O senhor
da casa de meninas
Quando a empresa ainda não tinha falido, ele chegava com estrangeiros que fechavam negócios enquanto passavam as mãos nas pernas de Sheila, que tinha um filho em Fortaleza, de Alessandra, que tinha mamas verdadeiras, de Margarete, que trabalhara num hospital em Manaus, ou de Nicoleta, cujo avô fora torturado pelos carrascos de Ceausescu. Ele tinha garrafa na casa e deslizava o cartão de crédito como quem barra manteiga numa carcaça.
Também tinha mulher e filhos e ninguém se atrevia a faltar aos jantares de família, porque conheciam o seu apego pelas tradições do clã, o cabrito na Páscoa, os churrascos na piscina, a voltinha pela cidade quando comprava um carro e o cheiro dos estofos por estrear o faziam tão feliz como os mimos de Alessandra ou a devassidão da língua de Nicoleta. Julgava que elas eram as suas namoradinhas, as afilhadas que precisavam de um senhor que as ajudasse.
Mas depois as contas não bateram certo, o fisco apareceu, os bancos foram atrás dele como os capangas das cobranças difíceis e, certa noite, pôde ver - de mãos entrelaçadas com Sheila - que a garrafa com o seu nome chegara ao fim. Há pouco tempo, voltou a visitar a casa como um velho que regressa à aldeia onde cresceu. Havia menos meninas. Ninguém o conhecia. Passa agora mais noites na moradia familiar (em nome de um primo), procurando o regaço da legítima esposa. Ela, que sempre soube das afilhadas, continuará ali. Tem esperança de ser, por fim, menos empregada do senhor da casa e mais mulher do seu marido.
IN "i"
20/04/11
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