História breve
da irresponsabilidade
Até ao último segundo: há acordo, não há acordo. O Eurogrupo
vai manter-se em suspense, a Europa dos cidadãos em vigília. E é
completamente inútil vaticinar se Tsripas e Varofakis vão ceder. Vive-se
uma verdadeira demanda em busca de um entendimento mínimo, com muitos
nervos e muita paciência à mistura. Apenas uma Europa unida e com nervos
de aço para resistir a uma dupla de brincalhões sem graça nenhuma. E se
Tsripas e Varofakis julgam que se está a jogar uma partida de xadrez,
em que de seguida vão todos celebrar, então é porque uma perceção míope
da realidade. E lá vão beneficiando da sorte, pois Merkel e companhia
até gostam dos gregos. E talvez esta ceda no que tiver de ceder. Mas a
maior cedência, sobretudo cedência moral, terá de partir do governo
helénico.
Até tal acontecer, assustaram os mercados bolsistas europeus
para um nível perto do abismo e originaram um ataque de nervos em
pequenos e médios investidores. A dupla Tsripas-Varofakis, que pelos
vistos quer fazer vergar o FMI a uma humilhação à dimensão planetária,
tem grandes semelhanças com as personagens dos contos de fadas. Pelo
menos são destituídas de sentido de responsabilidade. E que FMI restará
quando outros países vierem a necessitar dele, a não ser elevar o nível
de exigência dos compromissos financeiros?
Num certo sentido, a dupla grega dirá os outros que paguem. Os
outros, quem? Os europeus, pois claro, entre eles os portugueses. E se
estamos já a pagar as nossas asneiras, estaremos disponíveis para pagar
as asneiras dos gregos? Merecíamos isto? Sim, solidariedade europeia,
concordo, mas os gregos que se esforcem um pouco mais!
De regresso a Atenas, Tsripas faz uns discursos tipo cortina de fumo,
entre a revolta e a auto comiseração. O discurso varia conforme o
tabuleiro: para dentro de casa diz que não fará as reformas que a Europa
impõe, e ataca duramente as políticas do Banco Central Europeu e seus
parceiros. Não interessa que os principais visados sejam os seus
principais credores, ou seja, aqueles que se dispuseram a emprestar
dinheiro à Grécia quando ela necessitou, e quem, no limite, poderá
voltar a emprestar. Tsripas não quer saber de nada disto. Acha que a
estratégia de persistente avanço e recuo, do bate e foge, acabará um dia
por funcionar. Da mesma forma que os mercados stressam e reagem mal,
também um dia relaxam sem que a Grécia e a sua tragédia os influencie.
Nesse dia, veremos quem toca a guitarra.
É evidente que o Syriza está convencido que surgiu do lado certo da
História. Apenas enganaram-se à razão de, pelo menos, 100 anos. Suportar
que a luta de classes e a revolução bolchevique é o caminho para a
libertação dos povos da terra é, além de uma ingenuidade imensurável, um
anacronismo e uma utopia sem precedente. E o discurso emproado que
adotam é um discurso falido e maniqueísta. E o que se opõe a estes
discursos, hoje, é um liberalismo ocidental, regulado e popular, plural e
democrático, que, com as suas imperfeições, ajudou a criar modelos de
desenvolvimento sociais, económicos, e até intelectuais, ímpares. Ou
seguimos defendendo esses valores tal como os conhecemos, ou a História
acaba no Syriza e fomos nós que ainda não percebemos!?
IN "AÇORIANO ORIENTAL"
26/06/2015
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