HOJE NO
" DIÁRIO ECONÓMICO"
Governo quer tornar público
quem recebe habitação social
O Governo quer que passe a ser publicado na página de internet da Inspecção-Geral de Finanças (IGF) o nome dos beneficiários de vários apoios públicos, como as casas atribuídas no âmbito de programas de habitação social.
Numa proposta de lei já aprovada em Conselho de Ministros e entregue
no Parlamento, o Governo esclarece que com esta proposta se procede "ao
significativo alargamento do âmbito de entidades públicas obrigadas a
publicitação de apoios, bem como do tipo de apoios abrangidos e da sua
origem".
Para atingir este objectivo o Governo identifica quais os apoios que
devem ser objecto de publicitação e entre estes encontram-se "a
atribuição de casas no âmbito de programas de habitação social", "os
subsídios e quaisquer apoios de natureza comunitária" ou "as dilações de
dívidas de impostos e de contribuições à segurança social, deferidas
por ato administrativo de competência governamental, quando superiores a
90 dias".
O Governo defende ainda que esta publicitação deve ser feita "através
de publicação e manutenção de listagem anual no sítio na Internet da
entidade obrigada e da Inspecção-Geral de Finanças (IGF), com indicação
da entidade obrigada, do nome ou firma do beneficiário e do respectivo
número de identificação fiscal ou número de pessoa colectiva, do
montante transferido ou do benefício auferido, da data da decisão, da
sua finalidade e do fundamento legal".
A publicitação da atribuição de casas no âmbito de programas de
habitação social, que consta da proposta, mereceu a "total discordância"
da Associação Nacional de Municípios que alega que o carácter
"claramente assistencialista" desta atribuição justifica que, à
semelhança do que acontece com outras prestações da segurança social,
não haja publicitação.
A proposta de diploma prevê também que seja destacada na Conta Geral
do Estado o montante global das indemnizações pagas pelo Estado a
entidades privadas, mas "com explicitação autónoma" dos montantes não
fixados judicialmente.
O incumprimento desta publicitação no site da IGF tem como
consequência uma retenção de 15% na dotação orçamental, a não tramitação
de processos relativos a recursos humanos ou aquisição de bens e
serviços, além da responsabilidade disciplinar, civil e financeira do
dirigente da respectiva entidade pública em causa.
Com excepção de alguns reparos, como o da publicidade da habitação
social, o parecer da Associação Nacional de Municípios é positivo por
considerar esta publicitação "um reforço" dos mecanismos de publicitação
e transparência dos benefícios concedidos pela Administração Pública.
Mas a associação ressalva que "não compreende" por que razão o
projecto de diploma "excepcional inexplicavelmente" as garantias
pessoais do Estado, sem que, pelo menos, na nota justificativa do
diploma, haja o cuidado de enquadrar esta opção.
"A ANMP concorda com o reforço das medidas e mecanismos do regime,
mas de forma equitativa para todas as entidades obrigadas", lê-se no
parecer. Já a Comissão Nacional de Protecção de Dados, no seu parecer,
salienta que a informação prevista no projecto "abre a possibilidade de
tratamentos de dados de alto potencial discriminatório" e deve ser alvo
de ponderação para minimizar riscos.
"A publicitação em rede aberta suscita particulares reservas", diz a
Comissão, que defende que a proibição de indexar a informação
disponibilizada a motores de busca constitui uma das "formas de limitar o
potencial de risco para a privacidade dos cidadãos".
* O título da notícia devia ser o seguinte:
"Governo português disposto a humilhar os cidadãos mais desfavorecidos expondo num portal estatal a situação de carência em que vivem"!
.
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