24/04/2015

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502.
Senso d'hoje

AHMED ABADALLA
PORTA VOZ DOS 
REFUGIADOS DA BOBADELA
 EX-CIDADÃO DA SOMÁLIA 
  SOBRE AS RAZÕES DA 
EMIGRAÇÃO CLANDESTINA

No meio da confusão, choro de crianças e gritos, não consegui perceber imediatamente se a minha família tinha sobrevivido à bomba que nos destruíra a casa. Pela maneira como a minha mulher segurava os nossos três filhos não dava para distinguir se o mais novo, o único rapaz, na altura com seis meses, tinha sobrevivido. A princípio pareceu-me que não, mas afinal tinha. Foi sorte, tinham-se atrasado no mercado. 

É por isso que quando me perguntam se tenho medo de atravessar o Mediterrâneo, eu não percebo a pergunta. Medo? Eu tenho medo é de ficar.
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"Não vamos à procura de uma vida melhor. Vamos à procura de vida. Atrás de nós só há morte"

"Queremos paz, só quem não a tem, quem não vê os amigos e família a caírem com a violência da guerra, pode querer mais".


São 25 pessoas num barco de oito metros. Já não posso voltar atrás. Tenho medo. Mas, novamente, vence a esperança. Em cada momento, em cada hora, penso que vou morrer. O barco é pequenino, abana, não há espaço para nos mexermos. A única água que entrava é a salgada, a do mar que nunca parou de se impor naquelas 48 horas. Vejo a morte de frente.


* Excertos de emocionante entrevista ao "EXPRESSO"


** É nossa intenção, quando editamos pequenos excertos de entrevistas, suscitar a curiosidade de quem os leu de modo a procurar o site do orgão de comunicação social, onde poderá ler ou ver a entrevista por inteiro.  

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