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Governo reconhece fundação
misteriosa um ano depois de ter
decidido cancelar o seu registo
Fundação Gramaxo obteve uma das piores classificações no processo de avaliação de 2012 e ocultou informação sobre o seu património
O
ministro da Presidência e dos Assuntos Parlamentares, Luís Marques
Guedes, acaba de reconhecer uma fundação que o governo decidiu cancelar
há cerca de um ano.
PERDOEM A ALEIVOSIA |
A Fundação Gramaxo de Oliveira foi uma das
piores classificadas pelo grupo de trabalho criado pelo executivo em
Abril de 2012 para avaliar o custo/benefício e viabilidade financeira de
todas as fundações a operar em Portugal.
Na sequência deste
processo de avaliação (coordenado pela Inspecção-Geral de Finanças), e
"por falta de reconhecimento como fundações", o Conselho de Ministros
decidiu, a 13 de Setembro de 2012, notificar o Instituto dos Registos e
Notariado para proceder ao "cancelamento do registo, com a concomitante
notificação de orientação aos dirigentes e gestores públicos para
cessarem a concessão de apoios financeiros públicos", de um conjunto de
fundações, entre as quais a Fundação Gramaxo de Oliveira.
A 4 de
Setembro deste ano, no entanto, o ministro da Presidência decidiu
reconhecer esta fundação "com os fundamentos constantes da informação
DAJD/610/2013, que faz parte integrante do processo administrativo
nº34/FUND/2012-SGPCM".
O i confrontou o ministro da Presidência com esta estranha decisão, mas não obteve resposta até à hora de fecho desta edição.
Esta
fundação é, aliás, algo misteriosa. Uma pesquisa na internet permite
descobrir apenas que tem uma morada em Matosinhos e um número de
telefone. O i ligou para o número mas foi atendido pelo
"voicemail da PT". Deixámos recado mas até à hora de fecho desta edição
não recebemos qualquer resposta.
Noutro link descobrimos que a
existência da fundação é oriunda da doação patrimonial de Irene Gramaxo
de Oliveira ,"uma cidadã matosinhense, profundamente religiosa, que
instituiu, por testamento, uma fundação de apoio a pessoas idosas
desamparadas". Aparentemente, a fundação tem três edifícios na rua de
Brito Capelo e uma capela no cemitério de Leça da Palmeira.
No
questionário que enviou à IGF no âmbito do processo de avaliação, o(s)
administrador(es) "esqueceram-se" de dar o valor do património inicial
desta fundação privada criada em Janeiro de 1983, revelando apenas que,
em 2010, o património ascendia a 83 579 euros.
A ficha de
avaliação indica ainda que tem sete colaboradores, não recebeu quaisquer
apoios financeiros entre 2008 e 2010 e teve zero
"utentes/beneficiários/destinatários" neste período.
Em termos de
classificação, esta fundação obteve a pontuação global de 7,3, a quarta
pior entre todas as 190 que foram avaliadas. Pior só a Fundação
Associação Académica da Universidade do Minho, a Hermínia Ester Lopes
Tassara e a José Cardoso.
Olhando para os vários indicadores que
serviram de base à pontuação global, verifica-se que no indicador da
sustentabilidade (que valia 50%), a Fundação Gramaxo obteve 1,3 pontos.
No que toca à "eficácia" a classificação não poderia ter sido pior:
zero. A melhor pontuação, e ainda assim foi só um 6, foi no indicador da
"Pertinência/relevância".
Processo de confirmação atrasado
A
Lei Quadro das Fundações, aprovada pelo actual governo em Julho de
2012, determinou que "no prazo máximo de seis meses" após a sua entrada
em vigor, todas as fundações privadas com estatuto de utilidade pública e
as fundações públicas "ficam obrigadas a adequar a sua denominação, os
seus estatutos e a respectiva orgânica" ao disposto na nova legislação. O
executivo dava também "seis meses" para que as fundações privadas e as
públicas de direito privado com estatuto de utilidade pública "ficam
obrigadas a requerer a respectiva confirmação, sob pena da respectiva
caducidade".
Mais de um ano depois ainda não se sabe quantas fundações cumpriram o estabelecido na lei quadro.
O
gabinete do ministro da Presidência também não revelou quando é que
estará concluído e será divulgado o resultado do processo de avaliação
das 174 fundações ligadas às Instituições Particulares de Solidariedade
Social. Estas fundações receberam, entre 2008 e 2010, mais de 200
milhões de euros e ficaram isentas do pagamento de 156 milhões de euros
em Imposto Municipal sobre Imóveis (IMI) em 2010.
* Uma vigarice com a permissividade do governo português.
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