24/01/2014

ALEXANDRA MACHADO

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Para começar de vez com a cultura

Petições para não deixar morrer o Cinema Londres. Petições para o Estado português não vender os quadros de Miró. Concordo com isso tudo. Gostava que o Cinema Londres ainda existisse. Gostava que o King não tivesse fechado. Gostava de ver a exposição de Miró em Portugal. Também gostava que nos inquéritos sobre a cultura não se apontasse a falta de interesse como a principal razão para não se ir ao cinema, ou a um museu ou galeria ou ainda ao teatro, ao bailado, à opera.... Mas é isso que se passa.
No último Eurobarómetro, pergunta-se por que não iam os portugueses a um museu ou galeria no último ano. Resposta: 51% falta de interesse. A mesma pergunta para um bailado ou ópera. Resposta: 56% falta de interesse; E por que não foi ao teatro no último ano? 40% falta de interesse. E ao cinema? 35% por falta de interesse. Aqui, há uma nuance face às outras artes. É que, perto, 32% respondem que não vão ao cinema por uma questão de dinheiro, porque é caro. Só os concertos são também considerados caros, afastando pessoas.

Os números ganham uma dimensão mais preocupante se vistos à luz de outra pergunta. Quantas vezes foi, no último ano, ao cinema? 29%; Ao teatro? 13%; A um museu ou galeria? 17%; A um bailado ou opera? 8%; A um concerto? 19%.

São estes números que fecham o Londres ou o King e que continuarão a fechá-los. Apesar disso, conseguimos recordes na exposição na Ajuda da exposição de Joana Vasconcelos. Conseguimos recordes nas bilheteiras do filme "A Gaiola Dourada". Enchemos pavilhões para o Cirque du Soleil. Esgotamos concertos de Verão. A exposição Rubens, Brueghel, Lorrain, do Museu do Prado, já recebeu 20 mil visitantes. O que significam estes números? Afinal há interesse?

Gostava que se avaliasse, de forma séria, a falta de público no cinema, no teatro, nas artes performativas, nos concertos. E se esses eventos fossem promovidos? E se se falasse, de forma simples, sobre eles? E se tivessemos formação logo de pequeninos? A arte não pode ser para intelectuais. Não é.

Também gostava que quando se fala de arte não houvesse logo alguém a rebolar contra a primazia dada ao desporto, em particular ao futebol. Tudo pode conviver. Tudo tem de conviver. É verdade que há uma primazia do futebol. Injusta?

No domingo estiveram 62 mil pessoas no Estádio da Luz e o País ficou em suspenso à espera da confirmação de Cristiano Ronaldo como o melhor do mundo. Aqui já parece haver interesse. É um espectáculo de massas, como não são uma exposição e um teatro. E não são, porque não podem ou por que não se quer?

*Jornalista

IN "JORNAL DE NEGÓCIOS"
14/01/14


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