27/07/2014

SÍLVIA DE OLIVEIRA

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O risco da improbabilidade

As náuseas são iguais quando assisto aos que pontapeiam quem já está caído no chão, ou quando vejo filas de babados ajoelhados para um beija-mão. E é, sobretudo, isto que me resta dizer sobre o espectáculo à volta da crise no Grupo Espírito Santo (GES), que esta semana acumulou mais uma improbabilidade - Ricardo Salgado foi detido, na qualidade de arguido, para interrogatório, no âmbito do caso Monte Branco.

Os sinais de que a supervisão e a justiça estão a funcionar existem e, se assim for, isso basta-me. Os crimes sob suspeita são graves e aquilo que se exige é, como sempre, um julgamento justo e um tribunal independente. E rápido, muito rápido. Sob pena de ser tarde de mais e as repercussões no próprio BES e na economia se tornarem insustentáveis.

A queda de Ricardo Salgado - outra improbabilidade - é, afinal, muito mais do que a ruína de um rico todo poderoso: é a falência de um nome, é a descredibilização de uma marca. Neste momento, alguém sabe o que se passa na cabeça de um cliente do BES?!

A lei protege a maioria dos depositantes, o Banco de Portugal garante, a toda a hora, que o banco está sólido e que uma coisa é o GES, outra coisa é o BES, mas só Vítor Bento e a sua equipa saberão, na verdadeira medida, qual o real impacto desta crise no negócio do banco. Imagino até que, se pudesse, o novo presidente executivo do banco - e o próprio Banco de Portugal - já teria refundado o BES, a começar por uma mudança de nome. Espírito Santo é, neste momento, tudo menos um nome recomendável.

E há mais. A falência de Ricardo Salgado e da família Espírito Santo é, também, mais um sintoma da fragilidade do país, de um país sem capacidade de investimento, onde não há dinheiro, onde os empresários vivem com a corda do endividamento ao pescoço e onde as empresas passam, uma atrás da outra, para as mãos de quem pode. Se não estava bem, ainda pode ficar pior, o país.

IN "DINHEIRO VIVO"
26/07/14


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