06/08/2014

HELENA GARRIDO

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A excepção da paz

Os tempos que vivemos são uma enorme excepção na história da Europa e até de Portugal. Únicos em matéria de paz e de prosperidade. Mesmo quando comparados com os últimos anos que nos pareceram de enorme dificuldade. É bom que nos recordemos desta simples observação.

O desinteresse que tem marcado a situação na Ucrânia tem na ilusão de prosperidade e paz eterna a sua mais importante explicação. Como é nesta ilusão que se alicerça a indiferença e até a oposição a investimentos nas forças militares em Portugal como na Europa.

O general Loureiro dos Santos gosta de relembrar que a geografia não muda nos tempos dos seres humanos. E a geografia é um dos pilares da dinâmica histórica europeia.

A Rússia não desapareceu. O grande Urso do Norte esteve adormecido. A Alemanha não se virou para o lado do pôr-do-sol, foi condicionada a olhar para poente porque não podia ver o Nascente.

O MH17 da Malaysia Airlines abatido na fronteira entre a Ucrânia e a Rússia a caminho de Kuala Lumpur acordou os europeus do sonho de uma Europa eternamente pacífica e próspera, do Atlântico aos Urais.

Numa Europa em que a França anda desorientada, o Reino Unido a seguir o seu tradicional pragmatismo, a Itália perdida no meio da crise, resta-nos mais uma vez a Alemanha; que foge da liderança, que gosta de ficar quieta no seu canto, que preferia ter em Moscovo um aliado e amigo. Uma Rússia para onde todos os outros europeus dirigem hoje a raiva da dor pelas vítimas do MH17.

Os tempos de excepção podem ainda não estar ameaçados mas cobrem-se de nevoeiro.

Directora do "JORNAL DE NEGÓCIOS"

IN "SÁBADO"
29/07/14

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