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IN "JORNAL DE NOTÍCIAS"
29/08/14
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Amazónia e Facebook
São estes os dois territórios
referenciais da nova candidata à Presidência do Brasil. Maria
Osmarina Marina Silva Vaz de Lima, formalmente nomeada como candidata à
Presidência pela coligação Unidos pelo Brasil, liderada pelo PSB
(Partido Socialista Brasileiro), depois do acidente que vitimou Eduardo
Campos, é uma mulher a quem se pede que assuma e resolva todos os
paradoxos.
Formada para a política no epicentro da luta pela
defesa e "União dos Povos da Floresta", liderada pelo carismático e hoje
internacionalmente reconhecido Chico Mendes, é pela bandeira da defesa
ambiental e do desenvolvimento sustentável que Marina Silva é
maioritariamente reconhecida.
Este é o seu território político e é
nele que constrói um percurso consistente e com provas dadas. A sua
passagem pela Câmara Estadual, Federal e pelo Ministério do Meio
Ambiente, no Governo de Lula, fica marcada por uma ação eficaz e
dialogante. O plano para a Prevenção e o Controle de Desmatamento da
Amazónia Legal, que criou e implementou enquanto ministra do Meio
Ambiente é disso excelente exemplo. Contou com o esforço integrado de 14
ministérios e fez cair o desmatamento da floresta Amazónica em 57% num
período de apenas três anos.
Ferozmente contestada por setores
económicos relevantes para o país, como o do agronegócio, Marina Silva
terá desde logo a dificílima tarefa de impor uma visão sustentável do
desenvolvimento económico sob pena de renegar o seu legado.
E é
aqui que o seu segundo território, o das redes sociais, pode vir a fazer
a diferença. Por via de regras estabelecidas e que regulam o tempo de
antena de acordo com a expressão eleitoral da base de apoio dos
candidatos, Marina Silva teve direito a apenas 1 minuto e 23 segundos de
tempo de antena gratuito aquando da sua primeira candidatura à
Presidência - pelo Partido dos Verdes em 2010.
Para ultrapassar
esta restrição, privilegiou a Internet e as redes sociais, estratégia
inédita ao tempo no Brasil. Ficou em terceiro lugar com 20% dos votos
válidos. A melhor votação de sempre para um terceiro classificado.
A
dificuldade que a fez entrar cedo nesse território onde hoje muito se
joga e cujas comunidades são especialmente sensíveis às organizações em
rede e à mudança pela sustentabilidade, podem alterar muito
significativamente os cálculos que até agora se vinham fazendo.
O
tema da rede, enquanto modo de governação não hierarquizado e construído
de baixo para cima no respeito permanente pela ação e envolvimento
político de proximidade, é mesmo o que norteia o movimento criado em
2013 pela candidata, a Rede de Sustentabilidade, inviabilizado como
Partido pelo Tribunal Constitucional, e hoje cabeça de lista da
coligação que teve de fazer com o Partido Socialista Brasileiro ao tempo
liderado pelo malogrado Eduardo Campos.
Frágeis, como a aparência
despojada e com auréola de santidade da candidata, estes dois múnus - a
Terra e uma nova comunidade política atuante e descomprometida com os
"suspeitos do costume"- pouco poderão contra uma oposição (PT de Dilma
Rousseff e Lula e PSDB de Aécio Neves) dominadora da real politik e do
tempo de antena televisivo.
Mas, pelo menos, obrigam a campanhas
mais expostas e mais explicativas. Sinal disso mesmo as incontáveis
reuniões, cimeiras e manifestos pedindo mais deslocações a Dilma
Rousseff e Lula da Silva, e mais ataque frontal à inexperiência de
Marina Silva por parte da campanha de Aécio (com longa e bem avaliada
carreira política e neto de Tancredo Neves).
Aúltima sondagem
publicada pelo IBOPE dá conta de uma evolução espetacular da coligação
agora chefiada por Marina Silva. De uns magros 9% aquando da última
sondagem em vida de Eduardo Campos, passou para 29% em nova sondagem
publicada a 26 deste mês, tendo originado uma quebra de 4% nos números
de Dilma e de Aécio Neves.
A preocupar ainda mais os candidatos
"clássicos" a mais baixa taxa de rejeição de Marina Silva e ainda a
perceção de que será a candidata que mais poderá beneficiar do voto dos
cerca de 8% que ainda se dão por indecisos.
Está em curso, até 5
de outubro no Brasil um duelo, especialmente importante não apenas pelo
resultado que produzirá mas, sobretudo, pelos novos territórios
políticos que o determinarão.
IN "JORNAL DE NOTÍCIAS"
29/08/14
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