urgências na sua rede (foram 540
mil). E no espaço de cinco anos o volume de urgências na rede liderada
por Isabel Vaz duplicou.
Mais ligeiro é
o crescimento da procura dos hospitais privados pelos futuros pais. Os
dados publicados pela José de Mello Saúde indicam que nas suas
maternidades nasceram no ano passado 7200 bebés, que comparam com 6700
partos do ano anterior. Mas já em 2008 o Grupo Mello se tinha aproximado
dos sete mil partos anuais.
A conta
satélite que o Instituto Nacional de Estatística (INE) publicou em julho
último sobre o sector da saúde deixa pistas interessantes, indicando
que em 2013 a despesa corrente em saúde, em Portugal, caiu 1,3% nos
hospitais públicos e subiu 5,4% nos hospitais privados. O decréscimo de
despesa no Estado é justificado pelo INE com a queda dos gastos com
medicamentos e material de consumo clínico, que mais do que compensou o
aumento de custos relacionado com a reintrodução do subsídio de férias
do pessoal.
Já em 2014, segundo as
estimativas do INE, a despesa pública em saúde terá crescido 0,7%,
enquanto a despesa privada terá subido 2,5%. Mas o economista Pedro Pita
Barros nota que os grandes números, por si só, podem não ser
conclusivos, já que uma maior ou menor despesa não implica
necessariamente mais ou menos atos médicos ou clínicos. "Uma redução de
salários no sector público, mantendo-se a atividade realizada, significa
menor despesa pública e maior proporção da despesa privada, mesmo que
nada se altere no atendimento à população", explica. O professor da
Faculdade de Economia da Universidade Nova de Lisboa sublinha que "a
despesa privada, nomeadamente os pagamentos diretos, cresceu muito por
conta da redução dos benefícios fiscais (que beneficiavam
proporcionalmente mais os agregados familiares de maiores rendimentos)".
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Ainda
assim, os dados de produção dos operadores privados vêm evidenciando,
ao longo dos anos, sucessivos aumentos. E o crescimento operacional dos
hospitais não seria possível sem médicos e enfermeiros. Atualmente, os
quatro maiores grupos privados de saúde empregam cerca de 22 mil pessoas
(a Luz Saúde tem mais de nove mil colaboradores, a José de Mello Saúde,
mais de sete mil, a Lusíadas Saúde, 4500, e a TrofaSaúde, mais de um
milhar de profissionais).
Do ponto de
vista da empregabilidade, os grupos privados continuam a ser uma
referência. Até porque os seus planos contemplam largas centenas de
milhões de euros de investimento em expansão.
O QUE AÍ VEM
Nos últimos meses as maiores empresas de saúde têm reafirmado a vontade de investir em novos hospitais e clínicas pelo país fora. Há pelo menos 400 milhões de euros de investimentos prometidos. A José de Mello Saúdetenciona aplicar 150 milhões a curto e médio prazo e a Luz Saúde outro tanto.
O Grupo Trofa Saúde tem em marcha um plano para investir uma centena de milhões de euros, mas esse valor poderá duplicar se a empresa nortenha concluir ser viável lançar um novo hospital na Região da Grande Lisboa.
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Artur Osório, que, além de presidente da APHP, é vice-presidente da Trofa Saúde, adiantou à EXAME que "o break even [equilíbrio operacional] dos hospitais está a obter-se ao fim de dois anos e meio". A Trofa Saúde tem apostado sobretudo em unidades de média capacidade, que tiram partido da proximidade às populações.
Nos últimos meses as maiores empresas de saúde têm reafirmado a vontade de investir em novos hospitais e clínicas pelo país fora. Há pelo menos 400 milhões de euros de investimentos prometidos. A José de Mello Saúdetenciona aplicar 150 milhões a curto e médio prazo e a Luz Saúde outro tanto.
O Grupo Trofa Saúde tem em marcha um plano para investir uma centena de milhões de euros, mas esse valor poderá duplicar se a empresa nortenha concluir ser viável lançar um novo hospital na Região da Grande Lisboa.
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Artur Osório, que, além de presidente da APHP, é vice-presidente da Trofa Saúde, adiantou à EXAME que "o break even [equilíbrio operacional] dos hospitais está a obter-se ao fim de dois anos e meio". A Trofa Saúde tem apostado sobretudo em unidades de média capacidade, que tiram partido da proximidade às populações.
