HOJE NO
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O Furacão que apanhou Marina Mota
e Pais do Amaral
O primeiro dos sete inquéritos da Operação Furacão terminou com 30 acusados. Não é o caso do presidente do conselho de administração da TVI, que já saldou as suas dívidas com o fisco. Mas é o da actriz, que chegou a usar o esquema para comprar e vender imóveis.
Marina
Mota e Miguel Pais do Amaral são os nomes sonantes que constam do
despacho de acusação de mil páginas do primeiro inquérito concluído da
Operação Furacão. Só que enquanto Pais do Amaral escapou a uma acusação
porque pagou os mais de 1,4 milhões de euros que devia ao Estado, a
actriz Marina Mota terá de responder por dois crimes de fraude fiscal
qualificada (um em seu nome e outro em nome da sua empresa produtora de
espectáculos) por ter fugido ao fisco em quase 1 milhão de euros (978
425 euros) e ainda não ter pago este valor. A actriz é uma das 30
pessoas acusadas no processo que, ao todo, terá lesado o Estado em mais
de 36 milhões de euros (36 639 21 euros): destes, 27,8 milhões ainda
estão em dívida.
O empresário e a actriz aparecem visados no mesmo
processo por terem utilizado os serviços de empresas do mesmo grupo: o
Finatlantic, o único visado neste inquérito. Diogo Viana, consultor
acusado pelo Ministério Público de 16 crimes de fraude fiscal, criou
várias sociedades que tinham por base a prestação de serviços de
consultoria fiscal que procuravam obter vantagens fiscais atractivas
para os seus clientes. O esquema passava por ocultar os rendimentos
através da transferência de dinheiro para entidades sedeadas em paraísos
fiscais e, para despistar, outras no Reino Unido. Mas foi sendo moldado
consoante as conveniências e características dos clientes portugueses.
No final dos anos 90, o principal responsável da Finatlantic terá
começado a recrutar colaboradores para o seu projecto e a aliciar
terceiros, em particular advogados e consultores financeiros - mas
também os responsáveis do departamento de Private Banking do Finibanco
-, a apresentarem aos seus clientes a vasta gama de serviços que a
Finatlantic poderia oferecer. É neste contexto que caem os nomes de Pais
do Amaral e de Marina Mota.
Os visados No
âmbito de operações feitas por empresas do grupo Media Capital, entre
Janeiro de 2001 e Fevereiro de 2004 terão sido emitidas facturas num
valor superior a 4,5 milhões de euros que circularam por empresas
criadas no estrangeiro e acabaram depositados em contas bancárias ao
dispor de Miguel Pais do Amaral. Segundo o despacho de acusação do
Departamento Central de Investigação e Acção Penal (DCIAP), o esquema
terá permitido "a transferência para a esfera pessoal de Miguel Pais do
Amaral da quantia de 4 382 000 euros, equivalente aos fundos que deram
entrada nas contas bancárias por si controladas, directa ou
indirectamente". Valor este que o empresário não terá declarado em sede
de IRS.
Em 1999, meses depois de ter constituído a sua empresa de
produção de espectáculos - Marina Mota Produção -, a actriz terá
contactado João Coelho de Pinho, principal parceiro de Diogo Viana no
esquema de ocultação de rendimentos. Para os procuradores do DCIAP
Rosário Teixeira e Ana Catalão, o objectivo era claro: "Encontrar uma
solução que permitisse obter vantagens em sede fiscal, quer para a
empresa quer para si." João Coelho de Pinho, por arrasto, entrou em
contacto com a Finatlantic, que rapidamente encontrou uma solução para
Marina Mota: criar empresas fora de Portugal, umas no Reino Unido,
outras em offshores. Uma segunda parte da proposta passava pelo uso
dessas sociedades para montar um circuito de facturação relativa a
prestação de serviços que, na verdade, eram fictícios: a facturação era
emitida por uma sociedade instrumental sedeada no Reino Unido e de uma
entidade sedeada em território offshore, "visando a obtenção dos
pretendidos ganhos em sede fiscal". Isto porque a facturação teria dois
destinos: a empresa de Marina Mota, que assim aumentava os seus custos
em sede de IRC, e os clientes da empresa, permitindo que a actriz
ocultasse os verdadeiros ganhos.
Só a TVI, para quem a empresa
produziu o "Bora lá Marina" e "As Pupilas do Sr. Doutor", pagou à
sociedade inglesa Bluevista Limited e à empresa Kelly Palmer o valor
total de 1 094 948 euros. Só que essas empresas não prestaram qualquer
serviço àquele canal de televisão. A Bluevista reteve o equivalente a
cerca de 5% daquele valor e os restantes 95% foram dando entrada, entre
Maio de 2001 e Fevereiro de 2003, na conta bancária de outra empresa, a
Deliwest, com sede em São Vicente. Rumo semelhante tiveram os 179 926
euros que Marina Mota terá recebido da TVI entre 2003 e 2004 devido a um
acordo extrajudicial: desta vez a empresa usada foi outra, a Kelly
Palmer.
Há ainda outra offshore no meio do processo - a Tidswell
Coporation, com sede no Belize - que Marina Mota terá usado para comprar
e vender dois imóveis quando ainda era casada com Carlos Cunha: um
prédio em Cascais no valor de 124 mil euros e outro imóvel, que viria a
vender por 140 mil euros, apesar de ao fisco ter declarado apenas uma
venda por 100 mil.
* Deixe-se a justiça pronunciar.
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