Governo perigoso
Diminuir o governo foi uma boa decisão. Que a seguir venha outra mais difícil: terminar com as quadrilhas de boys
Ainda mal tinham surgido os nomes dos futuros ministros e, como é hábito, os jornais procuravam reacções à constituição do futuro governo. Não deixa de ser divertido ler os comentários dos vencidos nestas eleições, que começaram a disparar os disparates do costume. Ainda nem conhecíamos as caras de todos os ministros. "Este governo não augura nada de bom", "é um governo do aparelho", "é um grave sinal da política de direita", "é um governo de submissão aos interesses da troika e de cedência da independência nacional, com ele vão aumentar as tensões sociais".
Li algures um desses gurus exclamar sem corar que "era um governo demasiado rápido". E aqui desisti de ler disparates. Não estou a ver o meu amigo Francisco José Viegas, pesadote e com o peito fortemente descaído, a atravessar a ponte 25 de Abril em passo de corrida, acompanhando a passada do primeiro-ministro cessante. A propósito, é de sublinhar que o PS foi o único partido que desejou felicidades ao novo governo. Quanto aos outros, quanto pior, melhor.
A crítica que surge é o sintoma da ausência de palavras dessa rapaziada que fala por falar. E tão pobres de coerência que só se explicam pelo autismo político de quem as produz. É claro que este governo não tem bons augúrios. Tem de cumprir um acordo internacional que, pelo menos, nos leva os anéis, se não levar um ou dois dedos na aflição da ameaça de bancarrota. E um governo com uma obrigação essencial, que Paulo Portas sublinhou: criar as condições para que o país não se exponha outra vez à situação vexatória de tornar a pedir auxílio internacional por causa da incompetência caseira. A incompetência irresponsável que em nome da falsa defesa de direitos acrescenta miséria à miséria, que sonha todos os dias com a rebelião dos fracos para que os poderosos fiquem mais poderosos, que despreza o Estado que os alimenta. Este governo tem uma qualidade. É constituído por gente jovem, que quer mostrar que sabe fazer e é tão capaz quanto os tradicionais, taciturnos e recorrentes candidatos a ministros que, desta vez, ficaram de fora.
Teve o mérito de provocar surpresa pelas novidades, precisamos que tenha mérito para nos salvar deste gravíssimo problema em que estamos envolvidos por nossa própria culpa. De todos, mesmo dos falsos inocentes. Diminuir o governo foi uma boa decisão. Que a seguir venha outra melhor e mais difícil: terminar com as verdadeiras quadrilhas de boys que alimentam a sua mediocridade nos milhares de lugares improdutivos que o Estado paga a peso de ouro. Se conseguir esta vitória contra o clientelismo e o caciquismo, temos governo.
IN "CORREIO DA MANHÃ"
19/06/11
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