Segundo
Artur Osório, a Trofa Saúde vai abrir em Gaia, dentro de um ano, um
hospital que irá rivalizar, em dimensão e valências, com os maiores
hospitais privados de Lisboa. "O grupo em expansão irá aplicar
100milhões de euros. Haverá uma forte componente de capitais próprios."
Salvador
de Mello tem à frente da José de Mello Saúde o desafio de manter a
liderança da sua empresa no competitivo mercado dos hospitais privados.
Mas o gestor prefere frisar a ótica de longo prazo dos seus
investimentos. "O retorno sobre o investimento é sempre a longo prazo",
explica, notando que o que prevalece na ponderação dos investimentos é a
importância de garantir a qualidade dos serviços. "Este é um sector
muito especial, porque cuidamos da vida das pessoas. Tratamos casos
muito complexos, em que muitas vezes estamos na fronteira entre a vida e
a morte. O nosso compromisso com a segurança e a qualidade clínica é
absoluto e inegociável", nota o presidente da José de MelloSaúde.
No
caso do Grupo Mello (que ainda na primeira metade do ano avançou para a
compra do Hospital Privado de Santarém), a expansão passa pela
construção de um novo hospital em Lisboa (em Alcântara, em 2018), pela
ampliação da CUF Descobertas (também na capital, em 2017) e pela
abertura de um novo hospital em Viseu (no primeiro semestre de 2016).
Em
entrevista ao Jornal de Negócios, em julho, a presidente da Luz Saúde,
Isabel Vaz, indicou que a empresa deverá investir até 2017 cerca de 150
milhões de euros. O grupo está a ampliar o Hospital da Luz, em Lisboa,
entre outras obras planeadas. Quando ainda era controlada pelo GES, a
empresa já tinha em estudo a possibilidade de abrir um hospital em
Angola. O relatório do primeiro semestre veio informar que não só esse
projeto permanece em análise como a LuzSaúde iniciou a análise de
"expansão para outras geografias no contexto do novo quadro acionista
Fidelidade/ Fosun". Que geografias? A empresa não quer, para já, avançar
detalhes. Como estão os operadores privados de saúde a financiar este
crescimento? As contas de alguns grupos mostram que a atividade corrente
tem gerado um crescimento dos resultados, mas a receita de sucesso das
empresas privadas neste sector não assenta num único ingrediente, antes
numa combinação de vários fatores, que conjuntamente vêm dando a quem
financia a confiança necessária para emprestar dinheiro para novos
investimentos.
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O MERCADO DE CAPITAIS
O
interesse que a Luz Saúde despertou no mercado de capitais no ano
passado é sintomático. Em fevereiro de 2014, o GES dispersou 49% do
capital da empresa (então ainda designada Espírito Santo Saúde),
operação que rendeu cerca de 150 milhões de euros (22,5 milhões
reverteram para a empresa e o restante para o GES). A entrada em bolsa
traduziu-se na venda de ações a 2800 investidores (um número distante
dos 25 mil que acorreram à oferta pública dos CTT, por exemplo) e a
estreia em negociação não foi particularmente feliz: os títulos
desvalorizaram nos primeiros dias e só ao fim de uma semana recuperaram o
valor a que foram vendidos.
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Mas se a
estreia na bolsa foi menos entusiasmante do que o que se poderia prever,
a verdade é que os primeiros meses de vida de uma Espírito Santo Saúde
cotada revelaram ser uma das novelas do ano no mercado português de
capitais. Negociada pelos mais diversos fundos de investimento, a
empresa passou, em agosto de 2014, a ter entre os seus acionistas de
referência o grupo mexicano Ángeles, com 3,3% do capital.
O
Grupo Ángeles lançaria, a 1 de setembro, uma oferta pública de
aquisição (OPA) sobre a companhia presidida por Isabel Vaz, oferta essa
que a administração da empresa portuguesa classificou como "aceitável" e
até positiva para a sua estabilidade acionista (numa altura em que era
já conhecido o colapso do GES). A 11 de setembro de 2014, a José de
Mello Saúde juntou-se à corrida: o maior operador privado em Portugal
queria comprar o segundo maior. Se a disputa da dona do Hospital da Luz
tinha virado uma novela luso-mexicana, o enredo ficaria ainda melhor
pouco depois: a 22 de setembro entra em cena a chinesa Fosun, que, por
intermédio da Fidelidade, lança também uma OPA sobre a empresa.
