16/10/2011

 
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Austeridade adicional leva recessão a 3% em 2012, dizem economistas
Risco de espiral recessiva, como na Grécia, é real. Governo tem inscrita no OE/2012 uma queda 
significativa da receita fiscal no próximo ano

A dose adicional de austeridade apresentada pelo governo implicará um agravamento da contracção da economia para cerca de 3%, o valor mais alto desde 1975, prevêem economistas contactados pelo i. Enquanto o ritmo do aperto orçamental se mantiver neste nível de 2012 – um corte real no défice de 5% do PIB –, o risco de uma espiral recessiva é real.
“Face às medidas conhecidas, revimos em baixa as nossas previsões para o próximo ano, de uma contracção de 2,5% para 2,9%”, indica Paula Carvalho, economista do Banco BPI, em Lisboa. O corte explica-se sobretudo pelo impacto que as medidas – apontadas ao rendimento disponível dos funcionários públicos e pensionistas, com contágio ao sector privado (ver página 2) – terão no consumo, que representa dois terços da economia. Ainda ontem, a Comissão Europeia avisou, em relação a Portugal, que “não se podem aplicar os mesmo cortes em políticas que podem ter impacto importante em termos de crescimento”.
“Temos de admitir uma revisão em baixa do crescimento para 2012”, afirma Filipe Garcia, economista da consultora IMF, no Porto. “Não tenho ainda um número em concreto, mas estimo que a contracção possa estar perto dos 3%. Será certamente pior que os 2,5% [previsão actual] ou do que os 2,2% do Banco de Portugal”, acrescenta.
A previsão do Banco de Portugal (BdP), de contracção de 2,2%, foi divulgada há nove dias. Mas porque segue as regras europeias, o banco central conta apenas com o impacto de medidas detalhadas ou de aprovação garantida, o que excluía logo à partida fatias da austeridade, mesmo antes do anúncio feito pelo governo esta semana. Com as novas medidas, o agravamento da previsão – que, sabe o i, já era previsto pelo BdP – será de maior intensidade.
Também o governo deverá rever os valores já indicados pelo primeiro-ministro no parlamento há duas semanas, em linha com os do BdP. “Será revista em alta, entre 2,2% e 2,3%, é esta a nossa previsão e será muito provavelmente aquela que acompanhará o cenário macroeconómico do Orçamento do Estado que será apresentado na Assembleia da República”, revelou então. As medidas apresentadas entretanto comprometem estes valores.
O agravamento rápido das previsões reflecte, em primeiro lugar, a violência do aperto orçamental e da dieta de desalavancagem (redução do endividamento) imposta pela troika aos bancos. Em meados do ano, o FMI e o governo previam uma contracção de 1,8% em 2012. O BdP referiu meses depois 2,2% e agora o valor mais provável ronda 3%.
“Existe claramente o risco de matar o paciente, tal a dose de medicação”, admite Paula Carvalho, que aguarda a apresentação da proposta de OE/2012 para encontrar “medidas mais detalhadas para as empresas privadas, sobretudo as exportadoras”. Filipe Garcia concorda com a análise. “A espiral recessiva é um risco até que o processo de ajustamento [económico] afrouxe”, afirma.
A escalada rápida da recessão dificulta muito o processo de consolidação orçamental. Segundo apurou o i, o governo vai incluir no Orçamento do Estado uma “queda significativa” da receita fiscal face a 2011 – uma queda que obriga a intensificar o esforço de austeridade, que, por sua vez, agrava as condições da economia. Na Grécia, este efeito explicou parte relevante das derrapagens orçamentais.
O agravamento da economia significará uma aceleração mais rápida do desemprego. Para uma contracção de 2,2% este ano (será ligeiramente inferior) e de 1,8% no próximo, o FMI previa uma taxa de desemprego de 13,4% em 2012. “Ficará seguramente acima de 13%”, prevê a economista Paula Carvalho.


* Esta notícia quer dizer nas entrelinhas que em 2012 vamos ter UM MILHÃO DE DESEMPREGADOS, no mínimo.

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