Parque Nacional
da Gorongosa:
“O homem sonha, a obra nasce”
A restauração do Parque Nacional da Gorongosa é hoje um projecto emblemático para a conservação da natureza em África, depois de ter sido destruído durante a guerra civil em Moçambique.
O Parque Nacional da Gorongosa, no Centro de Moçambique, estende-se
por uma área de cerca de 4000 quilómetros quadrados. Foi declarado
Parque Nacional em 1960, em grande medida devido à sua reputação
enquanto reserva de caça e destino turístico.
As fronteiras deste parque
foram recentemente modificadas, por forma a integrarem o monte adjacente
da Gorongosa. Um alargamento fundamental, não apenas pela riqueza e
singularidade da biodiversidade aqui presente, mas também pelo serviço
de regulação dos fluxos hidrológicos que a montanha presta em toda a
extensão do parque. Ainda assim, a pressão humana tem conduzido à sua
rápida desflorestação, em especial nos últimos 15 anos. Está em curso um
programa de reflorestação que é um notável trabalho de cooperação entre
cientistas e populações locais e vai contar com investigadores
portugueses.
A restauração do Parque Nacional da Gorongosa é hoje
um projecto emblemático para a conservação da natureza em África, depois
de ter sido quase completamente destruído durante a guerra civil em
Moçambique. Há alguns anos que acompanho com entusiasmo este esforço de
recuperação. Recordo-me, aliás, de ter invocado a importância deste
projecto, quando o Governo português preparava a Cimeira da Terra,
realizada em 2002, na África do Sul. Quando se discutiam as propostas
que Portugal levaria a este evento, defendi então que deveríamos
apresentar uma proposta de colaboração nacional no projecto de
recuperação do Parque Nacional da Gorongosa.
Mas o nosso desígnio marítimo prevaleceu então, como quase sempre em
que há momentos de representação política internacional na área da
conservação da natureza. Não quero questionar ou contestar essa opção
nesse ou noutros contextos, mas julgo que teria sido um projecto de
grande interesse para as universidades portuguesas e moçambicanas,
estimulando o conhecimento na área da ecologia e da biodiversidade, e
incentivando o estudo das colecções nacionais de história natural, tão
relevantes para o conhecimento do património natural de África.
O
notável trabalho de reabilitação da Gorongosa deve muito ao filantropo
norte-americano Greg Carr. E, naturalmente, ao empenho do Governo de
Moçambique, que em boa hora assumiu este projecto como estratégico para a
conservação da natureza e para a economia moçambicana, através de uma
parceria público-privada entre o Governo e o Projecto de Restauração da
Gorongosa.
Este é um claro exemplo de como a utopia de um homem se
pode tornar realidade. Dirão alguns que a sua disponibilidade
financeira facilitou, mas importa reconhecer que foi sobretudo a visão, o
empenho, a dedicação e a persistência deste americano, para quem o
português já é uma segunda língua. Com o esforço de mobilização das
entidades e autoridades moçambicanas, das populações residentes, dos
antigos funcionários do parque, de muitos conservacionistas atentos a
este parque de excepção no continente africano foi possível construir um
projecto que servirá de exemplo em África e no resto do mundo.
No
domínio da conservação da natureza, é evidente que há muito trabalho a
fazer em Portugal, mas África continua a ser uma colaboração inadiável.
IN "PÚBLICO"
30/04/13
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