Resultado: as ações da Espírito Santo Saúde, lançadas em bolsa a 3,20
euros, passaram a ser valorizadas em 5,01 euros (foi essa a oferta
revista da Fidelidade). Pelo meio, a norte-americana United Health (dona
da brasileira Amil, que controla a Lusíadas Saúde) também apresentou
uma oferta fora de Bolsa de 5 euros por ação. A corrida foi ganha pela
Fosun, e em outubro de 2014 a empresa iniciaria um novo capítulo da sua
história: já sem o GES, passou a operar sob o controlo de capitais
chineses e com o novo nome de Luz Saúde.
A
acesa disputa em torno do capital do segundo maior grupo privado de
saúde em Portugal ilustra bem o interesse que este negócio tem para os
investidores. Hoje, passada a turbulência da mudança de donos, Isabel
Vaz admite que a saúde "é um sector económico muito complexo", mas, dada
a sua resistência à crise, funciona também, do ponto de vista do
mercado financeiro, como um refúgio para quem pretende aplicar o seu
dinheiro em ações com um risco relativamente reduzido.
Isabel
Vaz já admitiu que a Luz Saúde poderá voltar a dispersar em bolsa uma
parte do seu capital (hoje, 98,4% da Luz Saúde estão nas mãos da
Fidelidade). O que, a confirmar-se, permitiria à empresa levantar novos
fundos para financiar o seu crescimento, a par com a geração de
resultados operacionais. Considerando a experiência da LuzSaúde (cujas
ações valem hoje mais 22% do que na entrada em bolsa), será de admitir
que outros operadores privados lhe possam seguir as pisadas. Mas o Grupo
Mello permanece reticente.
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A 8 de maio deste ano, a José de Mello Saúde foi ao mercado buscar 50 milhões de euros através de um empréstimo obrigacionista a seis anos (pelo qual a empresa paga aos investidores a Euribor a 6 meses acrescida de 2,95%). A operação foi feita com investidores institucionais e serviu para refinanciar a atividade corrente e "fazer face a novas oportunidades de investimento", conforme o grupo explicou então num comunicado.
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A 8 de maio deste ano, a José de Mello Saúde foi ao mercado buscar 50 milhões de euros através de um empréstimo obrigacionista a seis anos (pelo qual a empresa paga aos investidores a Euribor a 6 meses acrescida de 2,95%). A operação foi feita com investidores institucionais e serviu para refinanciar a atividade corrente e "fazer face a novas oportunidades de investimento", conforme o grupo explicou então num comunicado.
Poderá
a bolsa ser também uma solução de financiamento para o maior grupo
privado de saúde em Portugal? "A entrada em bolsa não está nos nossos
planos.
No entanto, essa é uma opção
sempre em aberto, em função das circunstâncias", responde Salvador de
Mello, notando que o endividamento da empresa é "muito baixo". "Estamos
preparados para o ambicioso plano de investimentos que temos em mãos",
acrescenta.
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O ESTADO COMO BENGALA?
Na
hora de investir em expansão, o recurso ao financiamento bancário ou ao
levantamento de capitais na bolsa pode ser uma ajuda importante, mas
para as empresas privadas de saúde o modelo de negócio está hoje
largamente dependente de um conjunto de pressupostos. Os seguros de
saúde são um dos vértices evidentes do sucesso dos hospitais privados,
numa geometria traçada com outros pontos fulcrais: a disponibilidade das
famílias para o copagamento dos serviços, a qualidade e rapidez do
atendimento e também o papel do Estado.
Em
que medida esteve o crescimento dos grupos privados de saúde apoiado no
Estado? É um facto que boa parte da receita dessas empresas já vem dos
clientes financiados pela ADSE, a assistência garantida aos funcionários
públicos. Até há bem pouco tempo este subsistema era pago, em parte,
pela entidade empregadora (o Estado) e em parte pelo funcionário
público, tendo entretanto o seu financiamento passado a ser suportado
exclusivamente pelo beneficiário (por via do desconto de 3,5% do
vencimento).
Por outro lado, a
prestação de serviços contratualizados com os hospitais públicos (que
encaminham para os privados os doentes que não conseguem tratar) e as
parcerias público-privadas (PPP) também contribuem de forma relevante
para os resultados de alguns dos maiores operadores de saúde.
