HOJE NO
"i"
Cada vez mais portugueses
optam por não casar
Há cada vez mais casais que optam por viver em juntos sem dizer o sim. E casar pode não ser sinónimo de "felizes para sempre"
Sair
de casa dos pais para casar e ter filhos: era assim que acontecia até
há poucas décadas. Era assim, mas agora é cada vez menos. O casamento de
papel passado deixou de ser tradição. O número de uniões de facto quase
duplicou em dez anos, mas não é só porque os casais portugueses não
gostam de entrar na igreja ou no cartório de vestido branco e fato
preto, avisam os especialistas. É também porque hoje há mais liberdade
para escolher como se quer juntar os trapinhos.
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Carlos Bernardes e Custódia Félix
contribuem para esta nova tendência que mostra que as uniões de facto
subiram de 381 mil para 730 mil na última década, bem como para a
percentagem dos filhos fora do casamento ser hoje de 42%. O casal de
Lisboa está junto há 35 anos e tem uma filha de 26. Se fosse por vontade
de Custódia, já teriam festejado as bodas de prata há muito. “Não vou
mentir. Toda a gente sabe que é um sonho meu”, conta. Só que, para
Carlos, o casamento pouco ou nada significa: “O relacionamento não tem a
ver com a assinatura de um papel. Mas esta é a minha versão.”
No início, o casamento até estava nos
planos mas, quando quiseram comprar casa, depararam-se com um obstáculo:
arranjar dinheiro para os juros do empréstimo. Os ordenados eram baixos
e os juros de 26,5% ao ano. Carlos passou uma semana a fazer contas.
“Fiz tudo para reduzir ao máximo as despesas.” E descobriu que, se
contraísse um empréstimo enquanto solteiro, os juros baixavam para os
19,5%.
O casamento de papel passado iria,
portanto, influenciar muito as despesas do casal. “A partir de um
determinado momento, caí naquela situação que nem aquece nem arrefece”,
confessa Carlos. A decisão foi anunciada a Custódia sem pompa nem
cerimónia. Ou seja, estavam ambos no autocarro 58 a subir a Rua D. João
V. E o timing não podia ser pior: oito dias antes de a filha ser
baptizada e do aniversário dos 30 anos de Custódia: “Foi a maior mágoa
que tive e hei-de ficar com ela até morrer”, suspira.
Acabou por engolir a tristeza. Afinal,
era o necessário para seguir em frente, mas o sonho, esse, nunca o
abandonou: “Casaria sempre, toda a vida. Até ao caixão. Eu estou bem mas
só 80%, faltam-me os outros 20%. Estar com a família e dizer, convicta:
‘É o meu marido.’ Isto deve saber tão bem...” É o que lhe falta para a
felicidade plena. Mas reconhece que é apenas um capricho do coração:
“Não tem nada a ver com os outros. Tenho a minha vida construída e
ninguém me vai tirar nada.”
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E também ninguém vai fazê-la desistir
dos planos: “Já disse que faço a festa cá em casa. Faço os bolos e tudo.
Até o pedi em casamento de joelhos”, confidencia, entre risos. E,
perante tanta insistência, estiveram quase para casar, mas “depois não
aconteceu”. Apesar disso, Carlos e Custódia estão convencidos de que
como casal “funcionam muito melhor” do que boa parte dos casados.
E até passaram a fazer o IRS em
conjunto. “Quando deixou de haver interesses, obviamente que fez sentido
termos uma união de facto”, conta Carlos. “É uma questão de negócio. E o
casamento, também não é um negócio?”, questiona. Não ser casado poderia
até vir a ser um problema na hora de baptizar a filha mas, com boa
vontade, tudo foi possível, contam: “O padre disse que não havia
problema. Bastou que um dos padrinhos fosse baptizado.”
FEITIÇO QUEBRADO
Casar a meio do jogo também acontece, mas nem sempre com um final feliz. Joana e o marido namoraram oito meses e estiveram 12 anos em união de facto. É um bom recorde, mas o encantamento acabou justamente no dia em que disseram o sim perante o padre.
Casar a meio do jogo também acontece, mas nem sempre com um final feliz. Joana e o marido namoraram oito meses e estiveram 12 anos em união de facto. É um bom recorde, mas o encantamento acabou justamente no dia em que disseram o sim perante o padre.
Joana conheceu o marido quando tinha
21 anos. Ele era dois anos mais novo. “Foi paixão à primeira vista. Não
quero dizer amor porque esse é um sentimento grandioso”, conta. Viveram
mais de uma década em união de facto. E decidiram casar após nascer o
filho. Influenciados pelas pressões, tanto das famílias de ambos como de
um padre amigo, resolveram há dois anos que deveriam dar o grande
passo: “Se fosse hoje, não tinha casado”, confessa, acrescentando que,
quando disseram o sim, algo ficou diferente: “Muda o encantamento e
surge um sentimento de posse: já és minha.”
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Seja lá o que aconteceu, foi o
suficiente para Joana concluir agora ter sido mais feliz enquanto viveu
em união de facto. Ter um filho pequeno tornou a conjugalidade mais
exigente, e esse estranho sentimento de que o casamento torna os maridos
e as mulheres peças adquiridas também contribuiu para quebrar o
feitiço: “Quando casámos, acomodámo-nos, e isso matou o romantismo, a
conquista”, diz Joana. “Antes, estávamos juntos porque queríamos, não
era o papel que definia a nossa vida.”
* Importante é AMAR!
* Importante é AMAR!
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