14/09/2015

RAQUEL CARRILHO

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Culpa, a inimiga 
número 1 das mulheres

Acho que não existe muita coisa mais castradora para as mulheres do que o conceito de culpa. Isso e, talvez, os filmes da Disney, que fizeram com que crescêssemos a acreditar que, um dia, viria um príncipe encantado salvar-nos de uma vida terrível.

E assim se cresce a achar que, por um lado, temos de ser salvas para conseguirmos ser felizes. E por outro, se não formos salvas, a culpa é claramente nossa, num assumir da inferioridade feminina.

Se algo corre mal, a culpa é nossa. Se uma mulher não engravida, a culpa é dela. Se não tem um parto natural, a culpa é dela. Se não amamenta, idem, tal como se não passa tempo suficiente com os filhos ou se estes têm más notas. E se há um divórcio, foi porque a mulher se desleixou. Claro. No limite, se o marido bateu na mulher, há quem acredite que foi porque ela fez algo de errado.

O conceito está de tal forma enraizado na nossa sociedade que, por vezes, é a própria mulher a assumi-lo. Mas quando apresentamos este raciocínio, aparece logo alguém a dizer que lá estamos nós a vitimizar-nos, como se tudo isto fosse normal. Sim, até admitimos que podemos estar a dramatizar excessivamente, mas também que poucos momentos na vida foram tão libertadores como aquele em que nos livrámos da culpa. E, já agora, dos malditos príncipes da Disney.

À beira dos 37 anos, já não tenho dúvidas. Pelo menos, não neste campo, que noutros tenho e não são poucas. Já sei que os príncipes não chegam em cavalos brancos e seguramente não nos vêm salvar. Até porque não preciso de ser salva. Nem eu nem nenhuma mulher. E sei-o sem nenhum sentimento de culpa.

IN "i"
12/09/15

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