Vamos
a contas. No primeiro semestre deste ano, a Luz Saúde faturou 47
milhões de euros em cuidados desaúde públicos (o grupo gere a PPP do
Hospital Beatriz Ângelo, em Loures) e 164 milhões em cuidados privados. E
dentro desta última rubrica a ADSE contribuiu com 32%. No Grupo Mello
os cuidados de saúde públicos (em que se incluem as PPP do Hospital de
Braga e do Hospital de Vila Franca de Xira) geraram receitas de 106
milhões de euros, ao passo que os cuidados privados movimentaram 175
milhões. Somando as receitas das empresas de Isabel Vaz e Salvador de
Mello, é possível constatar que quase um terço da faturação vem de
cuidados de saúde públicos.
Artur
Osório, da APHP, considera que "a experiência das PPP tem sido positiva
para o Estado, com poupanças da ordem de 25%". Será? Ainda em agosto o
Tribunal de Contas publicou um relatório de auditoria sobre um destes
projetos, concluindo que "não resulta evidente, da análise do primeiro
ano de atividade completo do Hospital Beatriz Ângelo, em Loures, uma
maior eficiência decorrente do seu modelo de gestão privada".
O MILAGRE DA PPP
Foi
há já mais de uma década que o país se lançou num ambicioso programa de
PPP na saúde. Em 2001, o governo de António Guterres lançou um pacote
de 10 projetos para a construção de hospitais públicos que durante uma
década seriam geridos pelos privados.
O
impulso estatal foi quase um milagre da multiplicação para os grupos
privados, que então viram, de norte a sul do país, novas oportunidades
para dar escala ao seu negócio. E "Escala" foi justamente o nome do
consórcio que a José de Mello Saúde montou (incluindo a construtora
Somague) para concorrer às PPP. O agrupamento do Grupo Mello venceria os
concursos para construir e gerir os novos hospitais de Braga e Vila
Franca de Xira. A concorrente Espírito Santo Saúde ganhou o concurso
para Loures. A HPP (hoje Lusíadas Saúde) ficou com a PPP de Cascais.
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Nos concursos então feitos, o Estado adjudicou as parcerias aos consórcios que apresentaram os mais baixos preços para a construção e gestão clínica. Além das unidades de Vila Franca, Braga, Loures e Cascais, havia uma segunda vaga de PPP, que acabou por avançar apenas parcialmente e contemplando só a vertente de construção (deixando a gestão clínica a cargo do próprio Estado).
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Nos concursos então feitos, o Estado adjudicou as parcerias aos consórcios que apresentaram os mais baixos preços para a construção e gestão clínica. Além das unidades de Vila Franca, Braga, Loures e Cascais, havia uma segunda vaga de PPP, que acabou por avançar apenas parcialmente e contemplando só a vertente de construção (deixando a gestão clínica a cargo do próprio Estado).
Os
quatro hospitais públicos que hoje estão a ser geridos pelos privados
têm tido indicadores de atividade positivos. Segundo Isabel Vaz, tem
sido feita uma aprendizagem com este modelo de negócio. "As parcerias
foram muito bem estruturadas", comenta. E não podia ser de outra forma:
depois da conturbada PPP do Hospital Fernando da Fonseca
(Amadora-Sintra), o Estado e os privados teriam necessariamente de tirar
lições. A sociedade gestora do Amadora--Sintra (que era liderada pelo
Grupo Mello) dirimiu durante anos um conflito judicial com a
Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo devido às
divergências nos valores de acerto no pagamento dos serviços prestados
naquele hospital.
Apesar da difícil
experiência do Amadora-Sintra, Salvador de Mello considera que "as PPP
na saúde são um caso de sucesso, reconhecido por todas as partes
envolvidas, com melhorias de qualidade, melhor acesso aos cuidados de
saúde e ganhos de eficiência muito importantes para o Estado português".
Mas está tudo a funcionar na perfeição? Não.
Salvador
de Mello nota que, segundo um levantamento da ACSS, "o hospital de
Braga é considerado a unidade mais eficiente do país, com custos
operacionais por doente-padrão mais reduzidos e melhores cuidados". Mas o
gestor não esconde que "o relacionamento financeiro pode e deve
melhorar, na medida em que o Estado tem dificuldades em pagar
atempadamente".
Na Luz Saúde, o
histórico de PPP é mais curto. Resume-se ao hospital de Loures, que
entrou em funcionamento em janeiro de 2012. E com menos de quatro anos
de operações a Luz Saúde já tem questões para resolver com o Estado. A
empresa reclama, desde fevereiro de 2014, o financiamento de tratamentos
de doentes com SIDA (no valor de 3,6 milhões de euros até junho de
2015). Além disso, existe uma arbitragem entre a entidade gestora do
hospital (liderada pela Luz Saúde) e o Estado por divergências sobre o
pagamento de médicos em formação na unidade de Loures.
