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IN "DIÁRIO ECONÓMICO"
13/12/13
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Econominha
Brincar com as palavras é uma forma amena de refletir sobre a essência das questões que nos absorvem e procurar soluções imaginativas e, às vezes, mais ambiciosas das que o pensamento canónico nos leva a produzir.
De jovem apreendi que muitos dos grandes
filósofos são alemães porque a língua germânica tem uma grande
flexibilidade para formatar conceitos complexos em novas palavras
facilmente inteligíveis. As nossas línguas latinas, embora ricas em
matizes sedimentados pela história, adoecem de um excesso normativo e
processual que condiciona a capacidade de capturar o ritmo frenético da
inovação e da mudança social e ficam, por isso, limitadas ao sequestro
de palavras forâneas para evoluir ao ritmo exigido pela realidade que
representam.
Nesse âmbito, as mudanças sociais e tecnológicas caparam a
inovação lexical, dada a sua velocidade e transversalidade. Surpreende,
no entanto, que a importância do factor económico na crise que
atravessamos não se tenha traduzido numa maior dose de inovação nas
formas de criar e distribuir valor e, consequentemente, na criação de
novos conceitos e palavras nesse domínio. Em qualquer caso, é
indiscutível que um dos efeitos da transformação do modelo económico
europeu é a maior importância relativa da iniciativa individual para
criar valor económico. Ou, dito de uma forma mais crua, a incapacidade
dos Estados para garantir a cobertura das necessidades vitais dos seus
cidadãos. Obrigaram-nos a privatizar a nossa economia e a transformar em
"econominha".
Mas essa nova "econominha" encerra também elementos positivos.
Acredito que estamos nas primeiras fases de um processo transformacional
que, após ter empurrado muitos profissionais do mundo corporativo para o
autoemprego, vai-se transformar, em múltiplos casos, em iniciativas
empreendedoras mais sólidas que, após ganhar alguma tração, voltarão a
convergir entre elas para juntar esforços e ganhar dimensão. E, à
diferença de ciclos anteriores, serão o talento e a tecnologia, e não o
capital financeiro, os elementos de colagem dessas iniciativas.
O
mundo está cheio de bilheteiras disponíveis para deixar-se seduzir por
coisas inovadoras e úteis. Cada vez há mais pessoas que deixam de chorar
e começam a fabricar lenços de papel. Encontram um propósito que os
apaixona e apostam na "econominha" para não ficar na "economesma".
IN "DIÁRIO ECONÓMICO"
13/12/13
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