10/04/2015

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HOJE NO
 "i"

Cada vez mais portugueses 
optam por não casar

Há cada vez mais casais que optam por viver em juntos sem dizer o sim. E casar pode não ser sinónimo de "felizes para sempre"

Sair de casa dos pais para casar e ter filhos: era assim que acontecia até há poucas décadas. Era assim, mas agora é cada vez menos. O casamento de papel passado deixou de ser tradição. O número de uniões de facto quase duplicou em dez anos, mas não é só porque os casais portugueses não gostam de entrar na igreja ou no cartório de vestido branco e fato preto, avisam os especialistas. É também porque hoje há mais liberdade para escolher como se quer juntar os trapinhos.  
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Carlos Bernardes e Custódia Félix contribuem para esta nova tendência que mostra que as uniões de facto subiram de 381 mil para 730 mil na última década, bem como para a percentagem dos filhos fora do casamento ser hoje de 42%. O casal de Lisboa está junto há 35 anos e tem uma filha de 26. Se fosse por vontade de Custódia, já teriam festejado as bodas de prata há muito. “Não vou mentir. Toda a gente sabe que é um sonho meu”, conta. Só que, para Carlos, o casamento pouco ou nada significa: “O relacionamento não tem a ver com a assinatura de um papel. Mas esta é a minha versão.” 
No início, o casamento até estava nos planos mas, quando quiseram comprar casa, depararam-se com um obstáculo: arranjar dinheiro para os juros do empréstimo. Os ordenados eram baixos e os juros de 26,5% ao ano. Carlos passou uma semana a fazer contas. “Fiz tudo para reduzir ao máximo as despesas.” E descobriu que, se contraísse um empréstimo enquanto solteiro, os juros baixavam para os 19,5%. 
O casamento de papel passado iria, portanto, influenciar muito as despesas do casal. “A partir de um determinado momento, caí naquela situação que nem aquece nem arrefece”, confessa Carlos. A decisão foi anunciada a Custódia sem pompa nem cerimónia. Ou seja, estavam ambos no autocarro 58 a subir a Rua D. João V. E o timing não podia ser pior: oito dias antes de a filha ser baptizada e do aniversário dos 30 anos de Custódia: “Foi a maior mágoa que tive e hei-de ficar com ela até morrer”, suspira. 
Acabou por engolir a tristeza. Afinal, era o necessário para seguir em frente, mas o sonho, esse, nunca o abandonou: “Casaria sempre, toda a vida. Até ao caixão. Eu estou bem mas só 80%, faltam-me os outros 20%. Estar com a família e dizer, convicta: ‘É o meu marido.’ Isto deve saber tão bem...” É o que lhe falta para a felicidade plena. Mas reconhece que é apenas um capricho do coração: “Não tem nada a ver com os outros. Tenho a minha vida construída e ninguém me vai tirar nada.”  
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E também ninguém vai fazê-la desistir dos planos: “Já disse que faço a festa cá em casa. Faço os bolos e tudo. Até o pedi em casamento de joelhos”, confidencia, entre risos. E, perante tanta insistência, estiveram quase para casar, mas “depois não aconteceu”. Apesar disso, Carlos e Custódia estão convencidos de que como casal “funcionam muito melhor” do que boa parte dos casados. 
E até passaram a fazer o IRS em conjunto. “Quando deixou de haver interesses, obviamente que fez sentido termos uma união de facto”, conta Carlos. “É uma questão de negócio. E o casamento, também não é um negócio?”, questiona. Não ser casado poderia até vir a ser um problema na hora de baptizar a filha mas, com boa vontade, tudo foi possível, contam: “O padre disse que não havia problema. Bastou que um dos padrinhos fosse baptizado.” 
FEITIÇO QUEBRADO 
Casar a meio do jogo também acontece, mas nem sempre com um final feliz. Joana e o marido namoraram oito meses e estiveram 12 anos em união de facto. É um bom recorde, mas o encantamento acabou justamente no dia em que disseram o sim perante o padre. 
Joana conheceu o marido quando tinha 21 anos. Ele era dois anos mais novo. “Foi paixão à primeira vista. Não quero dizer amor porque esse é um sentimento grandioso”, conta. Viveram mais de uma década em união de facto. E decidiram casar após nascer o filho. Influenciados pelas pressões, tanto das famílias de ambos como de um padre amigo, resolveram há dois anos que deveriam dar o grande passo: “Se fosse hoje, não tinha casado”, confessa, acrescentando que, quando disseram o sim, algo ficou diferente: “Muda o encantamento e surge um sentimento de posse: já és minha.”  
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Seja lá o que aconteceu, foi o suficiente para Joana concluir agora ter sido mais feliz enquanto viveu em união de facto. Ter um filho pequeno tornou a conjugalidade mais exigente, e esse estranho sentimento de que o casamento torna os maridos e as mulheres peças adquiridas também contribuiu para quebrar o feitiço: “Quando casámos, acomodámo-nos, e isso matou o romantismo, a conquista”, diz Joana. “Antes, estávamos juntos porque queríamos, não era o papel que definia a nossa vida.” 

* Importante é AMAR!

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