04/06/2015

MARGARIDA ESPAÑA

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A Cirurgia de Ambulatório 
como modelo preferencial 
do tratamento cirúrgico 
das crianças 

A necessidade de uma intervenção cirúrgica numa criança provoca um desequilíbrio em toda a estrutura familiar, não só pela preocupação inerente ao ato em si, mas também pela interferência na vida do quotidiano, muito particularmente o afastamento do lar.

Uma excelente opção para minimizar muitos destes incómodos é a Cirurgia Ambulatória (CA) que embora, de um ponto de vista purista, seja definida pela International Association for Ambulatory Surgery (IAAS) como a realização de uma intervenção de Cirurgia Programada, tradicionalmente efetuada em regime de internamento, cuja alta ocorre poucas horas após o procedimento, sem necessidade de pernoita hospitalar, considera-se, de um ponto de vista mais lato, abranger também nesta definição as situações em que o doente necessita no pós-operatório, de ficar a primeira noite no Hospital, tendo alta até 24h após a operação, passando a designar-se CA com pernoita.

As crianças tratadas em CA devem sê-lo por equipas particularmente dedicadas a esta forma de tratamento, preferencialmente em Unidades Pediátricas ou nas situações que tenham de utilizar Unidades partilhadas com adultos, em horários ou dias exclusivamente dedicados à Pediatria.

Existem critérios internacionais para admissão dos doentes em programas de CA, e muitos dos doentes pediátricos preenchem-nos, dado que uma percentagem muito significativa das patologias que carecem de tratamento cirúrgico na idade pediátrica são passiveis de ser realizadas nesta modalidade e também porque as crianças são os doentes ideais para este regime, por normalmente não sofrerem de doenças complexas associadas e de terem sempre, no pós-operatório, o apoio de um adulto responsável, seja ele um progenitor ou outro familiar ou um cuidador.
O facto de passar poucas horas no Hospital é muito menos traumatizante para a criança, diminui a alteração da vida quotidiana do agregado familiar, permite uma mais rápida reinserção no meio familiar e escolar e diminui de forma significativa o risco de complicações, nomeadamente infeções hospitalares.

Naturalmente que a CA exige uma maior segurança para o doente que se traduz tanto a nível das equipas multidisciplinares que tratam a criança, obrigando estas a uma maior excelência na sua prática, mas também um enorme cuidado na informação, tanto verbal como escrita, prestada aos doentes e seus familiares ou cuidadores. Também é indispensável a abertura de canais de fácil comunicação entre todos, que devem ir para além dos telefonemas da véspera e do dia seguinte à intervenção cirúrgica. Os doentes e seu agregado devem sentir-se confortáveis com esta modalidade terapêutica, estando conscientes que têm a qualquer momento que seja necessário o apoio de uma equipa multidisciplinar preparada e motivada.

A Cirurgia de Ambulatório (CA) é, hoje em dia, um modelo ótimo de assistência cirúrgica multidisciplinar. Tendencialmente, vai deixar de ser um conceito temporal de internamento pós-operatório para passar a ser um modelo de Qualidade centrado no Utente.

A Associação Portuguesa de Cirurgia Ambulatória (APCA) tem como principal objetivo defender, promover e protagonizar o processo de evolução da cirurgia de ambulatório em Portugal. Para mais informação sobre a APCA, consulte: http://www.apca.com.pt/.

Médica
Membro da Direção da Associação Portuguesa de Cirurgia Ambulatória (APCA)

IN "DIÁRIO DE NOTÍCIAS DA MADEIRA"
31/05/15

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