The Famous Grouse
Enquanto não vir esta fotografia "fotoshopada"
como publicidade paga num jornal, num site informativo, num mupi ou num
billboard não acredito que se trate de um anúncio. É apenas uma acção de
marketing quase gratuita que aproveita a boa vontade dos media
legítimos para publicitarem em notícias, à borla.
Mas isto é mesmo uma "campanha", como dizia a notícia do Diário
de Notícias? O jornal afirmava que "uma das imagens da campanha" de
personalização de rótulos da marca de whisky The Famous Grouse "pode ser
vista por cá como um piscar de olho" a Pedro Passos Coelho e a António
José Seguro. A fotografia da notícia mostra dois pares de mãos femininas
segurando garrafas da marca com o nome da marca alterado para "The
Famous Tozé" e "The Famous Pedro".
O jornal ouviu um
especialista em marcas e um "criador de brand voice" (wow!, quem me
dera ter um cargo com um nome assim!) da agência Brandia Central acerca
do "novo anúncio". Analisemo-lo, então.
Nos sites
internacional e português da marca não aparece nem esta nem nenhuma
imagem semelhante ao "anúncio" mostrado no Diário de Notícias. Os sites
convidam os maiores de 18 anos a mandarem fazer um rótulo dedicado,
substituindo "grouse", a ave galinácea do nome da marca, por outra
palavra. Não pode ser qualquer uma, todavia, pois o site só aceita nove
caracteres. Se o leitor ou a leitora se chama Bernardino ou Maria da
Conceição, esqueça: este Natal não poderá receber "The Famous
Bernardino" ou "The Famous Maria da Conceição". Por essa razão, também
não poderia ser António José. Os "publicitários" tiveram de recorrer ao
diminutivo do líder do PS.
O site também convida a
colocar um "nome" "pré-defenido", o que também não ajuda nada. Primeiro,
porque "definido" está mal "escrevido": é "definido", pá! Segundo,
porque o que se escolhe não é um nome, mas uma relação familiar.
Terceiro, porque a escolha é limitada: pai, mãe, irmão, sogro, sogra.
Faltam irmã, avô, avó, cunhado, cunhada, bem como amigo ou amiga,
namorado ou namorada. O site em inglês da marca tem relações familiares
diferentes: irmão, irmã, papá, mamã, vovô e vovó (brother, sister, dad,
mum, grandad, grandma). Nada de sogro ou sogra!
Há
outra enorme diferença: no site português encomenda-se só o rótulo; no
site em inglês encomenda-se o rótulo — na garrafa (a língua inglesa não
tem a troika em casa, como nós).
E o tal "anúncio"?
Ainda não o vi em nenhum media, como publicidade. Apenas o vi na notícia
do Diário de Notícias. Será um anúncio? Analisemo-lo, finalmente.
O
que se vê na foto não parece um anúncio. É uma imagem fabricada com
pouco cuidado. Não tem o logótipo da marca num espaço livre, como
acontece na publicidade. Os rótulos estão desfocados. Porque será? A meu
ver, é fotoshop. De facto, trata-se de uma fotografia usada duas vezes,
invertendo-a. As mãos são as mesmas segurando a garrafa a oferecer ao
"Tozé" e a garrafa para oferecer ao "Pedro": bem sei que o "Tozé" e o
"Pedro" são duas faces do mesmo Bloco Central, mas na publicidade dá
gosto ver as coisas mais bem feitinhas. Ao inverter-se a imagem,
tornou-se necessário o recurso ao fotoshop para colocar o rótulo na
posição correcta.
Resultou uma imagem totalmente
simétrica, para colocar os líderes do PS e do PSD em pé de igualdade
visual, mas em publicidade nunca se recorre a uma simetria total, a qual
acrescenta aos reclames uma sensação de irrealidade que não interessa
passar aos observadores.
Enquanto não vir esta
fotografia "fotoshopada" como publicidade paga num jornal, num site
informativo, num mupi ou num billboard não acredito que se trate de um
anúncio. É apenas uma acção de marketing quase gratuita que aproveita a
boa vontade dos media legítimos para publicitarem em notícias, à borla,
iniciativas a que se cola, à partida, o selo de "polémicas". Esta não
causou qualquer controvérsia, nem se tornou viral. Mas a notícia
apresenta a imagem como "anúncio". Isso, sim, é polémico: engana
jornalistas e engana leitores.
E já agora: não chega de "campanhas" pseudo-divertidas recorrendo à política?
05/12/13
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