HOJE NO
"DIÁRIO DE NOTÍCIAS"
Na violência doméstica
a mulher é vítima e cúmplice
A mulher é vítima, mas também cúmplice da violência doméstica e isso
obriga a uma mudança de paradigma na forma de intervir, defende o
psicólogo forense Mauro Paulino, autor de um estudo sobre a
caracterização das vítimas de violência conjugal.
O
estudo, "Vítima ou Cúmplice? Caracterização da mulher vítima de
violência conjugal na região de Lisboa e Vale do Tejo" foi realizado com
base em 76 entrevistas e análise de 458 processos da delegação de
Lisboa do Instituto Nacional de Medicina Legal.
O ROSTO DA CUMPLICIDADE |
Em declarações à
agência Lusa, Mauro Paulino defendeu que a mulher que é agredida tanto é
vítima como cúmplice, mas fez questão de clarificar que isso não
significa que esteja a defender que a mulher é de alguma forma culpada.
"Enquanto
técnicos e profissionais temos de honrar a ciência e a ciência é fria a
ler os dados. Então, temos de responsabilizar uma mulher que fica 13
anos numa relação violenta", disse.
"É claro que compreendemos o
contexto violento, ameaças de morte, essas questões todas, mas ainda
assim temos de mostrar a estas senhoras que existe um apoio social,
técnicas de intervenção que lhes permitem sair daquela situação",
acrescentou.
Defendeu, assim, a necessidade de se ir além de uma
intervenção do ponto de vista social, partindo para uma intervenção mais
profunda, ao nível da parte psicológica.
"A investigação
mostra-nos que todos temos determinados padrões de relacionamento que se
não forem alterados, faz com que esta vítima saia de uma relação e
muito provavelmente vá procurar um outro companheiro com as mesmas
características", explicou.
Essa intervenção passa por explicar à
vítima que "o entendimento que ela tem de si e da situação potencia a
relação violenta e potencia que volte a entrar numa relação violenta".
"Aquilo
que acontece num processo psicoterapêutico não é mudar o mundo, é
transformar a forma como a pessoa se entende a si, aos outros e aos
eventos da sua vida. Quando isto se consegue alterar, vai mudar o tal
padrão de relacionamento", referiu.
Com base nos dados do estudo,
Mauro Paulino concluiu que o que está a ser feito em matéria de
intervenção "é pouco" e defendeu mais ação ao nível da prevenção,
sustentando que a violência doméstica é um problema de saúde pública.
"Está
comprovado que as vítimas vão mais vezes aos hospitais, estão mais
tempo de baixa, são pessoas que produzem menos e isto tem também uma
vertente económica".
No entender do investigador, há também um
completo desfasamento entre os horários de funcionamento dos gabinetes e
linhas de apoio, apontando que muitos funcionam das "nove à uma e das
duas às cinco", quando a maior parte das agressões acontecem ao
fim-de-semana e à noite, principalmente entre as 19:00 e as 24:00.
Questionou
igualmente a formação dos agentes da PSP e da GNR, dando como exemplo o
caso de uma mulher que pede ajuda às autoridades, vai para uma casa
abrigo e depois volta para o marido.
"Quando voltou a pedir ajuda,
os polícias, à frente dela, fizeram apostas para ver quanto tempo é que
ela durava na casa abrigo", contou.
Mauro Paulino defende
igualmente uma intervenção nas escolas porque o estudo permitiu
constatar que muitas mulheres não se reconhecem enquanto vítimas quando
sofrem a primeira agressão, o que faz com que desvalorizem a situação e
não peçam ajuda.
* O sr. Paulino saberá muito da matéria mas pouco da língua portuguesa.
Não há cumplicidade quando o agredido leva porrada e não reage, existe medo, muito medo e as estatísticas provam-no, dezenas de mulheres mortas por ano mesmo quando já estão separadas do agressor.
A ciência não é fria, alguns cientistas talvez, cumplicidade é outra coisa, tento na língua exige-se.
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