12/05/2012

RAQUEL GONÇALVES

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 Uma ilha em retrato 

Esta foi mais uma semana em que se comprovou a anormalidade democrática que paira sobre a ilha que nos acolhe. 

No parlamento regional, as cenas do costume voltaram a dar corpo a episódios que descredibilizam ainda mais a já fragilizada imagem daquele que deveria ser o primeiro órgão da Região, mas onde todos os movimentos são direccionados para a anulação sistemática e voluntária desse estatuto. Desde logo, é uma assembleia que se demite da sua principal função: a fiscalização ao Governo.

 Como se isto não bastasse, o dito órgão parlamentar ainda é presidido por alguém que continua a achar que a honra e glória da Assembleia passa por assinar regras que zelam pela indumentária dos jornalistas, que disciplinam a utilização de novos tecnologias para captar som e imagens no decorrer das sessões plenárias e que apenas penaliza a oposição quando esta pisa o risco, exercendo um autismo consciente e deliberado quando o seu partido infringe as mesmas regras. 

É também anormal em termos democráticos o que se está a passar no partido que sustenta o poder na ilha. Os episódios que se têm seguido ao anúncio de uma candidatura à liderança do partido, à margem da vontade do chefe, são ridículos, risíveis e incompreensíveis do ponto de vista da normalidade democrática que deveria pautar qualquer regime digno desse estatuto. 

O último episódio desta farsa foi uma notícia publicada no jornal oficial do regime, não assinada, e que mistura factos com uma mal disfarçada tentativa de intimidar os que se atrevem a exercer o seu direito de escolha, apoiando o candidato com o qual melhor se identificam.

 E tudo isto acontece num momento em que a ilha onde mora esta democracia doente atravessa um período de dificuldades extremas, com um desemprego galopante e uma economia moribunda. 

Pelo panorama político e social, e quando tudo isto é visto à superfície, até se poderia correr o risco de perder a esperança e deixar morrer a fé. No entanto, nem tudo está perdido. Há sinais de gente que não desiste. Os exemplos estão aí, nos cidadãos que lutam, nas empresas que tentam dar a volta por cima, nos jovens que este fim-de-semana queimaram as fitas e terminam agora o seu curso superior, nas escolas que, mesmo sem meios, realizam iniciativas, nos festivais literários e cinematográficos de iniciativa totalmente privada e não subsiadiada, e, mais recentemente, na conferência anual do turismo, realizada pela Ordem dos Economistas. Um evento onde sintomaticamente o Governo mal se fez representar, mas que traçou diversos mapas para vencer a crise e uma geografia desfavorável. 



 IN "DIÁRIO DE NOTÍCIAS DA MADEIRA"
 06/05/12 


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