17/02/2015

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436.
Senso d'hoje

PHILIPPE LEGRAIN
EX-CONSELHEIRO ECONÓMICO
DE DURÃO BARROSO
  SOBRE A EUROPA

Quando a crise financeira rebentou, foram todos a correr salvar os bancos, com consequências muito severas para as finanças públicas e sem resolver os problemas do sector bancário.
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O problema tornou-se europeu quando surgiram os problemas da dívida pública da Grécia. O que teria sido sensato fazer na altura – e que era dito em privado por muita gente no FMI e que este acabou por dizer publicamente no ano passado – era uma reestruturação da dívida grega. Como o Tratado da União Europeia (UE) tem uma regra de no bailout [proibição de assunção da dívida dos países do euro pelos parceiros] – que é a base sobre a qual o euro foi criado e que deveria ter sido respeitada – o problema da Grécia deveria ter sido resolvido pelo FMI, que teria colocado o país em incumprimento, default, reestruturado a dívida e emprestado dinheiro para poder entrar nos carris.
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É o que se faz com qualquer país em qualquer sítio. Mas não foi o que foi feito, em parte em resultado de arrogância – e um discurso do tipo ‘somos a Europa, somos diferentes, não queremos o FMI a interferir nos nossos assuntos’ – mas sobretudo por causa do poder político dos bancos franceses e alemães. É preciso lembrar que na altura havia três franceses na liderança do Banco Central Europeu (BCE) – Jean-Claude Trichet – do FMI – Dominique Strauss-Kahn – e de França – Nicolas Sarkozy. Estes três franceses quiseram limitar as perdas dos bancos franceses. E Angela Merkel, que estava inicialmente muito relutante em quebrar a regra do no bailout, acabou por se deixar convencer por causa do lobby dos bancos alemães e da persuasão dos três franceses. Foi isto que provocou a crise do euro.
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Em Portugal: a troika (de credores da zona euro e FMI) que desempenhou um papel quase colonial, imperial, e sem qualquer controlo democrático, não agiu no interesse europeu mas, de facto, no interesse dos credores de Portugal. E pior que tudo, impondo as políticas erradas. Já é mau demais ter-se um patrão imperial porque não tem base democrática, mas é pior ainda quando este patrão lhe impõe o caminho errado. 

* Excerto de entrevista, de leitura obrigatória,  ao "PÚBLICO" em  11/05/2014

Schäuble está a mentir: os empréstimos a uma Grécia insolvente foram, principalmente, um resgate dos seus credores, nomeadamente aos bancos alemães. E, as condições associadas aos empréstimos, de austeridade extremamente brutal, foram tudo menos generosas. As autoridades da zona do euro e as elites nacionais têm causado uma depressão na Grécia, sem resolver os problemas, nomeadamente o fardo insuportável da dívida e um sistema político corrupto e disfuncional. 

** Excerto de entrevista, de leitura obrigatória,  ao "DIÁRIO DE NOTÍCIAS"  em 11/02/15


*** É nossa intenção, quando editamos pequenos excertos de entrevistas, suscitar a curiosidade de quem os leu de modo a procurar o site do orgão de comunicação social, onde poderá ler a entrevista por inteiro.

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