Portugal
nas mãos do
Canadá
O acesso dos bancos portugueses ao dinheiro do BCE ficará nas mãos de uma agência de rating canadiana, já a partir do fim de Maio, em caso de “saída limpa” do programa da troika. A razão desta originalidade explica-se em poucas palavras. Para obterem empréstimos do BCE os bancos têm de dar garantias sob a forma de títulos, em geral de dívida pública. Mas o BCE só aceita títulos que estejam avaliados como tendo classificação de “investimento” de pelo menos uma agência das quatro que estão credenciadas pela instituição de Frankfurt.
Esta regra geral foi suspensa pelo BCE para os países intervencionados. O que significa que Portugal terá de passar a respeitá-la assim que a troika sair. O que deixa o País nas mãos da companhia canadiana de avaliação de risco, a DBRS, a única que dá aos títulos portugueses o grau de “investimento”. A dívida pública portuguesa está classificada como “lixo” pelas três mais importantes agências de rating – Moody’s, S&P e Fitch. Se a agência canadiana baixar o rating são 40 mil milhões de euros que deixam de poder ser cedidos pelo BCE sob a forma de empréstimo.
A frágil dependência de uma única agência de rating num cenário de “saída limpa” foi divulgada a 27 de Março pelo Negócios, percebendo-se que esta realidade apanhou de surpresa as autoridades. Neste momento, todos os protagonistas estão a desdramatizar e a minimizar os riscos que o País corre. Primeiro, considerando que a agência canadiana não vai baixar o rating português. Segundo, defendendo que as outras companhias de avaliação de risco tenderão a melhorar, e não a degradar, o risco de Portugal. Basicamente a mensagem é: os bancos portugueses não correm nenhum risco de ficarem sem acesso ao financiamento do BCE.
Além das distracções variadas que vão de Frankfurt a Lisboa, passando por Bruxelas, o mais lamentável é vermos que os políticos europeus nada fizeram para libertarem as democracias das agências de rating. Podemos discutir muitos culpados da crise de 2007 e 2008, mas há uns que indiscutivelmente não cumpriram as suas funções: as agências de rating disseram que não era arriscado o que afinal podia destruir, como ia destruindo, o mundo ocidental capitalista.
Uma pergunta sobre Durão Barroso
Porque é que o ainda presidente da Comissão Europeia resolveu desenterrar o BPN e criticar o actual vice-presidente do Banco Central Europeu? E porque é que nunca se manifestou disponível para participar nos inquéritos que decorreram em Portugal sobre o BPN? O tempo deve ser a solução deste enigma.
A desigualdade, um problema
As previsões do FMI da Primavera de 2014 foram as mais animadoras desde que se iniciou a grande crise de 2007.
A Europa e os EUA parecem estar a sair, finalmente, de quase sete anos
de tempestade, embora países como Portugal ainda tenham desafios pela
frente. Mas um dos aspectos interessantes é a preocupação do Fundo com a
desigualdade, tema em geral esquecido por esta irmã de Bretton Woods.
Sem dúvida que o fosso entre ricos e pobres é, neste momento, a grande
ameaça.
IN "SÁBADO"
12/04/14
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