O TGV,
as Scut
e a Justiça
.
O Governo suspendeu o TGV Lisboa-Madrid. Fez bem.
O projecto precisa de ser repensado, sobretudo à luz das notícias que chegam de Espanha: ontem a Renfe suspendeu três trajectos do TGV, inaugurados em Dezembro de 2010. Por falta de passageiros: uma média de nove por viagem. Leu bem: nove!
A notícia, que no site do "Negócios" suscitou uma troca de galhardetes entre os adeptos do "sim" e do "não", devia ser motivo de reflexão em Portugal. Reflexão desapaixonada, coisa rara por estas paragens. Porque estamos perante um investimento pesadíssimo (mais de mil milhões só para a ligação Lisboa-Madrid), que não podemos pagar. Não apenas pelo custo do investimento, mas porque os défices de exploração seriam insustentáveis (uma CP multiplicada por dez…).
Mas voltemos aos troços suspensos. Bem podem os apoiantes do TGV dizer que a Renfe reforçou outro trajecto para Madrid. Isso não resolve nada: como se rentabiliza o investimento feito nas redes agora suspensas? E quem paga a sua manutenção para manter a linha utilizável?
O que se está a passar em Espanha, e o que se passa em Portugal (com algumas SCUT) confirma que houve muitos investimentos mal pensados nos últimos dez anos: os troços do TGV suspensos seriam deficitários mesmo que Espanha não estivesse em recessão; assim como algumas obras que construímos por cá… O que leva a colocar duas questões: porque as construíram? Foi só porque acreditaram na bondade dos projectos? Se calhar devia ser a Justiça a fazer estas perguntas…
P.S. - Álvaro Santos Pereira precisa de aprender a resistir aos microfones que lhe põem à frente. E ter cuidado com o que diz aos parceiros sociais…
IN "JORNAL DE NEGÓCIOS"
29/06/11
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