Não
obstante as PPP continuarem a levantar alguns conflitos, a verdade é
que os operadores privados continuam a ter no Estado uma base relevante
para a sustentação do seu negócio. Não só nas PPP mas também nas
unidades privadas que recebem e tratam os funcionários públicos (e
familiares) que têm ADSE.
O economista
Pedro Pita Barros reconhece que a contribuição da ADSE para o negócio
dos privados é "quantitativamente relevante", mas assinala como
"provável" que, a prazo, uma parte dos beneficiários do subsistema
estatal migre para seguros privados. Este é, aliás, um movimento que já
está a acontecer.
A POPULARIDADE DOS SEGUROS
Os
seguros privados são uma parte muito relevante da sustentabilidade do
sector. No seu relatório do primeiro semestre, a Luz Saúde observa que
"o mercado de seguros de saúde em Portugal tem continuado a sua
trajetória histórica de crescimento, com um aumento de 5% face ao
período homólogo no valor dos prémios adquiridos no primeiro semestre de
2015, para cerca de 300 milhões de euros". Mas a empresa assume também
que a concorrência nos seguros de saúde está a introduzir alguma pressão
sobre os preços praticados.
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E poderá o
crescimento dos seguros, ao desviar procura para o sector privado,
ameaçar a viabilidade do próprio SNS? Pedro Pita Barros não o crê. "A
aceleração do crescimento do mercado de seguros de saúde privado é
basicamente irrelevante para o financiamento global do sistema de saúde
português. Os seguros de saúde são ainda uma componente muito pequena
dos fundos que circulam no sistema de saúde. Os problemas futuros de
financiamento do sistema de saúde e do SNS não têm a sua solução, ou
agravamento, a passar pelo que suceder aos seguros de saúde privados",
analisa o economista.
Em comparação
com outros países, o mercado nacional dos seguros privados é
relativamente pequeno. Dados da OCDE (Organização para a Cooperação e
Desenvolvimento Económico) indicam que em 2012 os seguros desaúde
privados cobriam 20% da população portuguesa, enquanto na União Europeia
essa cobertura ultrapassava 40%.
Em
março deste ano, a Entidade Reguladora da Saúde (ERS) publicou um estudo
notando que os seguros privados "têm apresentado um crescimento
significativo em Portugal, ao passo que o financiamento público das
despesas em saúde tem apresentado uma tendência de queda". Apesar de o
potencial deste mercado ser limitado pela crise (que veio diminuir o
rendimento das famílias), a ERS prevê que os seguros de saúde privados
"deverão continuar a apresentar crescimento em Portugal a médio prazo".
José
Carlos Magalhães, presidente do Grupo Lusíadas Saúde, nota que os
seguros privados são cada vez mais bem vistos pelas famílias. "Se eu
estiver muito doente, o SNS trata-me muito bem, mas se eu estiver com
uma mazela crónica, aí enrola. É esta a principal motivação para as
pessoas comprarem seguros de saúde hoje em dia", refere. Mas isso,
adverte, está a mudar. "As pessoas estão a começar a comprar seguros de
saúde porque se sentem inseguras em relação ao SNS. Quando cheguei (a
Portugal), há dois anos e meio, a motivação era a conveniência, porque
podiam marcar a consulta de oftalmologista para o dia seguinte, sem
esperar um ano ou dois", conta. O mercado da saúde privada tem uma
procura crescente. Para onde poderá caminhar? "É preciso investir nos
cuidados continuados e paliativos", sugere Artur Osório. As
oportunidades de negócio não faltam, portanto.
MELLO ABRE OS CORDÕES À BOLSA
MELLO ABRE OS CORDÕES À BOLSA
Líder
na saúde privada, o Grupo Mello tem investido largos milhões na sua
expansão pelo país fora. Ir para a bolsa é "uma opção em aberto"
É
um dos mais valiosos ativos do Grupo Mello: com 70 anos de vida (o
hospital CUF Infante Santo foi fundado em 1945), a José de Mello Saúde é
o maior prestador privado de cuidados de saúde em Portugal, faturando
mais de 500 milhões de euros ao ano. A radiografia da empresa presidida
por Salvador de Mello evidencia boa saúde financeira. A crise dos
últimos anos não impediu a José de Mello Saúde de acumular lucros. A
empresa faturou 532 milhões de euros em 2014, crescendo 8% face ao
exercício anterior, tendo o seu lucro subido 35%, para 17 milhões de
euros. No plano operacional, os indicadores são também positivos: em
2014 a rede contabilizou 1,8 milhões de consultas e 568 mil episódios de
urgência, com crescimentos de 14% e 7%, respetivamente. O número de
camas para internamento teve um ligeiro aumento de 3%, para 1483
unidades.
