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IN "DIÁRIO DE NOTÍCIAS"
14/01/14
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Passos,
os outros todos
e Cristiano Ronaldo
Esta semana
discutimos se Eusébio tinha lugar no Panteão Nacional. Esta semana
debatemos a hipótese de Cristiano Ronaldo não ganhar a Bola de Ouro.
Esta semana enganámos a crise, fingindo não estarmos preocupados com
ela. E, no entanto, reparo que Passos Coelho foi ontem o primeiro
político a anunciar ao povo que congratulara "calorosamente" o capitão
da seleção nacional pela vitória na eleição de melhor jogador do mundo.
Estamos nós a tentar esquecê-lo, mas ele não nos deixa em paz, caramba!
É,
neste aspeto, Passos Coelho pior do que os outros políticos portugueses
de topo, nos vários partidos e nas várias instituições nacionais? Não.
Desta vez até foi, objetivamente, o melhor, pois liderou a correria para
apanhar as primeiras migalhas desse bolo-rei cozinhado de êxito chamado
Cristiano Ronaldo.
O problema não está na competência com que os
políticos tentam aproveitar para si próprios o mérito dos outros -
afinal, se o primeiro-ministro de Portugal não manifestasse ontem
alegria pela entrega do troféu ao craque do Real Madrid, hoje estava a
população, muito justamente, a dar-lhe nas orelhas.
O problema
está em todos, mas mesmo todos os políticos com direito a uns segundos
de tempo de antena, até aqueles a quem nada sobre o assunto é
perguntado, fazerem questão de adicionar algo de seu e de transmitir às
massas a prazenteira emoção atravessada no seu espírito, ocasionada pela
honrosa recompensa dada ao cidadão do mundo mais competente na arte de
meter bolas dentro da baliza adversária.
Esta atitude atingiu
níveis de verdadeira morbidez no caso do falecimento de Eusébio. Na
Assembleia da República fez-se uma sessão de homenagem e cada partido
mandatou o melhor homem disponível para discursar um elogio. Às tantas
as ideias faltavam para brilhar naquela competição de grandiloquência e
Eusébio, o simples Eusébio, correu o risco de subir ao nível da
divindade, correu, portanto, o risco de sair dali ridicularizado.
E
neste mesmo Parlamento onde, e ainda bem, há visões para o País tão
diferentes que não é possível encontrar lá dentro unanimidade sobre
assuntos como os cortes nas despesas do Estado, os aumentos de impostos,
a renegociação da dívida ou o correto investimento público, chegou-se
em apenas algumas horas a um consenso sobre o envio do Pantera Negra
para o Panteão, sem ninguém se sentir na obrigação de cumprir o contrato
assinado com os eleitores e, pelo menos, lançar um verdadeiro debate
sobre o assunto, com vários ângulos e perspetivas, com vários prós e
contras, como se tem de fazer sobre qualquer tema de relevância
nacional. Que cobardia!
Não, não estou a defender que Eusébio não
vá para o Panteão. Não, não estou a defender que os líderes do Estado
devem ser indiferentes às vitórias dos nossos desportistas. Mas, hoje, o
político que me encheria as medidas teria sido aquele que respondesse
assim a um jornalista: "Esse prémio é de Cristiano Ronaldo, é o momento
dele, não quero aproveitar-me disso e, portanto, limito-me a dar-lhe os
parabéns... Tem alguma pergunta sobre a crise económica que afeta os
portugueses?"
IN "DIÁRIO DE NOTÍCIAS"
14/01/14
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