25/11/2014

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HOJE NO
"i"

António Costa vai excluir "socráticos"
 da nova direcção do PS

A barreira higiénica está montada pelo PS de Costa. Resta saber se resistirá ao congresso, onde a vitimização de Sócrates pode subir ao púlpito

A direcção que António Costa está a preparar vai excluir as figuras que ficaram coladas a José Sócrates nos últimos anos. A decisão foi tomada ainda antes da detenção do ex-primeiro- -ministro, com o novo líder a querer evitar as associações com o passado em que a maioria PSD/CDS tem insistido. Costa também quer que o caso Sócrates fique fora do discurso socialista, embora a pressão esteja a avolumar-se e possa tornar-se incontrolável num palco aberto como o do congresso. 
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E COSTA LAVA AS MÃOS
A estrutura completa do PS de Costa vai sair já da reunião deste fim-de-semana que elege a comissão nacional do partido. É este órgão que escolhe a comissão política, e é daqui que sai o secretariado nacional, ou seja, a direcção de António Costa. O i apurou que este núcleo do novo PS não contará com socráticos. É provável que até Vieira da Silva venha a ser excluído da nova direcção do PS. 

O ex-ministro de Sócrates já está, de qualquer forma, na direcção parlamentar de Costa. Ontem, nos corredores da Assembleia da República, Vieira da Silva foi um dos mais consternados a falar com os jornalistas. Visivelmente emocionado, o socialista disse estar a assistir "com dor" à situação: "Trabalhei vários anos com José Sócrates e a imagem que tive e tenho dele não é a que tem sido divulgada nos últimos dias. Habituei-me a ver uma pessoa que lutava até às suas últimas forças pela ideia e visão que tinha e queria do seu país." 

Quanto à linha oficial do partido face ao caso Sócrates, é a que se conheceu logo no sábado de manhã: à justiça o que é da justiça. Costa não quer entrar pela teoria da conspiração e da vitimização que já dominou o PS noutros casos (ver páginas 8 e 9) e que trouxe consequências negativas à liderança de então. No núcleo mais próximo do novo líder acredita-se que será possível manter esta barreira higiénica, mesmo nos dois dias de congresso em que o microfone do púlpito estará aberto a todos os militantes. No habitual corrupio de discursos, que dominará sobretudo no sábado, é praticamente impossível que não se ressuscite a tese da cabala. 

"Não se pode evitar, mas uma coisa são duas ou três figuras a fazerem discursos menos próprios no congresso, outra é o partido, que nisso está muito unido", garante um socialista ao i. A mesma fonte diz que, apesar de ver "algumas semelhanças" entre este caso e o Casa Pia, "o partido aprendeu e vai ser feito um esforço para respeitar a justiça". 

Mas aquilo que nas primeiras horas circulava apenas à boca pequena foi em crescendo e ontem apareceu nas redes sociais pelo punho de uma figura de peso para o PS no que à "tese da cabala" diz respeito. Na sua conta no Twitter, o ex-dirigente Paulo Pedroso escreveu que "ver 12 anos depois, noutra pessoa, a mesma encenação mediática e a mesma filtragem 'noticiosa' choca da mesma maneira". 

No Facebook, o fundador do PS António Campos mostrou-se "indignado com o julgamento na praça pública de José Sócrates, vítima mais uma vez de uma denúncia cuja veracidade ou falsidade não conhecemos. A condenação já foi decretada, a verdade saber-se-á daqui a uns anos se a democracia resistir", rematou o socialista. Vital Moreira, no seu blogue, escreveu que, "mesmo que Sócrates viesse a ser acusado e condenado pelos crimes pelos quais foi detido", não vê que "isso provocasse um abalo telúrico nem no PS nem, muito menos, no regime". Para logo a seguir concluir, em jeito de ataque: "Já vejo sério risco de golpe profundo na credibilidade do regime de investigação criminal e do Ministério Público, se esta operação de grande escala contra o ex-primeiro-ministro, deliberadamente mediatizada a partir de dentro, se revelar infundada ou, pior que isso, produto de uma agenda política ou corporativa." 

As suspeitas de manipulação pelo Ministério Público estão refreadas no PS, mas existem e ouviram-se logo nos primeiros minutos depois da detenção, altura em que um dirigente desabafou de imediato com o i a "coincidência" entre o rebentamento da bomba e a eleição do novo secretário-geral, António Costa. Edite Estrela fez o mesmo, no domingo, sugerindo que o caso Sócrates afastaria os holofotes do caso dos vistos gold que abalou o governo na semana passada. 

Existe uma versão bondosa dentro da direcção segundo a qual a vida de Costa pode estar agora mais facilitada, uma vez que a detenção de Sócrates eliminará de vez o fantasma político do ex-primeiro-ministro com quem, bem ou mal, António Costa seria sempre obrigado a conviver. É uma previsão optimista para o PS.

* Ainda há dias Socrates era um símbolo vivo do PS, a justiça meteu-o na cadeia, António Costa vai enterrá-lo sem funeral, vai para a vala comum, a política é assim.


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