09/07/2011

DANIEL OLIVEIRA


Milhões

  
VERDE NA BOLA


Não há fome que não dê em fartura. Um tipo distrai-se, não compra os jornais desportivos por um dia, chega ao café e logo alguém lhe diz que o seu clube tem mais um reforço. Paulo Bento já se queixou e é difícil não lhe dar razão: no seu tempo não havia dinheiro para nada, agora ele parece sobrar.

Por mim, como adepto, não podia andar mais satisfeito. Mas a minha satisfação é por vezes cortada por um leve sentimento de culpa. Como se andasse, eu próprio, a gastar o que não tenho. Não me interpretem mal. Ando há anos a escrever que sem investimento não há resultados desportivos e sem resultados desportivos não há receitas e sem receitas não se pagam dívidas. Poupar pode sair mais caro do que investir. A única coisa que temos de estar é seguros de que o investimento que se fez terá retorno nos resultados e para os cofres do clube. Caso contrário, a alegria será sol de pouca dura.

Mas o sentimento de culpa tem a ver com outra coisa. Quando vivemos a maior crise da nossa história recente, quando se corta na saúde, na educação, nas reformas e nos salários, é estranho ver vendas e compras envolvendo montantes exorbitantes. Esta é uma forma de ver as coisas. A outra, como aliás prova a venda de Fábio Coentrão – o quarto maior negócio deste ano em Portugal, segundo escreveu Pedro Santos Guerreiro, aqui no Record –, é a de saber que dinheiro gera dinheiro. Por isso, tudo se resume a isso mesmo: estes negócios, no fim, vão ter um saldo positivo? Seja na venda dos jogadores, seja em compra de bilhetes para assistir aos jogos, seja em venda merchandising? Se sim, ainda bem que se fizeram. É esse dinheiro que vai permitir aos clubes pagar as dívidas. Se não, estamos a enterrar-nos mais um pouco. Só no fim saberemos. O futebol é um negócio. Nos negócios compra-se e vende-se.

IN "RECORD"
08/07/11

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