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Senso d'hoje
Senso d'hoje
JORGE MALHEIROS
PROFESSOR DO INSTITUTO
DE GEOGRAFIA E ORDENAMENTO
DO TERRITÓRIO DA
UNIVERSIDADEDE LISBOA
PROFESSOR DO INSTITUTO
DE GEOGRAFIA E ORDENAMENTO
DO TERRITÓRIO DA
UNIVERSIDADEDE LISBOA
Se Portugal continuar a perder a po pulação mais jovem e a envelhecer de
for ma substancial, daqui a trinta ou quarenta anos estará,
provavelmente, nos sete/oito milhões de habitantes. Ora, a regressão
de mográfica significa normalmente declínio e perda de dinâmica
económica. Em países com níveis de desenvolvimento médio ou elevado, à
componente económica está as sociada, em regra, estabilidade
demográfi ca e não regressão, muito menos forte. Es tamos a falar de um
país com dez milhões e meio que em trinta ou quarenta anos pode rá ter,
se nada for feito, menos dois ou três milhões de pessoas. Imagine um
país com um conjunto de população idosa nacional e estrangeira – porque
pode dar-se o caso de a seguir aos golden visa para quem inves te em
imobiliário caro, termos o golden visa II para idosos que venham passar a
sua refor ma a Portugal – assistida pelos poucos mais jovens que
restam. Seria um país franca mente triste. E estranho.
O desequilíbrio entre jovens e idosos, e sobretudo entre ativos e não
ativos idosos, é que pode pôr em causa muitos aspetos da
sustentabilidade social. Uma sociedade precisa da experiência dos mais
velhos, mas também de população jo vem para arriscar e inovar. A questão
cen tral é a do equilíbrio entre gerações, fun damental para a
sustentabilidade social. Se acreditamos num modelo de Estado so cial,
temos de ter uma população ativa que seja suficiente para cobrir as
despesas rela cionadas com os não ativos. Um desequi líbrio neste
domínio terá custos elevados. E não se trata apenas da sustentabilidade
da Segurança Social, está em causa o próprio funcionamento do Estado e
da economia, pa ra os quais a população ativa contribui atra vés dos
seus impostos, diretos e indiretos, dos seus rendimentos e da sua
produtivida de. E, além disso, creio que há outro aspe to importante,
que é de ordem mais sim bólica, e que tem que ver com o nosso «es tado
de alma» enquanto nação e povo, que transpõe para a geração seguinte a
ideia de futuro, de progresso, de mudança, o que é bem mais difícil de
fazer com uma população muito envelhecida.
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