27/06/2015

LUÍS ALMEIDA

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História breve 
da irresponsabilidade

Até ao último segundo: há acordo, não há acordo. O Eurogrupo vai manter-se em suspense, a Europa dos cidadãos em vigília. E é completamente inútil vaticinar se Tsripas e Varofakis vão ceder. Vive-se uma verdadeira demanda em busca de um entendimento mínimo, com muitos nervos e muita paciência à mistura. Apenas uma Europa unida e com nervos de aço para resistir a uma dupla de brincalhões sem graça nenhuma. E se Tsripas e Varofakis julgam que se está a jogar uma partida de xadrez, em que de seguida vão todos celebrar, então é porque uma perceção míope da realidade. E lá vão beneficiando da sorte, pois Merkel e companhia até gostam dos gregos. E talvez esta ceda no que tiver de ceder. Mas a maior cedência, sobretudo cedência moral, terá de partir do governo helénico. 

Até tal acontecer, assustaram os mercados bolsistas europeus para um nível perto do abismo e originaram um ataque de nervos em pequenos e médios investidores. A dupla Tsripas-Varofakis, que pelos vistos quer fazer vergar o FMI a uma humilhação à dimensão planetária, tem grandes semelhanças com as personagens dos contos de fadas. Pelo menos são destituídas de sentido de responsabilidade. E que FMI restará quando outros países vierem a necessitar dele, a não ser elevar o nível de exigência dos compromissos financeiros?

Num certo sentido, a dupla grega dirá os outros que paguem. Os outros, quem? Os europeus, pois claro, entre eles os portugueses. E se estamos já a pagar as nossas asneiras, estaremos disponíveis para pagar as asneiras dos gregos? Merecíamos isto? Sim, solidariedade europeia, concordo, mas os gregos que se esforcem um pouco mais!

De regresso a Atenas, Tsripas faz uns discursos tipo cortina de fumo, entre a revolta e a auto comiseração. O discurso varia conforme o tabuleiro: para dentro de casa diz que não fará as reformas que a Europa impõe, e ataca duramente as políticas do Banco Central Europeu e seus parceiros. Não interessa que os principais visados sejam os seus principais credores, ou seja, aqueles que se dispuseram a emprestar dinheiro à Grécia quando ela necessitou, e quem, no limite, poderá voltar a emprestar. Tsripas não quer saber de nada disto. Acha que a estratégia de persistente avanço e recuo, do bate e foge, acabará um dia por funcionar. Da mesma forma que os mercados stressam e reagem mal, também um dia relaxam sem que a Grécia e a sua tragédia os influencie. Nesse dia, veremos quem toca a guitarra.

É evidente que o Syriza está convencido que surgiu do lado certo da História. Apenas enganaram-se à razão de, pelo menos, 100 anos. Suportar que a luta de classes e a revolução bolchevique é o caminho para a libertação dos povos da terra é, além de uma ingenuidade imensurável, um anacronismo e uma utopia sem precedente. E o discurso emproado que adotam é um discurso falido e maniqueísta. E o que se opõe a estes discursos, hoje, é um liberalismo ocidental, regulado e popular, plural e democrático, que, com as suas imperfeições, ajudou a criar modelos de desenvolvimento sociais, económicos, e até intelectuais, ímpares. Ou seguimos defendendo esses valores tal como os conhecemos, ou a História acaba no Syriza e fomos nós que ainda não percebemos!?

IN "AÇORIANO ORIENTAL"
26/06/2015

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