Uns copos a mais
Faz-me muita impressão sair à noite e ver miúdos de 12, 13 anos
(quando não menos) a beber desalmadamente em bares e discotecas.
Pergunto-me sempre se os pais saberão o que ali se passa. Das duas, uma:
ou sabem e deixam passar, ou não sabem e deviam averiguar.
Todos sabemos que não é fácil ser adolescente. A procura de si
próprio, a consolidação da identidade, a afirmação de um lugar no grupo,
na escola, são apenas alguns dos engulhos com que os mais novos se
deparam na longa viagem que os leva até à idade adulta. São muitas as
pressões para experimentar coisas novas, sob pena serem excluídos pelos
seus pares. Muitos veem-se entre a espada e a parede, cedendo ao temor
de serem considerados “fraquinhos” e “choninhas”. É assim que começam
nos primeiros copos, uma cerveja aqui, um “shot” ali, e à primeira
careta acaba por suceder-se o hábito em que já nem se repara.
A agravar este cenário está o facto de o álcool ser uma droga
socialmente aceite em Portugal. Em algumas famílias, há até o hábito
tolo de dar a experimentar às crianças bebidas alcoólicas, como se não
houvesse nada melhor para elas começarem a consumir em dias de festa.
Sobretudo no caso dos rapazes, há muito a ideia absurda de que o
“fazer-se homem” passa por aprender a beber, geralmente a típica
“cervejinha”. Raros são os homens que admitem não gostar de cerveja, já
repararam? Isto deve querer dizer alguma coisa.
O facto é que já ninguém ignora os malefícios do álcool para qualquer
ser humano. Mas a coisa torna-se mais grave quando se trata de jovens,
alguns ainda imberbes, que já bebem mais do que muitos adultos. Foi
também a pensar nestes casos que o Governo da República aprovou agora
uma nova lei do álcool, segundo a qual os jovens entre os 16 e os 18
anos só podem beber vinho e cerveja. A proposta inicial era de que toda e
qualquer bebida alcoólica fosse proibida até aos 18 anos. O que fazia
muito mais sentido, já que o efeito nocivo tanto é causado pelo vinho,
pela cerveja, como pelas chamadas bebidas “brancas”. Mas mais uma vez o
poder do dinheiro e das cervejeiras (já que a cerveja é uma das bebidas
de maior consumo nestas idades) falou mais alto e o Governo recuou,
incompreensivelmente.
Claro que a promulgação da lei não chega. Há uma evidente falta de
fiscalização no que aos bares e discotecas diz respeito, o que se torna
gritante assim que se entra num destes estabelecimentos: apesar da
proibição, são às dezenas os miúdos que por lá andam muito abaixo da
idade permitida. É mais fácil entrar numa discoteca e consumir álcool
sem se ter idade para isso, do que estacionar dez minutos sem colocar
moeda no parquímetro sem ser multado.
Por todo o país se verifica esta situação, sem que ninguém se pareça
importar. O que é certo é que cada vez são mais novos os clientes
assíduos da noite, de copo na mão. Assustadoramente mais novos. E é
lógico que quanto mais cedo se começa a beber, mais probabilidade se tem
de criar dependência.
Detesto fundamentalismos. Mas neste caso não é disso que se trata.
Trata-se, sim, de preservar a saúde das futuras gerações. Trata-se de
acautelar mazelas que lhes estarão certamente guardadas se não houver
tino nos adultos de hoje
IN "AÇORIANO ORIENTAL"
08/04/13
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