AS NINFAS DE RIO MAIOR
João Barbosa foi às suas memórias de infância buscar a Adega Porta de
Teira. Ergueu uma empresa familiar e rodeia-se de amigos para fazer as
vindimas. Tudo em nome de um sonho transmitido pelo seu avô.
A
discussão sobre a preferência de vinhos de uma determinada região em
detrimento de outras é já um clássico e ainda que alguns painéis de
opinião apontem o vinho do Alentejo como o preferido dos portugueses,
ninguém cala os argumentos dos defensores do Douro ou do Dão, por
exemplo.
Ancorados na sábia máxima ‘gostos não se discutem’, cada
um vai defendendo as suas preferências, mas nesta ‘guerra’ territorial
parece-me que há pelo menos uma região que à partida ainda perde para as
outras (excepção do Algarve). Refiro-me aos vinhos do Tejo, outrora com
o original carimbo Ribatejo, e que viveram um passado conturbado,
vítimas de tantas tropelias e ‘marteladas’. Talvez eu também enferme da
desconfiança nascida nesses tempos de vinho agreste, imagem que hoje
muitos pequenos produtores vêm apagando com a aposta clara na qualidade.
Foi por isso com expectativa que galguei meia dúzia de quilómetros para
visitar a Adega Porta de Teira, situada no Alto da Serra, junto a Rio
Maior e com as históricas salinas a seus pés. É verdade. Também aqui há
vinho. E que vinho!
João Barbosa, neto do fundador das célebres
Caves D. Teodósio, comanda esta empresa familiar onde as vindimas são
apenas feitas por amigos. Quando ele e o seu avô passavam pelas terras
onde hoje se ergue a Porta de Teira, aquele dizia-lhe que ali havia o
melhor vinho branco da zona. João Barbosa nunca mais esqueceu estas
palavras e aos poucos foi comprando terrenos precisamente naquele local
abrigado dos ventos do Norte.
Os seis hectares de vinha foram
plantados em 2000 e três anos depois a primeira colheita tornou-se
realidade. Grande apaixonado pelos vinhos da Borgonha e adepto confesso
da casta Pinot Noir, é com ela que faz o espumante Ninfa, que esgota
praticamente à saída da adega. Quanto aos vinhos brancos, também com o
nome Ninfa (que se deve ao facto de ter sido descoberta na vila romana
de Rio Maior a estátua de uma ninfa), provámos o Escolha 2011 e o
Colheita 2011, ambos feitos a partir da casta Sauvignon Blanc que, à
semelhança da Pinot Noir, ocupa 1 hectar na propriedade de solos
argilo-calcários. É desta vinhas viradas a Sul, plantadas num declive
que propicia uma óptima drenagem, que saem uvas concentradas e com
potencial de acidez, que originam vinhos frescos e com longevidade.
Tivemos
ainda oportunidade de provar um vinho tinto do Alto Alentejo, o Lapa
dos Gaviões 2009, onde João Barbosa tem uma outra propriedade (Valle de
Junco). Cheio de volume, de taninos finos e apresentando frescura e
mineralidade, é também escolha acertada.
IN "SOL"
30/04/13
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