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António Costa vai excluir "socráticos"
da nova direcção do PS
A barreira higiénica está montada pelo PS de Costa. Resta saber se resistirá ao congresso, onde a vitimização de Sócrates pode subir ao púlpito
A
direcção que António Costa está a preparar vai excluir as figuras que
ficaram coladas a José Sócrates nos últimos anos. A decisão foi tomada
ainda antes da detenção do ex-primeiro- -ministro, com o novo líder a
querer evitar as associações com o passado em que a maioria PSD/CDS tem
insistido. Costa também quer que o caso Sócrates fique fora do discurso
socialista, embora a pressão esteja a avolumar-se e possa tornar-se
incontrolável num palco aberto como o do congresso.
A estrutura completa do PS de Costa vai sair já da reunião deste
fim-de-semana que elege a comissão nacional do partido. É este órgão que
escolhe a comissão política, e é daqui que sai o secretariado nacional,
ou seja, a direcção de António Costa. O i apurou que este
núcleo do novo PS não contará com socráticos. É provável que até Vieira
da Silva venha a ser excluído da nova direcção do PS.
O ex-ministro de
Sócrates já está, de qualquer forma, na direcção parlamentar de Costa.
Ontem, nos corredores da Assembleia da República, Vieira da Silva foi um
dos mais consternados a falar com os jornalistas. Visivelmente
emocionado, o socialista disse estar a assistir "com dor" à situação:
"Trabalhei vários anos com José Sócrates e a imagem que tive e tenho
dele não é a que tem sido divulgada nos últimos dias. Habituei-me a ver
uma pessoa que lutava até às suas últimas forças pela ideia e visão que
tinha e queria do seu país."
Quanto à linha oficial do partido face ao caso Sócrates, é a que se
conheceu logo no sábado de manhã: à justiça o que é da justiça. Costa
não quer entrar pela teoria da conspiração e da vitimização que já
dominou o PS noutros casos (ver páginas 8 e 9) e que trouxe
consequências negativas à liderança de então. No núcleo mais próximo do
novo líder acredita-se que será possível manter esta barreira higiénica,
mesmo nos dois dias de congresso em que o microfone do púlpito estará
aberto a todos os militantes. No habitual corrupio de discursos, que
dominará sobretudo no sábado, é praticamente impossível que não se
ressuscite a tese da cabala.
"Não se pode evitar, mas uma coisa são duas
ou três figuras a fazerem discursos menos próprios no congresso, outra é
o partido, que nisso está muito unido", garante um socialista ao i.
A mesma fonte diz que, apesar de ver "algumas semelhanças" entre este
caso e o Casa Pia, "o partido aprendeu e vai ser feito um esforço para
respeitar a justiça".
Mas aquilo que nas primeiras horas circulava apenas à boca pequena
foi em crescendo e ontem apareceu nas redes sociais pelo punho de uma
figura de peso para o PS no que à "tese da cabala" diz respeito. Na sua
conta no Twitter, o ex-dirigente Paulo Pedroso escreveu que "ver 12 anos
depois, noutra pessoa, a mesma encenação mediática e a mesma filtragem
'noticiosa' choca da mesma maneira".
No Facebook, o fundador do PS António Campos mostrou-se "indignado
com o julgamento na praça pública de José Sócrates, vítima mais uma vez
de uma denúncia cuja veracidade ou falsidade não conhecemos. A
condenação já foi decretada, a verdade saber-se-á daqui a uns anos se a
democracia resistir", rematou o socialista. Vital Moreira, no seu
blogue, escreveu que, "mesmo que Sócrates viesse a ser acusado e
condenado pelos crimes pelos quais foi detido", não vê que "isso
provocasse um abalo telúrico nem no PS nem, muito menos, no regime".
Para logo a seguir concluir, em jeito de ataque: "Já vejo sério risco de
golpe profundo na credibilidade do regime de investigação criminal e do
Ministério Público, se esta operação de grande escala contra o
ex-primeiro-ministro, deliberadamente mediatizada a partir de dentro, se
revelar infundada ou, pior que isso, produto de uma agenda política ou
corporativa."
As suspeitas de manipulação pelo Ministério Público estão refreadas
no PS, mas existem e ouviram-se logo nos primeiros minutos depois da
detenção, altura em que um dirigente desabafou de imediato com o i
a "coincidência" entre o rebentamento da bomba e a eleição do novo
secretário-geral, António Costa. Edite Estrela fez o mesmo, no domingo,
sugerindo que o caso Sócrates afastaria os holofotes do caso dos vistos
gold que abalou o governo na semana passada.
Existe uma versão bondosa dentro da direcção segundo a qual a vida de
Costa pode estar agora mais facilitada, uma vez que a detenção de
Sócrates eliminará de vez o fantasma político do ex-primeiro-ministro
com quem, bem ou mal, António Costa seria sempre obrigado a conviver. É
uma previsão optimista para o PS.
* Ainda há dias Socrates era um símbolo vivo do PS, a justiça meteu-o na cadeia, António Costa vai enterrá-lo sem funeral, vai para a vala comum, a política é assim.
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