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A história da José de Mello Saúde teve os seus momentos críticos. Em 2006 o grupo tentou internacionalizar-se, comprando uma participação na espanhola Quirón, posição que viria a alienar em 2012. Em 2008 o grupo foi afastado da polémica parceria público-privada (PPP) do Hospital Fernando da Fonseca (Amadora-Sintra), que gerou um longo litígio com o Estado. Em 2014 a José de Mello Saúde tentou comprar a Espírito Santo Saúde, mas perdeu para a Fidelidade. Certo é que o Grupo Mello continua a investir para crescer. A par com a PPP do novo hospital de Braga, a empresa aplicou 70 milhões de euros no Hospital CUF Porto. Já em 2015 abriu a clínica CUF Miraflores e comprou o Hospital Privado de Santarém. A expansão continuará em Lisboa e Viseu, com investimentos de 150 milhões de euros. E cotar a empresa em bolsa? Embora não esteja nos planos, não deixa de ser um cenário. "Essa é uma opção sempre em aberto, em função das circunstâncias", admite Salvador de Mello.
A história da José de Mello Saúde teve os seus momentos críticos. Em 2006 o grupo tentou internacionalizar-se, comprando uma participação na espanhola Quirón, posição que viria a alienar em 2012. Em 2008 o grupo foi afastado da polémica parceria público-privada (PPP) do Hospital Fernando da Fonseca (Amadora-Sintra), que gerou um longo litígio com o Estado. Em 2014 a José de Mello Saúde tentou comprar a Espírito Santo Saúde, mas perdeu para a Fidelidade. Certo é que o Grupo Mello continua a investir para crescer. A par com a PPP do novo hospital de Braga, a empresa aplicou 70 milhões de euros no Hospital CUF Porto. Já em 2015 abriu a clínica CUF Miraflores e comprou o Hospital Privado de Santarém. A expansão continuará em Lisboa e Viseu, com investimentos de 150 milhões de euros. E cotar a empresa em bolsa? Embora não esteja nos planos, não deixa de ser um cenário. "Essa é uma opção sempre em aberto, em função das circunstâncias", admite Salvador de Mello.
A LUZ DIVINA QUE VEIO DA CHINA
Nasceu
por obra do Grupo Espírito Santo, mas o destino quis que ficasse em
mãos chinesas. Passou a ser a LuzSaúde. E manteve a liderança feminina
A
Luz Saúde, nova designação da antiga Espírito Santo Saúde, é hoje o
segundo maior operador no seu sector. Posicionada logo a seguir à José
de Mello Saúde, a companhia presidida por Isabel Vaz teve num curto
período de vida um crescimento explosivo e um agitado processo de
mudança de controlo acionista. A jovem empresa nasceu há 15 anos, dentro
do Grupo Espírito Santo (GES), com a compra de dois hospitais em Aveiro
e Vila Nova de Gaia, a que se seguiria uma terceira unidade em Évora.
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Nos anos seguintes prosseguiu com aquisições e investimentos de raiz, como o Hospital da Luz, em Lisboa, inaugurado em 2007 por Ricardo Salgado. À semelhança do Grupo Mello, a Espírito Santo Saúde esteve na corrida das parcerias público-privadas (PPP), conquistando em 2009 o Hospital de Loures.A companhia presidida por Isabel Vaz aproveitou o fluxo crescente de resultados para se lançar, em 2014, numa aventura bem sucedida: a 12 de fevereiro tornou--se a primeira empresa portuguesa de saúde em bolsa, dispersando 49% do capital. Poucos meses depois, em paralelo com o colapso do GES, iniciou-se uma acesa disputa pela companhia.
