Porque é que todos
gozam com o Álvaro?
A forma como o ministro da Economia tem sido tratado pela comunicação social diz muito sobre um dos nossos piores defeitos: exigir que tudo seja diferente para depois criticar qualquer diferença. Neste momento é impossível saber se Álvaro Santos Pereira é bom ou mau ministro.
Pode vir a ser péssimo, mas ainda não fez nada de significativo, para além de anunciar passes sociais. Mas quem lê jornais e ouve comentadores já terá com certeza reparado que Santos Pereira, com o seu ar patusco, está a ser transformado numa espécie de alívio cómico do governo.
Porquê? Por um lado, porque é um professor universitário vindo lá do Canadá, e que portanto não percebe nada da realidade portuguesa, ao contrário de tantos governantes que percebem imenso da realidade portuguesa e que tão bem têm feito a Portugal ao longo dos últimos anos. Mas, sobretudo, porque o ministro chegou e cometeu o pecado mortal de pedir que fosse tratado apenas por "Álvaro". A partir daí, passou a ser não "Álvaro" mas "o Álvaro", como se fosse um qualquer Ambrósio ao serviço daquela senhora que queria Ferrero Rocher.
Este modo de apoucar alguém só porque tentou ser amável e informal seria apenas deselegante se não fosse tão sintomático de uma certa forma de estar. Toda a gente critica o país dos doutores, mas depois gozamos com o doutor que diz que apenas quer que o tratem pelo nome próprio. Tal como toda a gente diz que é preciso reduzir a despesa do Estado, mas depois classificamos como corte selvagem cada medida que é tomada. Já cantava António Variações: "Só estou bem aonde não estou/ /porque eu só quero ir aonde não vou."
IN "CORREIO DA MANHÃ"
09/09/11
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