"Está, chefe?
Hoje não me apetece
ir trabalhar
Acordou com um sorriso e deu por si a assobiar a sua canção preferida no elevador? Parou na pastelaria e pediu um pacote de bolos para levar para o escritório inteiro? Lembra-se das datas importantes na vida de cada um dos seus colegas e acaba de decidir que, nesses dia, vai cumprimentá-los ainda mais efusivamente?
Não há engano possível, você acabou de vir de férias. E isso é
maravilhoso – ainda que andar a distribuir presentes por toda a gente e a
cantarolar sempre que não está a falar com alguém possa ser visto com
estranheza e causar alguma irritação nos seus colegas. Especialmente às
segundas-feiras de manhã – vá lá! Ninguém está bem disposto a uma
segunda-feira de manhã.
Mas adiante. Se este não é o seu caso, mas
já está a olhar de esguelha para o colega do lado, a invejar-lhe o
bronze e o sorriso e a satisfazer-se apenas com o pensamento de que, em
menos de uma semana, o seu tom de pele estará de volta ao esverdeado
costumeiro, com semicírculos negros debaixo de cada pálpebra – o que lhe
aconteceu a si, afinal, ainda há dias –, saiba que toda essa má vontade
tem uma razão de ser fisiológica e pode vir acompanhada de perturbações
do sono, taquicardia e ansiedade durante um par de semanas. O que faz
de si uma pessoa um bocadinho menos desprezível.
Investigadores da
Universidade de Valência e da International Stress Management
Association comprovaram que 35% da população activa entre os 25 e os 40
anos sofre de uma condição a que chamaram síndrome pós-férias. Isto
justifica, por exemplo, aquele telefonema que fez para o escritório na
sexta-feira a avisar que não se sentia bem, apenas para se meter debaixo
dos lençóis e voltar a adormecer e a sonhar com os dias felizes em que
estava de férias. Afinal, não era mera lanzice e total ausência de
respeito pelos dois miseráveis juniores que tiveram de alancar com o
escritório às costas enquanto todos à sua volta iam e vinham de férias.
Havia mesmo uma razão cientificamente provada a justificar os seus
comportamentos de chimpanzé.
E agora que tem uma justificação
adequada para ter sido uma besta nos últimos dias, prolongando o seu mau
humor por todos os que tocava e sentindo-se o ser mais infeliz do
universo, pare de sentir pena de si próprio e faça alguma coisa. O quê?
Para começar, tire essa cara de enterro: não é por andar sempre de
trombas que o seu chefe vai decidir dar-lhe umas folgas para descansar –
mas isso pode levá-lo a decidir chutá-lo para o gabinete sem janelas ao
fundo do corredor...
Se não pode dar-se ao luxo de se reformar
aos 35 anos, habitue-se à ideia de que terá de trabalhar. E em vez de
viver em contagem decrescente para as férias seguintes, faça os
possíveis por melhorar a sua vida no escritório.
Se ali tiver alguns amigos, se evitar estar sempre frustrado e tentar
entusiasmar-se com o que tem em mãos, pode muito bem descobrir que até
gosta do seu emprego.
Depois, lembre-se de tudo quanto o faz
feliz quando não está a trabalhar e tente trazer um pouco disso para a
vida profissional. Fuja até à praia mais próxima à hora de almoço e dê
um mergulho para acabar com o stress. Ou compre umas sandwiches e faça
um piquenique no jardim mais próximo. Combine um copo com os amigos
quando sair do trabalho ou depois do jantar. Não convém ficar acordado
até às 4h da manhã todos os dias, mas não é por se deitar à 1h num dia
que tem o resto da semana arruinada. Pelo contrário, provavelmente até
irá descobrir que isso lhe dá muito mais energia e boa disposição para
enfrentar o trabalho. E a sua vida será muito mais fácil se for
trabalhar de sorriso do que insistindo em levar ao expoente máximo a
frustração que se impõe.
Chefe de redação adjunta
IN "DINHEIRO VIVO"
3/09/12
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