A Espírito Santo Saúde foi alvo de ofertas públicas de aquisição (OPA) da mexicana Ángeles, da José de MelloSaúde e da Fidelidade, controlada pela chinesa Fosun. Foram estes últimos que conseguiram, em outubro de 2014, o acordo do GES para ficar com a empresa, cujo nome mudou para Luz Saúde. Sem a graça do Espírito Santo, mas com um novo suporte acionista chinês, a empresa viu o futuro iluminar-se. A Luz Saúde faturou 402 milhões de euros em 2014 (mais 7% do que em 2013) e lucrou 18,1 milhões (acima do conseguido pela José de Mello Saúde). Com 1,6 milhões de consultas e 540 mil urgências por ano, a empresa estuda a internacionalização, mas o projeto de abrir um hospital em Angola ainda não se concretizou.
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Nos anos seguintes prosseguiu com aquisições e investimentos de raiz, como o Hospital da Luz, em Lisboa, inaugurado em 2007 por Ricardo Salgado. À semelhança do Grupo Mello, a Espírito Santo Saúde esteve na corrida das parcerias público-privadas (PPP), conquistando em 2009 o Hospital de Loures.A companhia presidida por Isabel Vaz aproveitou o fluxo crescente de resultados para se lançar, em 2014, numa aventura bem sucedida: a 12 de fevereiro tornou--se a primeira empresa portuguesa de saúde em bolsa, dispersando 49% do capital. Poucos meses depois, em paralelo com o colapso do GES, iniciou-se uma acesa disputa pela companhia.
A Espírito Santo Saúde foi alvo de ofertas públicas de aquisição (OPA) da mexicana Ángeles, da José de MelloSaúde e da Fidelidade, controlada pela chinesa Fosun. Foram estes últimos que conseguiram, em outubro de 2014, o acordo do GES para ficar com a empresa, cujo nome mudou para Luz Saúde. Sem a graça do Espírito Santo, mas com um novo suporte acionista chinês, a empresa viu o futuro iluminar-se. A Luz Saúde faturou 402 milhões de euros em 2014 (mais 7% do que em 2013) e lucrou 18,1 milhões (acima do conseguido pela José de Mello Saúde). Com 1,6 milhões de consultas e 540 mil urgências por ano, a empresa estuda a internacionalização, mas o projeto de abrir um hospital em Angola ainda não se concretizou.
A APOSTA BRASILEIRA
A Amil
escolheu Portugal como porta de entrada na Europa. Comprou, em 2013, a
Hospitais Privados de Portugal, que rebatizou de Grupo Lusíadas Saúde
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Chegaram
a Portugal em 2012 para comprar à Caixa Geral de Depósitos uma empresa
sem rumo, como recorda José Carlos Magalhães, o "estrangeiro" que
liderou a aquisição pela Amil da Hospitais Privados de Portugal (HPP). A
empresa brasileira aterrava, assim, em Lisboa vinda do outro lado do
Atlântico, com Portugal como porta de entrada na Europa. O negócio
fez-se, no início de 2013, por 85,6 milhões de euros, e incluiu uma
parceria público-privada (PPP), à qual o presidente do conselho de
administração do Grupo Lusíadas Saúde (a nova denominação da HPP) torceu
o nariz. O que lhe interessou logo foram as unidades hospitalares
privadas que a Caixa tinha em Lisboa e no Porto, onde identificou
"potencial para fazer um trabalho fenomenal".
A PPP do Hospital de Cascais viria por arrasto, mas acabou por surpreender "positivamente" o gestor. Mudaram as equipas de gestão dos hospitais do grupo e centralizaram "tudo", reorganizando o marketing, os recursos humanos, as finanças, a contabilidade e os stocks. A 'arrumação da casa' deverá ficar concluída até final de 2015, antes dos cinco anos previstos. Magalhães revela que deixaram de perder dinheiro em Cascais e que conseguiram reverter a situação económico--financeira de todo o grupo, que hoje é "rentável". Pelo meio, ampliaram o Hospital dos Lusíadas, em Lisboa (tem um novo bloco para consultas e exames), mas é preciso aumentar mais o número de camas. Os investimentos e os resultados do grupo não são quantificados pelo gestor, devido às restrições de ter um acionista cotado em Bolsa (a Amil foi comprada, em 2013, pelo gigante norte-americano UnitedHealth Group). O plano é continuar a crescer (tentaram comprar a Espírito Santo Saúde, atual Luz Saúde, numa oferta pública de aquisição feita fora de Bolsa) e há também ambições de internacionalização, num plano ainda a definir, mas no qual Espanha será um mercado óbvio.
