'Pajarito chiquitito'
Os
venezuelanos vão pela terceira vez às urnas em seis meses. Dizem-me
alguns que campanha permanente é democracia fortificada. Lamento, mas
não compro a receita.
Democracia também é medida em qualidade, liberdade
e solidez das propostas políticas. Certo é que, em outubro, a
participação e o resultado da oposição atingiram um pico histórico,
tendo Chávez registado o pior resultado em presidenciais. Em dezembro,
já com Chávez em Cuba, o PSUV dizimou a oposição, conquistando vinte dos
vinte e três estados nas regionais. Hoje, sem Chávez mas com o seu
"fantasma" por perto, Capriles tem praticamente todas as sondagens
contra si, algumas dando-lhe menos vinte pontos do que Maduro.
De
acordo com isto, parece ser mais fácil a Capriles enfrentar Chávez vivo
do que morto. É a diferença entre uma disputa cara a cara, com dois
adversários definidos, e uma contenda a três, sendo que dois fazem
equipa, um dos quais é mais do que candidato político, corporiza um
processo. Não interessa se nos identificamos ou não, se a avaliação é
positiva ou negativa: estou apenas a traçar as regras do jogo. Que
questão levanta? Que já nem só de carismáticos vive a Venezuela ou a
América Latina, mas que ainda hoje é possível recorrer ao misticismo
para travar lutas eleitorais. Confesso que julgava a política
latino-americana mais próxima da maturidade do que da infantilidade
democrática, mas voltei a enganar-me.
Quando um candidato a líder
de uma nação com a importância da Venezuela diz que Chávez teve dedo na
eleição do Papa, que lhe apareceu em forma de um pajarito chiquitito e
que quer montar gabinete junto aos seus restos mortais, entramos num
filme de animação de baixo custo, estupidificante para os eleitores.
Maduro pode vencer com facilidade esta eleição, mas não significa que
ganhe o país, lhe dê coesão e maturidade. Maduro, só mesmo o apelido.
IN "DIÁRIO DE NOTÍCIAS"
13/04/13
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