Passos aconselha a saída de emergência
Há qualquer coisa de desesperantemente lúcido na declaração de Passos Coelho
O primeiro-ministro, na entrevista ao Correio da Manhã, respondeu a algumas das inquietações que estão na cabeça do cidadão comum – seja ele desempregado, em vias de perder o emprego ou qualquer um de nós que mesmo com trabalho tem, evidentemente, pelo menos alguém na família ou um amigo desempregado. A solução passa por fugir. Esqueçam as alternativas: não há.
A declaração do primeiro-ministro tem o seu quê da honestidade que uma pessoa normal espera de um primeiro-ministro. Fica evidente que Pedro Passos Coelho está consciente que o programa do governo-troika vai arrasar uma boa parte dos empregos que restam, vai rebentar com a hipótese de crescimento. Agora, resta a Passos o plano B, que está em marcha e começou agora. O primeiro-ministro esforça-se para comunicar aos portugueses a saída de emergência disponível: o êxodo em massa do país que governa.
Há qualquer coisa de estranhamente comovente, estranhamente trágico, desesperantemente lúcido na declaração de Passos, que revela a sensibilidade do elefante na loja de porcelanas. Não é esperado que um primeiro-ministro incentive a emigração dos cidadãos, mas que lhes resolva os problemas de emprego. Mas não há resolução possível.
Dando como certo que, com esta política europeia, os problemas são irresolúveis, confesso que se eu fosse professora, ficaria agradecida pelos conselhos sobre como sair daqui o mais depressa possível. Suponho que os outros profissionais estejam a aguardar ansiosamente as novas pistas do governo relativamente aos lugares do mundo para onde possam fugir e ganhar o pão. Digamos que, no auge da emigração dos anos 60, o governo da altura não era tão prático a anunciar alternativas – embora, naturalmente, não se esquecesse de prestar a sua homenagem aos emigrantes que contribuiam com as famosas remessas para a solidez do Banco de Portugal.
Como, quando e para onde fugir é já um conversa habitual no dia-a-dia de muitos portugueses. Já que não podemos contar com o primeiro-ministro para resolver o problema do desemprego – aparentemente irresolúvel nas actuais circunstâncias nacionais e europeias – o facto de Passos Coelho dar aos portugueses pistas para onde desaparecer não deixa de ser um serviço patriótico. Haja, pelo menos, informação providenciada pelo Estado.
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19/12/11
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