A PPP do Hospital de Cascais viria por arrasto, mas acabou por surpreender "positivamente" o gestor. Mudaram as equipas de gestão dos hospitais do grupo e centralizaram "tudo", reorganizando o marketing, os recursos humanos, as finanças, a contabilidade e os stocks. A 'arrumação da casa' deverá ficar concluída até final de 2015, antes dos cinco anos previstos. Magalhães revela que deixaram de perder dinheiro em Cascais e que conseguiram reverter a situação económico--financeira de todo o grupo, que hoje é "rentável". Pelo meio, ampliaram o Hospital dos Lusíadas, em Lisboa (tem um novo bloco para consultas e exames), mas é preciso aumentar mais o número de camas. Os investimentos e os resultados do grupo não são quantificados pelo gestor, devido às restrições de ter um acionista cotado em Bolsa (a Amil foi comprada, em 2013, pelo gigante norte-americano UnitedHealth Group). O plano é continuar a crescer (tentaram comprar a Espírito Santo Saúde, atual Luz Saúde, numa oferta pública de aquisição feita fora de Bolsa) e há também ambições de internacionalização, num plano ainda a definir, mas no qual Espanha será um mercado óbvio.
A REVIRAVOLTA DA TROFA SAÚDE
O
grupo da família Vila Nova nasceu na Trofa, mas ambiciona ser mais que
um operador de saúde da Região Norte. Em 2014 a Trofa Saúde cresceu 11%
Fundada
em 1999, a Trofa Saúde é hoje uma das maiores empresas na prestação de
cuidados de saúde privados em Portugal, tendo alcançado no ano passado
um volume de negócios de 77 milhões de euros, mais 11% do que no ano
anterior. Para 2015 a meta é chegar a 100 milhões de euros de receitas.
Mas se o crescimento de dois dígitos mostra que a marca Trofa Saúde está
hoje em boa forma, nem sempre foi assim. Assumindo-se ainda como um
grupo de "características regionais", a empresa já teve ativos no Sul do
país, mas desfez-se deles. Em todo o caso, a sua administração continua
a ter vontade de investir numa grande unidade hospitalar na Região de
Lisboa. "O grupo fez um plano de expansão, mas, com a crise, entrou numa
derrapagem financeira grave", recorda Artur Osório, vice-presidente da
Trofa Saúde e presidente da Associação Portuguesa de Hospitalização
Privada.
Há quatro anos, a estrutura acionista da Trofa Saúde alterou-se: o fundador, José Vila Nova, saiu da empresa, que passou a ser liderada pelo seu irmão António Vila Nova. "Aguentámos o grupo e os hospitais que estavam a abrir", recorda Artur Osório. Hoje a empresa criada a partir da Casa de Saúde da Trofa tem uma rede com seis hospitais e duas policlínicas e uma oferta de 578 camas. No ano passado a rede da Trofa Saúde contabilizou 866 mil consultas, com um crescimento de quase 17% em termos homólogos. Segundo Artur Osório, a empresa acumulou prejuízos de 2010 a 2012, mas a partir de 2013 voltou a gerar resultados positivos. "Para o ano conseguiremos ter o nosso passivo resolvido", prevê o vice-presidente da TrofaSaúde, que diz que a chave do crescimento da empresa tem sido uma estrutura de custos relativamente leve. "Temos poucos quadros intermédios e processos de controlo da eficiência do pessoal muito apurados", descreve o gestor.
Há quatro anos, a estrutura acionista da Trofa Saúde alterou-se: o fundador, José Vila Nova, saiu da empresa, que passou a ser liderada pelo seu irmão António Vila Nova. "Aguentámos o grupo e os hospitais que estavam a abrir", recorda Artur Osório. Hoje a empresa criada a partir da Casa de Saúde da Trofa tem uma rede com seis hospitais e duas policlínicas e uma oferta de 578 camas. No ano passado a rede da Trofa Saúde contabilizou 866 mil consultas, com um crescimento de quase 17% em termos homólogos. Segundo Artur Osório, a empresa acumulou prejuízos de 2010 a 2012, mas a partir de 2013 voltou a gerar resultados positivos. "Para o ano conseguiremos ter o nosso passivo resolvido", prevê o vice-presidente da TrofaSaúde, que diz que a chave do crescimento da empresa tem sido uma estrutura de custos relativamente leve. "Temos poucos quadros intermédios e processos de controlo da eficiência do pessoal muito apurados", descreve o gestor.
* Um trabalho de pesquisa de excelência onde fica saliente que todas estas empresas só existem com lucros fabulosos porque mamam na "Teta Estatal", em detrimento do SNS.
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