Querido Pai Natal
Confesso sentir que o estado da cultura em Portugal é extremamente
preocupante e quase inexistente. Fico muito preocupada com tanta falta
de visão por parte dos nossos governantes quando dizem que vão reduzir
dez milhões de euros no novo orçamento de Estado para esta tão
importante área que não se resume única e exclusivamente ao
entretenimento. A cultura é mais do que isso, é a alma de um povo. Sem
cultura não há identidade nem sonhos e sem sonhos não há desenvolvimento
e progresso.
No final do mês de novembro foi notícia nos vários meios de comunicação
social da Madeira que a FNAC abriu as suas portas à meia noite e vendeu
dezenas de consolas cujo valor de mercado rondava os quatrocentos
euros. É claro que as pessoas são livres e têm o direito de gastar o
dinheiro como bem o entendem mas é um assunto que merece alguns reparos
quando se fala tanto da crise e do empobrecimento de muitas famílias na
região e em Portugal.
Sabemos que o empobrecimento de um país resulta sempre de uma má gestão
e valorização da sua cultura. A Madeira não é exceção à regra e há
cada vez mais famílias a consumirem menos bens culturais como um bom
livro, uma criação artística, ou simplesmente uma ida ao cinema, ao
teatro ou a uma exposição, etc.
O discurso político muito tem contribuído para o desinvestimento nesta
área, pois defendem que a prioridade nestes tempos de aflição é só matar
a fome, quando deveriam também defender e valorizar a cultura como
forma de investimento e de desenvolvimento da nossa sociedade.
Assim verifico a falta de hábitos culturais resultante desta
desorganização e má gestão dos vários espaços públicos, da falta de
visão a longo prazo, da falta de definição de prioridades e de
critérios, da falta de valorização dos cargos de chefia com pessoas com
formação especifica e competentes.
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Causa-me profunda perplexidade ao verificar que os criadores que residem
na ilha continuam isolados do mundo mesmo tendo ao seu alcance as novas
tecnologias de informação e comunicação porque continuamos sozinhos.
Somos um povo hospitaleiro e sabemos receber, mas em contrapartida não
sabemos valorizar aquilo que é nosso. Os lobbies culturais gostam de
importar, mas não sabem exportar o que de melhor temos pois regem - se
pelo compadrio.
Sabemos que é importante mudar mentalidades e sabemos que para as mudar é urgente contar com a nova geração responsável.
Por isso peço-te Pai Natal que tragas bons hábitos culturais por forma a
valorizarmos aquilo que realmente merece a nossa estima para as
gerações futuras.
Obrigada e Boas Festas!
Professora
Professora
IN "DIÁRIO DE NOTÍCIAS DA MADEIRA"
23/12/13
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