HOJE NO
"i"
Eurodeputados.
O interesse do partido
fala mais alto que o país
Defender os interesses do país requer tempo em Bruxelas. Algo que as lógicas partidárias nem sempre permitem
Portugal
tem apenas 2% de toda a população da União Europeia (UE). O PIB do país
é outro grão no vasto areal da comunidade, e essa dimensão -
demográfica, económica e política - reflecte-se na precária influência
política do país junto das instituições europeias. "Portugal tem pouco
poder nos mecanismos formais de decisão na União Europeia", referem
Richard Rose e Alexander Trechsel, num trabalho para a Fundação
Francisco Manuel dos Santos (FFMS) sobre o papel do país na UE. Se "tem
cada vez menos poder", a solução é apostar no smart power. Conhecer os
cantos à casa, em Bruxelas como em Estrasburgo, é fundamental. Mas a
roda-viva de eurodeputados portugueses prejudica os interesses do país.
Ter algum protagonismo numa União Europeia a 12 era uma coisa.
Portugal fazia parte de um clube em que a grande maioria dos membros
tinha democracias consolidadas, países que se apresentavam já com
maiores índices de de-senvolvimento, e isso fazia com que a atribuição
de fundos comunitários não exigisse o maior dos esforços aos
responsáveis nacionais. Mas a realidade hoje é completamente diferente e
a disputa de atenção tornou-se bastante mais complicada.
A solução? Para ter uma voz que se faça ouvir nas instituições
europeias é preciso "desenvolver o softpower". E isso traduz-se numa
aposta contínua na diplomacia europeia - através dos deputados no
Parlamento Europeu, mas também da representação permanente, o maior
corpo diplomático português, com cerca de 50 elementos.
Uns e outros
procuram prever eventuais pontos negativos que os novos diplomas
comunitários possam trazer ao país, entrando cedo na discussão para
minorar as políticas indesejadas. Os investigadores sublinham a
importância de ter essa "massa crítica" de qualidade nos assuntos de
relevância europeia, actuando como uma barreira privilegiada contra as
adversidades. Ao mesmo tempo que marcam a agenda em nome do país,
procuram os parceiros estratégicos com que Portugal deverá formar
alianças, para ganhar dimensão e com isso influência. Porque "apresentar
uma posição nacional que seja popular nos meios de comunicação social
nacionais ou no parlamento, mas que seja impopular no conclave da UE, é
um convite ao isolamento", refere o relatório. "Negociação" é a
palavra-chave.
Antever problemas e seguir pela via diplomática é fundamental. Mas,
para ser eficaz, é preciso conhecer a lógica de funcionamento das
instituições europeias. "Os deputados europeus com aptidão política
podem aumentar a sua influência acedendo a posições importantes no seu
grupo partidário multinacional", escrevem os autores. A ascensão depende
dos critérios em que assenta a escolha do partido nas listas para o
parlamento europeu.
Nos lugares certos
Portugal
não teve até ao momento nenhum presidente do Parlamento Europeu e na
actual legislatura nenhum dos 14 vice-presidentes é português. Da mesma
forma que não houve nenhum eurodeputado de Lisboa a presidir a qualquer
das grandes famílias políticas europeias - os Sociais-Democratas e os
Populares Europeus -, ainda que tenha liderado a presidência de famílias
políticas mais pequenas do parlamento.
Em contrapartida, Durão Barroso foi o primeiro português a comandar a
Comissão Europeia - o órgão com capacidade para arrancar com o processo
legislativo europeu. Esteve no lugar durante os últimos dez anos,
terminando o seu mandato no final deste ano. Além disso, Portugal conta,
em Bruxelas, apesar da sua pequena comitiva, com alguns eurodeputados
de reconhecido mérito. Pessoas com o capital político necessário para
ter uma voz com algum peso entre os 751 lugares do parlamento europeu.
O relatório da FFMS refere que, "se um deputado participa activamente
num grande grupo partidário, pode aumentar muito a sua influência". No
entanto, a verdade é que "mais de um quinto dos deputados portugueses
alinham-se com um dos mais pequenos grupos do PE, nomeadamente o Grupo
da Esquerda Unitária/Esquerda Nórdica Verde, o que torna mais difícil
exercer influência nas decisões colectivas do parlamento", acrescentam
os investigadores.
Entre o partido e o país
Ganhar
influência nos círculos europeus requer tempo para conhecer os cantos à
casa - os eurodeputados ouvidos na investigação consideram mesmo que é
preciso um mandato inteiro para "europeizar" um parlamentar
recém-chegado.
Só que esse imperativo choca com o ritmo de chegadas e partidas de
deputados portugueses ao Parlamento Europeu. O relatório até vê certos
benefícios em conseguir alguma rotação de membros nacionais no órgão
legislativo da UE, desde logo porque ao evitar que as mesmas pessoas
passem demasiado tempo em Bruxelas os responsáveis nacionais impedem que
se crie "uma elite política centralizada ao nível da UE", um grupo que
"controlaria recursos políticos e partidários numa instituição
caracterizada por um certo défice democrático".
Ao mesmo tempo, o relatório aponta directamente para um problema: é
que "o elevado grau de rotatividade dos eurodeputados portugueses
apresenta alguns inconvenientes potenciais para o seu desempenho no PE,
uma vez que uma parte significativa do tempo e do esforço político dos
eurodeputados tem de ser usado na aprendizagem do seu novo papel". Em
2009, ano das últimas eleições europeias, "mais de dois terços dos
eurodeputados eleitos" pelos portugueses nunca tinham sido eleitos para o
PE. No mandato que termina com as eleições de dia 25, a taxa de
rotatividade dos eurodeputados portugueses era de 68%, mais do dobro da
do Reino Unido e 18 pontos acima da média europeia.
Na recolha de dados para o relatório da FFMS, os investigadores
destacaram outro dado. Num período que começou em 1986 e terminou em
2012, 60,1% dos eurodeputados portugueses não tinham qualquer
experiência governativa e quase 30% não tinham sequer experiência
parlamentar em Portugal. Uma desvantagem considerável para o país, uma
vez que "a experiência é um atributo importante das elites políticas".
Mas o principal problema está mesmo nas lógicas partidárias. "A
escolha de quem vai para o topo da lista está invariavelmente ligada a
políticas pessoais e internas do partido", sublinham os investigadores,
lembrando que "isto tem também consequências na qualidade dos
representantes que o partido envia para o Parlamento Europeu". Ao longo
dos dois anos de trabalho, os responsáveis pelo relatório falaram com
vários eurodeputados portugueses.
A conclusão a que chegaram foi que
estas alterações nas listas ao Parlamento Europeu são a consequência de
"políticas partidárias", mais do que resultados eleitorais. Fica claro
que, na negociação dos lugares elegíveis, os interesses do partido ficam
acima dos interesses do país.
* CONSIDERAÇÕES:
- Não há lógica partidária, há a arrogância do cacique partidário no poder.
- Não há democracia, há partidocracia.
- O perigo para os cidadãos europeus vem das elites políticas subjugadas ao poder financeiro.
- A cidadania desenvolve-se com ensino e cultura que os donos do dinheiro não querem generalizar, preferem globalizar a pobreza.
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